segunda-feira, 30 de abril de 2012

Antonio Gramsci: 75 anos de sua morte

Há exatamente 75 anos atrás, em 27 de abril de 1937, morreu Antonio Gramsci, comunista italiano.



O mundo de Gramsci
Por Guido Liguori
As Cartas do cárcere provavelmente não têm nenhum rival, na literatura italiana do século XX, em termos de testemunho de desinteresse pessoal, senso de dever, concepção alta da "missão do douto" e do político. É conhecido o trecho de uma carta à mãe em 10 de maio de 1928: "A vida é assim, muito dura, e os filhos devem às vezes trazer grandes sofrimentos para suas mães, se querem conservar sua honra e sua dignidade de homens. [...] no fundo, eu mesmo quis a prisão e a condenação [...] porque nunca quis mudar minhas opiniões, pelas quais estaria disposto a dar a vida e não só a ficar na prisão".


O mundo dos afetos familiares, mesmo sendo tão importante para Gramsci no cárcere, é posto em segundo plano; tem um limite insuperável no fato de que existe um dever superior, que se refere à esfera da ética pública. "O mundo grande e terrível, e complicado" - como várias vezes o define Gramsci - pode colocar um filho na condição de sequer dar esperança à própria mãe. Gramsci sabe que está doente; sabe que o cárcere pode ser (e de fato será) fatal para si; sabe que bastaria um pedido de clemência ao chefe de Governo [Benito Mussolini] para sair, para poder se tratar, para salvar a vida; sabe que, provavelmente, este seu gesto poderia até ser recebido com indulgência e compreensão, precisamente porque não fazê-lo significaria uma condenação que nem o Tribunal Especial ousara impor-lhe; mas sabe que seu gesto, embora legítimo, embora previsto pelas normas vigentes, seria usado pelo inimigo e pela propaganda. Sua gente - derrotada, perseguida, presa - viria assim a saber que até ele, o líder, o máximo dirigente do partido no qual - certa ou erradamente - tantas esperanças tinham sido depositadas, até ele se rendera, até ele cedera, até ele vergara a cabeça diante do chefe de Governo, do líder dos inimigos. Por isto, Gramsci não fará e jamais há de querer fazer, jamais há de permitir que em seu nome se faça o pedido de clemência, como seus familiares repetidamente lhe pediram. Por isto, Gramsci foi assassinado pelo cárcere, quando teria podido se salvar: pelo seu senso de dever, pela dimensão ética intrínseca na sua escolha política.

FONTE: LIGUORI, Guido. Roteiros para Gramsci. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2007, p. 130 e 131.

Razão e paixão em Gramsci

Como poucos, Gramsci conseguiu entrelaçar razão e paixão, quer dizer, filosofia e política. Nele a relação dialética entre essas duas "virtudes", essenciais e inseparáveis na vida humana e social, resulta em uma intensa paixão política racionalmente conduzida e em uma profunda investigação teórica voltada para um revolucionário agir político.


Hoje, como nunca, a filosofia da práxis delineada por Gramsci guarda não só toda a sua vitalidade, mas se abre para novos e mais elevados desafios de transformação da realidade. Seu instrumento de análise e a revolucionária concepção de mundo que descortina tornam-se referenciais imprescindíveis na construção de uma nova civilização que exige embates cada vez mais difíceis e planetários diante dos quais ninguém pode considerar-se neutro e omisso.



FONTE: SEMERARO, Giovanni. Gramsci e os embates da filosofia da práxis. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006.



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