segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PSB namora PSD mas, em Congresso, capricha na retórica socialista


XII Congresso do Partido Socialista Brasileiro abre com Internacional Socialista, neta de Allende, partido comunista de China e Cuba e partido dos trabalhadores da Coreia do Norte. Discursos apontam crise capitalista e pregam socialismo como um mundo mais justo. Para presidente do PSB, 'há tentativa de desqualificar política' que precisa ser contida. PSD manda representante.


BRASÍLIA – O Partido Socialista Brasileiro (PSB) reelege neste sábado (3) o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, potencial candidato a presidente em 2014, para outro mandato como dirigente máximo da legenda. A vitória do neto de uma das lideranças históricas do PSB e da esquerda brasileira, Miguel Arraes, se dará no XII Congresso Nacional do partido, cuja abertura, na noite desta sexta-feira (2), caprichou na retórica e no uso de símbolos caros à esquerda. Ainda que isso sirva mais para animar a militância do que para revirar o “sistema”.

A sessão oficial de abertura do Congresso, realizada em um auditório do Senado, começa com o hino brasileiro e, em seguida, a Internacional Socialista, ambos tocados pelo pianista Arthur Moreira Lima, que acaba de se filiar ao PSB.

Depois, o mestre de cerimônias, Carlos Siqueira, primeiro-secretário do partido, anuncia a presença de delegações do Partido Comunista da China, do Partido Comunista de Cuba e do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte. Por meio da embaixada chinesa, o comitê central do PC de lá envia uma mensagem que parabeniza o PSB, classifica-o como “importante força política” no Brasil e um parceiro “estratégico”.

Quando os discursos começam, a primeira a ocupar a tribuna é Maya Allende, neta do presidente do Chile Salvador Allende, vítima do golpista general Augusto Pinochet em 1973. “Vamos seguir lutando pelo socialismo por que tanto lutaram Miguel Arraes e Salvador Allende”, diz Maya, que termina o discurso presenteando o PSB com um cartaz com a figura do avô.

É do Uruguai o segundo orador, Fernando López D'Alessandro, membro do Partido Socialista de lá e da Coordenação Socialista Latinoamericana. Num discurso que talvez tenha se esticado demais para quem estava ali como convidado-coadjuvante, não como anfitrião-protagonista, D'Alessandro justifica a presença: “Temos muito em comum porque somos internacionalistas e democratas.”

A primeira fala em português coube ao presidente do PT, Rui Falcão, escolhido para representar todos partidos amigos do PSB presentes ao encontro. Depois de uma sutil alfinetada na imprensa, que ele diz ser livre como nunca e que será ainda mais quando vier a temida – pela imprensa – democratização da mídia, Falcão também dá sua contribuição para alimentar sonhos de um mundo diferente.

Critica que a “banca” esteja no poder em países europeus – logo ela, que é culpada pela crise - e que houve o cancelamento de um plebiscito que ousaram sugerir na Grécia para saber o que afinal pensa o povo sobre certas soluções propostas para o endividamento do país. Destaca o fato de que praticamente toda América do Sul está protegida de alguma forma, pois segue “outro caminho”. E decreta: “A crise está colocando em risco a paz. Ainda bem que o PSB tem como símbolo a pomba branca da paz.”
Mandela e Lula
No XII Congresso, os socialistas adotam um símbolo especial que tem tudo a ver com a paz de que fala Falcão, o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela. Eleito depois de 28 anos preso e tendo feito um governo de união nacional, que não foi à forra, Mandela é um dos homenageados do encontro.

Em um vídeo exibido sobre Mandela e o outro homenageado, Jamil Haddad, ainda hoje presidente de honra do PSB mesmo depois de morto em 2009, o primeiro vice-presidente do partido, Roberto Amaral, dá uma declaração útil para resumir o espírito geral. “Somos socialistas por uma questão ética, não é porque somos mais eficientes do que o capitalismo. É inaceitável a exploração do homem pelo homem.”

Na mesma linha, manifesta-se o presidente da República em exercício, Marco Maia, que preside a Câmara dos Deputados mas teve de assumir o cargo máximo já que Dilma Rousseff e o vice dela, Michel Temer, estão no exterior. “O ideal socialista deve continuar concosco na busca de um mundo mais justo e igualitário”, afirma.

E enfim chega a hora de Eduardo Campos. O neto de Arraes, o presidenciável do PSB, dirige-se quase o tempo todo aos sonhos dos militantes socialistas. Ainda que, no mesmo palco, a algumas cadeiras, sente-se Hugo Napoleão, ex-senador do DEM e hoje no PSD de Gilberto Kassab, a mostrar que a realidade impõe limites aos sonhos.

“O mundo passa pela maior crise do capitalismo da sua história. Dois blocos muito importantes para o Brasil, Estados Unidos e Europa, derretem numa crise sem precedentes”, diz o governador. E aponta o culpado, a ausência de ética de que tanto reclamam no Brasil, mas de um outro tipo: “a ausência de ética do sistema financeiro”.

Segundo ele, o PSB é e continuará sendo aliado de Dilma. Não por motivação eleitoral, mas política. Porque, diz Campos, é o projeto Lula-Dilma, iniciado há nove anos, que hoje permite ao Brasil encarar as turbulências externas que afligem o mundo rico. E puxa aplausos ao metalúrgico. “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, responde a platéia.

Para o governador, “há uma grande tentativa de desqualificar a política” no país, e a esquerda democrática precisa lutar contra isso, se esforçar para que as pessoas queiram fazer política, em vez de se afastar dela. Pois, sem o povo, a política terá só os que dela querem tirar proveito. “Toda vez que o Brasil se encantou com a política, fez gol.”

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