quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

PARTIDO DOS TRABALHADORES: LIDERANÇAS QUESTIONAM O INTERNISMO

O SILENCIO DOS INOCENTES

Por: Claudio Arroyo

A medida em que as manifestações sobre o debate avaliativo sobre o PT no Pará, avança, crescem também as ressalvas que fazem em torno de um debate amplo, aberto e transparente.

A principal argumentação é a de que nenhum outro partido abre suas avaliações porque “o segredo é a alma do negócio”. Logo se só o PT se expor à sociedade, ficará fragilizado. Mas, que “segredo”?, de que “negócio” estão falando? Da política? Mas não deveria ser a política a arte do interesse público?

Um dia eu também acreditei nisso, que não poderíamos abrir o debate crítico sobre nossa prática política à sociedade porque a burguesia e suas elites poderiam aproveitar e fazer luta política para nos derrotar.

1) Derrotar a nós quem, cara pálida? Porque a prática política majoritária hoje não representa o partido no qual me filiei e pretendo continuar construindo, é só ver o que está escrito em nossos documentos de fundação e comparar com que é feito hoje. Além disso, as recentes derrotas que o PT vem colecionando não são obra dos adversários mais do que das atitudes que passamos admitir entre nós.

2) O internismo do debate sempre serviu para silenciar os militantes “pequenos” porque os “graúdos” sempre manifestaram abertamente suas posições ao seu bel prazer e interesses, nem sempre confessáveis. Isto porque sabem que, na verdade, a disputa interna é subordinada pela disputa na sociedade.

3) Estrategicamente, como gramisciano, entendo que as instituições fluem e se modificam a mercê das dinâmicas da sociedade, portanto a tendência “de dentro” é sempre a de conservar a cultura estabelecida e o status quo, exatamente no que pretendemos abalar na instituição PT. Ou seja, se pretendemos mudanças internas elas virão de fora, da sociedade. Enquanto agir como hoje age, parte importante do PT, render mais votos que a conduta ética e coerente ideologicamente com o programa do partido, internamente continuaremos também com a hegemonia daqueles.

4) Como republicano, do ponto de vista político, entendo que toda política deve ser pública para ser boa política. O debate público sobre os rumos do PT vai enfraquecer os que baixam o nível com a “fulanização” para pressionar, não para mudar as coisas, mas apenas para barganhar mais espaços na mesma lógica dada hoje. Tivemos vários momentos de debate público, inclusive com “fulanização” e tudo mais, como no início do governo Edmilson e, a nível nacional, com o Mensalão, sem que mergulhássemos em derrotas sucessivas. Ao contrário, foi exatamente a demonstração de vitalidade, dado pelo debate aberto, que nos recuperou diante da sociedade.

5) Não acho que fazer o “debate público” possa se confundir com ingenuidade. Ingenuidade é não perceber que por trás da suposta idéia de “proteger o Partido”, segundo os que defendem o internismo, está a proteção de seus próprios interesses e status.

6) Acho enfim que fazer o debate publicamente, nos termos em que nos manifestamos, contribui para a construção de uma nova cultura política na sociedade, a da Transparência. E, além disso, reforça o PT que queremos construir, aberto ao Controle Social, capaz de refletir com responsabilidade seus equívocos e, com isso, capaz de se recriar dialeticamente renovando permanentemente seus laços com a sociedade

2 comentários:

  1. Excelente posicionamento do Prof. Claudio Arroyo. Temos visto lido várias análises, algumas com a finalidade de, única e exclusivamente, colocar culpa em companheiros do PT. Na realidade a análise politica passa longe, e não contribui para o fortalecimento do PT, ao contrário, busca a divisão, aliando-se a direita, nesse processo de envenenamento das mentes, repisando o que a imprensa comprometida (PIG tupiniquim)fez e continua fazendo, para o enfraquecimento do nosso partido. Hoje, mais que nunca, é preciso retormar as discussões políticas, que valorizam o nosso partido, e abrindo para a sociedade o debate, que deve ser permanente, para evitar-se que as práticas fisiológicas, comum nos outros partidos,venham a se sobrepor sobre a ética que deve guiar as atividades dos parlamentares, os condutores de cargos públicos, etc.

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  2. Parabéns professor Arroyo.
    Esse "dedo na ferida" faz sair o sangue podre contido no silencio absurdo por parte de quem deveria honra seu cargo e estimular e produzir o bom debate interno.Na ausência, este torna-se público,saudável e ajuda,também, á desmistifica a posição de gente que se sente confortável em não ter que confrontar suas idéias com a sociedade e a militância que o elegeu.

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