quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A HERANÇA MALDITA DE PÉTAIN E MUSSOLINI

O governo do presidente direitista francês Nicholas Sarkozy iniciou a deportação de 800 ciganos da etnia rom residentes na França para a Romênia e a Bulgária - países membros da União Europeia desde janeiro de 2007. Antes, Sakorzy já ordenara ao Ministério do Interior a destruição e o esvaziamento da metade das instalações nas quais vivem os ciganos no país. Em 2009, dez mil romenos e búlgaros que estavam na França foram devolvidos a seus países. Hoje vivem na França 400 mil ciganos, 95% dos quais são franceses; na Europa, são 12 milhões desse povo nômade cuja cultura fascinante foi fonte de inspiração para grandes compositores como Lizst, Brahmas e Bela Bartók.
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(Brahms, Dança Húngara nº 5, Stiletto Sisters)
http://www.youtube.com/watch?v=nzWcPNf-jEo


"Embora europeus – com direito de ir e vir na União Europeia – os ciganos são indesejáveis no país que aprovou, há 221 anos, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", escreveu o jornalista Mauro Santayana. "Este é um dos paradoxos da globalização: retorna-se ao livre trânsito para os capitais e as mercadorias, mas se fecha o passo às pessoas. Os ciganos são um povo nômade, sem pátria, com forte cultura própria – e sem dinheiro [...]"  Os expulsos da França são cidadãos europeus de pleno direito, mas, como na distopia orwelliana de 1984, alguns cidadãos têm mais direitos que outros. 

Segundo uma pesquisa publicada pelo jornal conservador Le Figaro, 79% dos pesquisados se declaram a favor do desmantelamento dos povoados de ciganos. Entre o eleitorado de direita, a porcentagem sobe para 94%. Em outra pesquisa, esta publicada pelo jornal comunista L'Humanité, 62% consideram necessários os desmantelamentos e 57% estão de acordo com as medidas relativas à cidadania. E o jornal Le Parisien revela que 48% dos franceses apoiam a deportação e 42% se opõem a ela.

Pétain: "não sereis vendidos, traídos ou abandonados"
Apoiadas pela maioria, as medidas discriminatórias do governo Sarkozy remetem inevitavelmente ao passado colaboracionista da França. O governo de Vichy (1940-1942), dirigido pelo marechal Philippe Pétain, deportou milhares de judeus, ciganos, homossexuais e membros da resistência aos campos de extermínio nazistas. Pouquíssimos sobreviveram. A esquerda comparou as medidas adotadas por Sarkozy às práticas do regime de Vichy. Até mesmo entre a direita a expulsão dos ciganos causou espécie. O ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin, que deve concorrer à presidência contra Sarkozy em 2012, disse que as medidas eram “uma mancha de vergonha na bandeira francesa”. A expulsão também foi duramente criticada pela Igreja Católica, destacando-se o cardeal-arcebispo de Paris, André Vingt-Trois. Já o ministro do Exterior, Bernard Kouchner, ex-militante do PCF, fundador do Médicos Sem Fronteiras e antigo defensor dos direitos humanos, manifestou apoio à expulsão, ainda que "constrangido".   

Nicholas Sarkozy em cartaz que o compara a Pétain
Sarkozy sempre defendeu medidas duras no combate ao crime e à imigração ilegal. Ele fala aos sentimentos profundamente xenófobos dos eleitores, roubando votos da Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen. No passado, Sarkozy, filho de um imigrante húngaro, equilibrava sua política linha-dura com discursos pseudo-progressistas, nos quais destacava a necessidade de dar voz aos muçulmanos franceses e de incluir negros no governo. Hoje, o presidente francês fala claramente em retirar suas nacionalidades.

Em compensação, Sarkozy teve o apoio do governo do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. O ministro do Interior, Roberto Maroni, do partido de direita Liga Norte, declarou ao Corriere della Sera que a França "não está fazendo nada além de imitar a Itália" em relação à deportação dos ciganos. O ministro se referira à determinação do ex-prefeito de Roma, Walter Veltroni - que aliás, tem origem na esquerda - que deportou ciganos a outros países europeus em 2007.

Berlusconi e o "Duce"
Progapanda da Liga Norte
Maroni defendeu ainda a possibilidade legal de expulsão de cidadãos de países da UE, a exemplo do que acontece com os imigrantes clandestinos, sem "repatriações assistidas e voluntárias". Segundo o ministro, o pré-requisito para a permanência em um país da UE é que o estrangeiro tenha uma renda mínima, residência adequada e não onere o sistema social do país onde vive. "Muitos ciganos da etnia rom são cidadãos da UE, mas não preenchem esses pré-requisitos", disse. Maroni declarou ainda que tais mecanismos de deportação dentro do bloco europeu deveriam ser aplicados "a todos os cidadãos da UE e não só aos ciganos da etnia rom". O partido de Maroni, a Liga Norte, foi aquele que distribuiu cartazes dizendo que os índios americanos não colocaram restrições à imigração e hoje vivem em reservas. A Liga também foi a responsável pela legalização das "milícias populares" formadas para o combater a imigração ilegal e a criminalidade. Qualquer semelhança com o "squadrismo" dos camisas negras fascistas é, claro, mera coincidência.   



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