O dia de hoje devia ser mais comemorado. Sete de janeiro de 1835 foi a data da explosão da revolta conhecida como Cabanagem, única, no Brasil, onde o povo realmente teve o poder nas mãos. Ao contrário, nome de rua é a 13 de maio, ali no Comércio, data de sua rendição. A data é importante para mim. Em 1985, 150 anos a revolta, o governo de Jáder Barbalho resolveu fazer uma comemoração digna. Alguns meses antes li a respeito e resolvi escrever uma peça. Já havia alguns anos desde Foi Boto, Sinhá, meu primeiro trabalho. Cacá Carvalho havia passado por aqui com Antunes e seu Macunaíma. Assisti várias vezes aquelas cenas lindas, com muita gente no palco. Também havia assistido Danton, o elogio da revolução, de um cineasta polonês Andrei Vajda, acho, com Gerard Depardieu. Havia lido muitas coisas sobre a Revolução Francesa. Estava, vamos dizer, empolgado com o assunto. Obtive com o Professor Clóvis Moraes Rego todo o material necessário para a pesquisa. Conversei muito com o poeta Rui Barata, que me visitava no escritório da Rádio Clube e adiante, na Rádio Cidade Morena. Ele me dizia para não tomar partido. Toda revolução dita sua própria moral, dizia. Meu amigo Rohan Lima resolveu produzir. Geraldo Sales e o Experiência. Têka Sallé para dança. Antonio Carlos Maranhão compôs uma valsa, linda, gravada no Rio de Janeiro por Fafá de Belém, especialmente. Conseguimos a boa vontade do Governador, através de Acyr Castro, então Secretário de Cultura e daí em diante, um empréstimo do Banpará, não lembro ao certo, talvez, de 80 mil cruzeiros, assinado pelo Dr. Hamilton Guedes. Ensaiamos por alguns meses no último andar de ensaios do Teatro da Paz. No penúltimo, Teka Sallé e seus bailarinos, incluindo Ronald Bergman. Estreamos no dia 7 de janeiro. Na manhã, o Governador inaugurou o monumento de Niemeyer homenageando os cabanos. O que não esperávamos, aconteceu na véspera. Domingo, praça da República lotada de foliões e blocos carnavalescos (sim, brincava-se carnaval desde o primeiro domingo de janeiro, nas praças, naquela época), recebo uma ligação. Nosso ator mais importante, que permeava todas as cenas fazendo comentários, Sidnei Pinon, havia se retirado do elenco, insatisfeito por não ter seu nome em destaque no cartaz da peça, onde preferimos colocar autores, diretores e patrocinadores. Havia uma solução. Edgar Castro, jovem ator, em outro papel, quase figuração, sabia o texto decorado. Alberto Silva, na época um garotinho, sempre presente, também sabia, mas ainda não era ator. Ensaiamos por muitas horas e estreamos. Banda de música na porta, autoridades, teatro lotado, espetáculo lento. Foi tudo bem. Após, Pascoale di Paolo, que estava prestes a lançar seu livro sobre o assunto, me entregou uma prova que guardo até hoje. Ficamos em cartaz por três meses no Teatro da Paz. Uma façanha. Não consigo lembrar o nome de todos. Grandes nomes. Henrique da Paz, Andréa Rezende, Sonhão, Paulo Fonseca, Rui Cabocão, Cleodom Gondim, o rapaz que fez Angelim que agora não lembro o nome. Tanta gente linda. Gosto do texto até hoje. Quando Edmilson foi prefeito, ouvi alguns comentários querendo remontar, mas foi apenas papo de mesa de bar. Hoje, 7 de janeiro, lembrei dos Cabanos. Ah, mais importante, para verem como estávamos engatinhando no que diz respeito a patrocínio cultural: ao final de três meses, devolvemos 80 mil cruzeiros que o Banpará nos havia emprestado. Isso mesmo.
O rapaz que interpretou Angelim chamava-se Oscar Reis e foi um dos maiores talentos do teatro paraense. Faz alguns anos que passou para o outro lado da vida...
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