(JB) - A senhora Ângela Merkel, tenha disso consciência ou não, age de acordo com a velha arrogância prussiana, ao convidar François
Hollande a visitar Berlim, no próximo dia 16 – logo depois de
empossado. Foi quase uma convocação. Ela deixou claro, ao cumprimentar o
novo presidente, que podem falar de tudo, menos do essencial: da
“austeridade” orçamentária.
Austeridade, na visão germânica da política
européia, significa seguir o caminho percorrido até agora, com os bancos
recebendo bilhões e bilhões de euros, emitidos sem lastro, e os usando
para as especulações de seu interesse e para encalacrar ainda mais os
países meridionais. Os bancos receberam o dinheiro do Banco Central
Europeu a 1% ao ano e os repassam, ao estados em crise a juros de 6 a 9% ao ano. Um “spread” escorchante.
ELEIÇÕES NA FRANÇA: DEU TUDO ERRADO PARA ESSA DUPLA...? |
A senhora Merkel faz lembrar um de seus antecessores na Chancelaria do Reich, que convocou a Munique os primeiros ministros da França (Daladier), da Itália (Mussolini) e da Inglaterra (Chamberlain) a fim de lhes impor sua vontade, a de apoderar-se de grande parte do território tchecoslovaco.
O fantasma de Hitler está sob o portal de Brandenburgo.
portal de Brandenburgo |
A Europa será devolvida aos seus cidadãos, ou continuará dirigida e saqueada pelos banqueiros do Goldman Sachs e associados menores, que hoje exercem o poder de fato no continente, e disso retiram seu proveito.
ELEIÇÕES NA FRANÇA: ALGUMA COISA SAIU ERRADO PARA ESSE TRIO...?
Para os observadores desinformados e irônicos, o encontro – antes mesmo que Hollande se sinta em seu gabinete presidencial - poderá ser entendido como uma audiência para o recebimento de normas e instruções.
Atenas pode não ter a importância – e não tem – de Paris, mas é um símbolo do poder e da razão política bem mais antigo.
A derrota da coligação que se encontrava no governo (só se obtiveram as cadeiras no parlamento, pela legislação que lhe assegurou 50 vagas a mais do que os escrutínios), e a vitória da esquerda, eram esperadas.
Nikolaos Michaloliakos, o líder da "Aurora Dourada" |
Uma vez que a coligação que se encontrava no poder não conseguiu formar o novo governo, caberá à esquerda faze-lo, e nas próximas 48 horas. Espera-se que as lições européias dos anos 30 inspirem os democratas gregos, e que eles estabeleçam uma aliança de centro, capaz de vencer as pressões externas com habilidade, e reendereçar a economia do país mediante o fortalecimento do Estado e uma política de desenvolvimento social em busca do pleno emprego.
Hollande lembrou o new deal de Roosevelt em sua campanha. Foi bom que o fizesse. Há oito décadas, em 1932, diante de uma recessão que alguns consideram menor do que a de hoje, o Estado foi compelido, à esquerda e à direita, a intervir diretamente na economia.
Na Alemanha, a resposta foi a do nazismo, com a eleição de Hitler; na Itália, a do Instituto de Reconstrução Industrial - criado por Alberto Beneduce - que interveio fortemente nas atividades produtivas, política mantida depois da vitória aliada, até o neoliberalismo dos anos 80 e 90, que jogou a Europa na crise atual.
Roosevelt conseguiu impor o seu programa de recuperação industrial, ao encoleirar os banqueiros e intervir, sem vacilação, em todos os aspectos da economia e da cultura de seu país, levando-o à vitória na Segunda Guerra Mundial, que se celebra exatamente hoje. Hollande tem razão: projeto semelhante ao de Roosevelt pode salvar a Europa.
É preciso impedir que o atrevimento do novo nazismo atinja, de igual forma, a Itália, a Espanha e a Alemanha – como o de Hitler nos anos 30. A França de Hollande deve resistir ao Diktat alemão, o que a França de Pétain não foi capaz de fazer diante de Hitler.
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