quarta-feira, 25 de maio de 2011

ASSASSINATO DE MAIS UM DEFENSOR DA FLORESTA AMAZÔNICA


"Bala na cabeça"
“Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Porque eu vou para cima, eu denuncio os madeireiros, denuncio os carvoeiros e, por isso, eles acham que eu não posso existir.”
“A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci.”
“Me perguntam. Tem medo? Tenho. Mas o meu medo não me empata. Enquanto eu tiver força para andar, estarei denunciando aqueles que prejudicam a floresta.”
Belém (PA) - Seis meses depois de prever seu próprio assassinato, um líder defensor da floresta tropical foi alegadamente assassinado na Amazônia brasileira. José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo, teriam sido mortos em uma emboscada perto da casa deles, em Nova Ipixuna, estado do Pará, a cerca de 60 quilômetros de Marabá.
De acordo com um jornal Diário do Pará, o casal não tinha proteção policial apesar de receber frequentes ameaças de morte por causa de sua batalha contra madeireiros ilegais e fazendeiros.
Na terça-feira havia notícias conflitantes sobre se os assassinatos tinham acontecido na noite de segunda-feira ou na madrugada de terça. Um porta-voz da polícia disse ter relatos de um “homicídio duplo” num acampamento chamado de Maçaranduba 2.
Em discurso em um evento em Manaus, em novembro passado, Da Silva falou sobre o medo de que os madeireiros pudessem tentar silenciá-lo. “Eu poderia estar hoje falando com vocês e em um mês vocês terão notícias de que eu desapareci. Eu protegerei as florestas a qualquer custo. É por isso que eu poderia receber uma bala na cabeça a qualquer momento… porque eu denuncio os madeireiros e produtores de carvão e é por isso que eles pensam que eu não posso existir. As pessoas me perguntam, ‘você tem medo’? Sim, sou um ser humano, naturalmente que tenho medo. Mas meu medo não me silencia. Enquanto eu tiver força para andar eu vou denunciar todos aqueles que danificarem a floresta”.
Roberto Smeraldi, fundador e diretor do grupo ambientalista Amigos da Terra, que trabalhou com Da Silva na Amazônia, disse que estava em uma reunião com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, discutindo mudanças no código florestal, quando a notícia da morte de Da Silva surgiu. “Ele estava convencido de que seria morto”, Smeraldi disse. Ele acrescentou que Da Silva tinha sido “muito ativo” na luta contra a derrubada e queimada ilegais da floresta. De acordo com notícias da mídia brasileira, Rousseff pediu ao chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, para dar apoio a uma investigação sobre o assassinato.
“Temos outro Chico Mendes”, disse Felipe Milanez, um jornalista ambiental de São Paulo, referindo-se ao seringueiro da Amazônia que se tornou mártir ambiental depois de seu assassinato em 1988. Milanez disse que em uma recente conversa telefônica com a esposa de Da Silva ela disse que a situação “estava ficando muito feia”. Milanez acrescentou: “Ele sabia que as ameaças eram reais. Ele estava com medo”.
Um relatório de grupos de direitos humanos brasileiros em 2008 listou Da Silva entre as dezenas de ativistas ambientais e de direitos humanos da Amazônia “considerados sob risco” de assassinato. 

 Fonte: Tom Phillips,  
 jornal britânico Guardian

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