quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ELEGIA PARA UM POETA ESQUECIDO


 Heinrich Heine 
(1797-1856), conhecido como o último dos poetas românticos alemães, teve sua poesia musicada por gigantes como Schumann, Schubert, Mendelssohn, Brahms e Wagner. Heine exilou-se voluntariamente na França em 1831, onde se identificou com as ideias dos socialistas utópicos. Crítico mordaz da religião, cunhou a expressão "a religião é o ópio do povo", posteriormente popularizada por Karl Marx. Sua mais conhecida profecia, de 1821, antecipou, mais de um século antes, a tragédia da Alemanha sob o III Reich: "Foi só o prelúdio: onde queimam livros, no final também hão de queimar homens". Aqui, uma pequena coletânea de escritos e poesias, reunidos do livro Heine, hein? Poeta dos contrários, traduzido e comentado por Andrés Vallias.
Em primeiro lugar, a ironia contra as religiões:

Despedida
Larga as parábolas sagradas,
Deixa as hipóteses devotas,
E põe-te em busca das respostas
Para as questões mais complicadas.

Por que se arrasta miserável 
O justo carregando a cruz,
Enquanto, impune, em seu cavalo,

Desfila o ímpio de arcabuz?

De quem é a culpa? Jeová
Talvez não seja assim tão forte?
Ou será Ele o responsável
Por todo nosso azar e sorte?

E perguntamos o porquê,
Até que súbito - afinal - 
Nos calam com a pá de cal -
Isto é resposta que se dê?"


"No momento em que uma religião requer ajuda da filosofia, seu declínio é inevitável. Ela busca defender-se e vai tagarelando cada vez mais fundo na ruína. A religião, como todo absolutismo, não deve se justificar. Prometeu é acorrentado no rochedo por uma violência calada".

Depois, Heine fustiga a torre de marfim dos grandes filósofos alemães:

O filósofo F. W. Hegel

"Grandes filósofos alemães, que por acaso lancem o olhar sobre estas folhas, irão dar de ombros elegantemente acerca da forma miserável de tudo o que dou a público aqui. Mas queiram eles levar em conta que o pouco que digo é completamente claro e inteligível, enquanto que suas obras, ainda que tão fundamentadas, incomensuravelmente fundamentadas, tão profundas, estupendamente profundas, são incompreensíveis. Do que vale ao povo o celeiro para o qual não tem a chave? O povo está faminto de saber, e agradece um pedacinho de pão do espírito que partilho com ele honestamente."


Maximilien Robespierre

Já aqui, o poeta desdenha os revolucionários puritamos que cultuam a virtude e ignoram o caráter subversivo e pagão da Revolução:   

"Não lutamos pelos direitos humanos do povo, mas pelos direitos humanos dos homens. Nisso, e ainda em algumas outras coisas, nos distinguimos dos homens da Revolução. Não queremos ser sans-culottes, cidadãos frugais, presidentes baratos: nós promovemos uma democracia de deuses em igualdade de magnificiência, santidade e alegria. Reivindicais trajes simples, costumes abnegados e prazeres sem tempero; nós, pelo contrário, reivindicamos o néctar e ambrosia, mantos púrpuras, perfumes caros, volúpia e esplendor, dança sorridente e ninfas, música e comédias." 

E, finalmente, outra "profecia" sombria de Heine sobre o futuro da Alemanha:

"O pensamento vai à frente da ação, como o raio do trovão. O trovão alemão é sem dúvida alemão e não muito ágil, e vem se formando devagar; mas ele virá, e quando vós o escutardes troar, como nunca antes troou na história do mundo, sabereis então que ele finalmente atingiu o seu alvo. [...] Um drama há de ser encenado na Alemanha que fará a Revolução Francesa parecer um idílio inofensivo." 



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