terça-feira, 9 de março de 2010

A Viagem, de Saramago.


A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa.

Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”,
saiba que não era assim.

O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,

ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde,

o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.

É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.

José Saramago

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