sábado, 21 de janeiro de 2012

APARTHEID: ESCOLHA O SEU



Os "civilizados" EUA nos anos 1960

Durante o regime de apartheid, na África do Sul, o racismo oficial separava a comunidade branca, minoritária, da maioria negra, sob o argumento bíblico da “necessidade de desenvolvimento separado das raças”. Essa discriminação foi copiada dos Estados Unidos, onde os negros eram minoria e, desde o final da Guerra de Secessão (1865), vigorava uma discriminação racial oficial nos estados sulistas. Ônibus, banheiros e escolas públicas eram divididos em “white only” e “blacks only”. Quando o governo federal mandou tropas para garantir a integração racial nos transportes públicos e nas escolas, nos anos 1960, houve revolta dos brancos racistas. Desde então, os negros americanos conquistaram direitos, ampliaram sua participação na sociedade e até elegeram um presidente negro, mas o racismo nunca deixou de existir, como mostra a historinha reproduzida abaixo. No Brasil, país da “discriminação cordial”, não-assumida, o racismo é considerado crime
inafiançável pela Constituição Cidadã de 1988. Mas aqui a discriminação continua a se manifestar de maneira insidiosa, e até com cabeças bem pensantes dizendo que o que existe é “preconceito social”. O maior desmentido à tese do Ali Kamel de que “não somos racistas” é o cotidiano da maioria da população negra, oprimida nas fábricas, ruas e favelas e discriminada mesmo quando não é pobre. Duas historinhas recentes do nosso “racismo cordial”; e uma outra terceira, mais dramática, porque menos divulgada e muito mais freqüente.


Placa proibe negros de usar piscina nos Estados Unidos
Placa foi colocada no parque porque uma menina negra costumava nadar na piscina


E hoje, mesmo depois de eleger um presidente negro...
 Uma locadora de apartamentos de Cincinnati, nos EUA, foi preconceituosa ao colocar uma placa na piscina do condomínio dizendo "Apenas brancos", informou uma comissão de direitos civis de Ohio.

A mulher, Jamie Hein, afirmou que a placa de ferro com a inscrição foi colocada no local porque uma menina negra que costumava nadar na piscina pública usava produtos no cabelo que deixavam a água turva.

Mesmo com a decisão unânime da comissão, Hein ainda pode fazer um acordo com os advogados da família da menina antes que o caso vá para a Justiça.



A família da menina se mudou do condomínio depois de se chocar com a presença da placa em setembro do ano passado, e registrou o ato de preconceito na comissão de direitos civis. Só agora, no entanto, a comissão chegou a uma decisão após verificar a veracidade do ocorrido.

O pai da menina, Michael Gunn, descreveu a revolta que sentiu ao ver a placa na piscina e disse que, meses depois, ela ficou muito triste ao saber que o motivo da mudança de apartamento estava ligada à cor da pele da família.

Hein disse à comissão que recebeu a placa de um amigo. Um dos diretores da comissão afirmou que se trata de uma antiguidade. As inscrições "Selma, Ala." e "14July31" podem ser vistas na placa, em referência a uma cidade no estado de Alabama e à provável data em que o sinal foi feito, 14 de julho de 1931.

____________________________________________________


Estagiária negra é forçada a alisar cabelo para preservar 'boa aparência'
'O padrão daqui é cabelo liso'. disse a patroa

A estagiária Ester Elisa da Silva Cesário acusa seus superiores de perseguição e racismo. Conforme Boletim de Ocorrência registrado no dia 24 de novembro, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo, ela teria sido forçada a alisar o cabelo para manter a "boa aparência". A diretora do Colégio Internacional Anhembi Morumbi ainda teria prometido comprar camisas mais cumpridas para que a funcionária escondesse os quadris.

Ester Elisa da Silva Cesário

Ester conta que foi contratada no dia 1º de novembro de 2011, para atuar no setor de marketing e monitorar visitas de pais interessados em matricular seus filhos no colégio, localizado no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo. A estagiária afirma ter sido convocada para uma conversa na sala da diretora, identificada como professora Dea de Oliveira. Nos dias anteriores, sempre alguém mandava recado para que prendesse o cabelo e evitasse circular pelos corredores.

"Ela disse: 'como você pode representar o colégio com esse cabelo crespo? O padrão daqui é cabelo liso'. Então, ela começou a falar que o cabelo dela era ruim, igual o meu, que era armado, igual o meu, e ela teve que alisar para manter o padrão da escola."


Além das advertências, Ester afirma ter sofrido ameaças depois de revelar o conteúdo da conversa aos demais funcionários do colégio. Eles teriam demonstrado solidariedade ao perceber que a estagiaria estava em prantos no banheiro.


"Depois disso, eu me vesti para ir embora e, quando estava saindo, ela me parou na porta e disse: 'cuidado com o que você fala por aí porque eu tenho vinte anos aqui no colégio e você está começando agora. A vida é muito difícil, você ainda vai ouvir muitas coisas ruins e vai ter que aguentar'."

Colégio se defende
Após contato da reportagem, um funcionário indicado pela Direção do Anhembi Morumbi informou que a instituição não recebeu nenhuma notificação sobre o registro do Boletim de Ocorrência. Ele negou a existência de preconceito e se limitou a dizer que "o colégio zela pela sua imagem e, ao pregar a 'boa aparência', se refere ao uso de uniformes e cabelo preso".

A advogada trabalhista Carmen Dora de Freitas Ferreira, que ministra cursos no Geledés – Instituto da Mulher Negra – assegura que a expressão "boa aparência" é usada frequentemente para disfarçar preconceitos.



"Não está escrito isso, mas quando eles dizem 'boa aparência', automaticamente estão excluindo negros, afrodescendentes e indígenas. O padrão é mulher loira, alta, magra, olhos claros. É isso que querem dizer com 'boa aparência'. E excluir do mercado de trabalho por esse requisito é muito doloroso, afronta a Lei, afronta a Constituição e afronta os direitos humanos."

Métodos conhecidos


De acordo com o depoimento da estagiária, as ofensas se deram em um local reservado. A advogada explica que essa prática é comum no ambiente de trabalho, além de ser sempre premeditada.


"O assediador sempre espera o momento em que a vítima está sozinha para não deixar testemunhas, mas as marcas são profundas. O preconceito é tão danoso, que ele nega direitos fundamentais, exclui, coloca estigmas, e a pessoa se sente humilhada, violentada. Quando o assediador percebe a extensão do dano, ele tenta minimizar, dizendo 'não foi bem assim, você me interpretou errado, eu não sou discriminador, na minha família, a minha avó era negra'."


Ester ainda afirma que teria sido pressionada a deixar o trabalho, ao relatar o ocorrido a uma conselheira do Colégio. Como decidiu permanecer, passou a ser vigiada constantemente por colegas.


"Eu estou lá e consegui passar numa entrevista porque sou qualificada para o cargo, mas ela não viu isso. Ela quis me afrontar e conseguiu abalar as minhas estruturas emocionais a ponto de eu me sentir um lixo e ficar dois dias trancada dentro de casa sem comer e sem beber. Você pensa em suicídio, se vê feia, se sente um monstro."

Sequelas e legislação
Ester revela que as situações vividas no trabalho mexeram com sua auto-estima e também provocaram grande impacto nos estudos e no convívio social.

"Desde que isso aconteceu, eu não consigo mais soltar o cabelo. Quando estou na presença dela eu me sinto inferior, fico com vergonha, constrangida, de cabeça baixa. É a única reação que eu tenho pela afronta e falta de respeito em relação a mim e à minha cor."


O Boletim de Ocorrência foi registrado como prática de "preconceito de raça ou de cor". A Lei Estadual nº 14.187/10 prevê punição a "todo ato discriminatório por motivo de raça ou cor praticado no Estado por qualquer pessoa, jurídica ou física". Se comprovado o crime, os infratores estarão sujeitos a multas e à cassação da licença estadual para funcionamento.

De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo, com Geledés



__________________________________________________

Garoto negro é expulso de restaurante por ser confundido como mendigo


Texto de Mário Sérgio em Luis Nassif Online



Com a arrogância típica de ignorantes, o gerente admitiu que teria sido ele mesmo o autor de tal atitude racista



Protesto em frente ao restaurante Nonno Paolo

Neste final de ano pude testemunhar e viver a vergonha dessa praga do rascismo aqui em nossa multicultural São Paulo. E com pessoas próximas e queridas. Não dá para ficar calado e deixar apenas o inquérito policial que abrimos tomar conta dos desdobramentos desse episódio lamentável e sórdido.


Na sexta feira, 30, nossos primos, espanhóis, e seu pequeno filho de 6 anos foram a um restaurante, no bairro Paraíso (ironia?) para almoçar. O garoto quis esperar na mesa, sentado, enquanto os pais faziam os pratos no buffet, a alguns metros de distância. A mãe, entre uma colherada e outra, olhava para o pequeno que esperava na mesa. De repente, ao olhar de novo, o menino não mais estava lá. Tinha sumido.


Preocupada, deixou tudo e passou a procurá-lo ao redor. Ao perguntar aos outros frequentadores, soube que o menino havia sido retirado do restaurante por um funcionário de lá. Desesperada, foi para a rua e encontrou-o encolhido e chorando num canto. Perguntado (em catalão, sua língua) disse que "o senhor pegou-me pelo braço e me jogou aqui fora".


O casal e a criança voltaram para o apartamento de minha sogra e contaram o ocorrido. Minha sogra que é freguesa do restaurante, revoltada, voltou com eles para lá. Depois de tergiversações, tentativas de uma funcinária em pôr panos quentes, enfim o tal sujeito (gerente?) identificou-se e com a arrogância típica de ignorantes, disse que teria sido ele mesmo a cometer o descalabro. Mas era um engano, mas plenamente justificável porque crianças pedintes da feira costumavam pedir coisas lá e incomodar. E que ele era bom e até os alimentava de vez em quando. Nem sequer pediu desculpas terminando por dizer que se eles quisessem se queixar que fossem à delegacia.

Minha sogra ligou-me e, de fato, fomos à delegacia do bairro e fizemos boletim de ocorrência. O atendimento da delegada de plantão foi digno e correto. Lavrou o BO e abriu inquérito. Terminou pedindo desculpas e que meus primos não levem uma impressão ruim do Brasil.

Em tempo: o filho de 6 anos é negro. Em um e-mail (ainda não respondido pelo restaurante Nonno Paolo) pergunto qual teria sido a atitude se o menino fosse um loirinho de olhos azuis.

________________________________________

A longa prisão sem provas de Michel, negro e pobre

Do Blog do Paulo Moreira Leite


Num país que adora proclamar sua democracia racial, as autoridades deveriam ser treinadas para manter as aparências, pelo menos. Em outubro do ano passado, o agente de saúde Michel Silveira, 26 anos, foi levado à delegacia sob acusação de ter participado de um roubo a mão armada.
A única prova era a denúncia de uma das vítimas, que garante ter reconhecido o agente de saúde três dias depois do assalto.

Os negros são maioria nas prisões brasileiras. Logo..,

O problema: câmeras de vídeo do local de trabalho de Michel mostram que ele estava no serviço na hora do crime. Colegas também garantem que um pouco mais tarde, estavam a seu lado. Mesmo assim, Michel ficou três meses na cadeia. Sem prova, sem um indício além de um reconhecimento feito na rua, por uma vítima. Três meses não são três horas nem três dias nem três semanas. Tem gente que tem emprego que dura três. Ou que faz um cursinho de três meses e depois presta vestibular. Michel passou o Natal e as festas longe da família. Por duas vezes amigos e parentes apresentaram recurso para liberá-lo.

Nada. A soltura só foi definida quando se apresentou um terceiro recurso. Racismo é isso. O sujeito está empregado, tem documentos, aponta testemunhas e pode até mostrar um vídeo — se a polícia tiver interesse em assisti-lo. Mas outra pessoa não enxerga nada disso. Só vê a cor da pele, aquilo que muita gente chama de raça. E aí define uma opinião e uma atitude.


Nenhum comentário:

Postar um comentário