segunda-feira, 11 de julho de 2011

CARTA VERDE AOS BRASILEIROS

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Alon Feuerwerker*

Marina Silva concluiu o ciclo dela no PV em situação de claro isolamento. Saiu do partido levando com ela um punhado de fiéis. Os detentores de mandato preferiram a cautela, pois caso deixem a sigla ficam sujeitos a perder a cadeira.
No fim das contas a máquina do PV prevaleceu.

É injusto com a ex-ministra e ex-senadora acusá-la de ter pretendido adonar-se do partido. Pediu apenas regras democráticas para a eleição de dirigentes e escolha de eventuais candidatos.

Era um pedido prudente, dada a possibilidade sempre real de os donos do cartório usarem o potencial eleitoral de Marina para, no fim da trilha, negociarem a cabeça dela e entregarem o troféu numa bandeja para o governo, ou mesmo para o PSDB.

Nas nossas regras quem deseja ser candidato precisa estar filiado ao partido um ano antes. Assim, o PV teria a opção de vender ao governo ou aos tucanos a degola de Marina, e ela não teria a opção de reagir a posteriori.

O sistema partidário brasileiro transformou-se nisto: uma federação de máquinas, abastecidas por dinheiro público e dominadas por caciques incontestáveis, um oligopólio paraestatal.

É impensável o sujeito entrar num partido para disputar, para colocar a possibilidade de uma alternativa. Será expelido antes de esboçar o primeiro passo.

Assim, Marina, que tem seu legítimo projeto, precisou sair.

A nova trajetória dela carrega belas possibilidades e pelo menos uma fraqueza estrutural. As possibilidades vêm do espírito do tempo. O ambientalismo ocupa neste início de século 21 o espaço dogmático, é quase uma nova religião.

Na prática, Marina nem precisa se preocupar em fazer a apologia dela própria, o mundo já cumpre esse papel.

Se Luiz Inácio Lula da Silva preencheu no final do século 20 o locus do promotor da justiça social, Marina ocupa o lugar da portadora da utopia do momento. A verde.

Os operadores hegemônicos das ideias trabalham para ela, na prática.

A fraqueza estrutural, até agora, é Marina sistematicamente encontrar dificuldades intransponíveis quando procura materializar uma aliança social que a apoie estrategicamente.

Marina tem com ela as simpatias difusas, mas lhe falta articulação.

Faltou-lhe quando no governo. A proposta dela, de uma transversalidade que amarrasse horizontalmente as políticas públicas, acabou batendo de frente com o então desenvolvimentismo da mãe do PAC.

Faltou-lhe na campanha eleitoral, quando não quis -ou não foi capaz- de usar no segundo turno o capital político acumulado no primeiro.

E faltou-lhe agora, quando abriu a batalha contra os donos do PV e perdeu.

O marinismo pode argumentar, e haverá alguma lógica nisso, que até agora Marina sempre esteve constrangida por pertencer a arcabouços políticos sobre os quais não tinha efetiva liderança.

No governo do PT a que ela serviu, quem mandava eram o PT, Lula e, depois, Dilma. No PV, como se viu, os donos estavam bem estabelecidos.

A dúvida é sobre a campanha eleitoral. O “se” na História não tem muito valor, mas é possível que mais protagonismo no segundo turno tivesse reforçado o papel de Marina no cenário político, e no próprio PV.

Mas por que Marina sistematicamente bate na trave quando se coloca o desafio da articulação? Talvez por uma razão política.

O único momento recente em que Marina conseguiu deixar o cercadinho do fundamentalismo ambientalista foi na reta final do primeiro turno presidencial, quando recolheu um amálgama de votos conservadores e votos ansiosos por uma política mais limpa.

Antes e depois, aceitou ser empurrada para o cercadinho da política verde.

Que recolhe simpatia difusa, mas encontra uma barreira quando precisa responder aos desafios da vida prática. Quando precisa transformar o rejeicionismo em alternativas viáveis para o andamento da civilização.

Talvez Marina Silva esteja precisando publicar uma Carta Verde aos
Brasileiros.

*Alon Feuerwerker é colunista do Estado de Minas

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