Capa do livro Three Days In May, de Edward J. Epstein
Há cerca de um ano, a imprensa mundial foi dominada por notícias
sobre o caso de acusação de assalto sexual feita pela camareira
Nafissatou Diallo, do hotel Sofitel, em Nova York, contra um dos homens
mais poderosos do planeta. Dominique Strauss-Kahn, o prestigiado diretor
gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) estava prestes a
anunciar sua candidatura à presidência da França. Mas o caso DSK, como
ficou conhecido, foi, aos poucos, revelando ser mais complexo do que
parecia.
Cheio de ingredientes de grande apelo, como sexo, poder e política, o
caso despertou o interesse do célebre jornalista investigativo
americano, Edward Jay Epstein,
autor de livros polêmicos sobre o assassinato de John F. Kennedy, entre
outras obras, e constante farejador de notícias não reportadas pela
imprensa. O trabalho investigativo de Epstein resultou no livro Three Days in May (Três dias em maio, em tradução livre).
Edward Jay Epstein |
Terra - Por que o caso de acusação de assalto sexual e prisão de
Dominique Strauss-Kahn, em Nova York, no ano passado, despertou seu
interesse?
Epstein - O caso não despertou meu interesse quando ouvi as primeiras notícias, pois eu nem sabia bem quem Strauss-Kahn era. O jeito que a imprensa - o New York Times, por exemplo - deu a notícia parecia que era simplesmente um caso de um executivo poderoso ter molestado uma mulher.
Epstein - O caso não despertou meu interesse quando ouvi as primeiras notícias, pois eu nem sabia bem quem Strauss-Kahn era. O jeito que a imprensa - o New York Times, por exemplo - deu a notícia parecia que era simplesmente um caso de um executivo poderoso ter molestado uma mulher.
Terra - Então, por que o senhor resolveu investigar o caso, depois de saber mais?
Epstein - O que despertou minha suspeita é muito simples. Nosso mundo mudou, e smartphones, como o Blackberry, informam a posição global do usuário a cada segundo. Tenho um amigo que é proprietário da Blackberry Research in Motion (RIM) e, quando fiquei sabendo que o telefone de Strauss-Kahn havia desaparecido, achei que talvez eu conseguisse localizá-lo, o que renderia uma história interessante. Quando contatei meu amigo, descobri que o telefone de Strauss-Kahn nunca tinha saído da suíte do hotel. Além disso, o telefone havia sido desativado 25 minutos depois de Strauss-Kahn sair da suíte. Isso quer dizer que outra pessoa havia entrado no quarto e desativou o telefone dele. A partir disso, analisei toda a situação e conclui que esse era um caso que envolvia não apenas um crime, mas dois. Havia o roubo de um telefone e um suposto assalto sexual. Depois de um tempo, o suposto assalto sexual desapareceu, pois os promotores decidiram abandonar o caso.
Epstein - O que despertou minha suspeita é muito simples. Nosso mundo mudou, e smartphones, como o Blackberry, informam a posição global do usuário a cada segundo. Tenho um amigo que é proprietário da Blackberry Research in Motion (RIM) e, quando fiquei sabendo que o telefone de Strauss-Kahn havia desaparecido, achei que talvez eu conseguisse localizá-lo, o que renderia uma história interessante. Quando contatei meu amigo, descobri que o telefone de Strauss-Kahn nunca tinha saído da suíte do hotel. Além disso, o telefone havia sido desativado 25 minutos depois de Strauss-Kahn sair da suíte. Isso quer dizer que outra pessoa havia entrado no quarto e desativou o telefone dele. A partir disso, analisei toda a situação e conclui que esse era um caso que envolvia não apenas um crime, mas dois. Havia o roubo de um telefone e um suposto assalto sexual. Depois de um tempo, o suposto assalto sexual desapareceu, pois os promotores decidiram abandonar o caso.
Terra - Na sua opinião, o ex-diretor gerente do FMI foi tratado de
forma injusta em Nova York como consequência das acusações feitas pela
camareira, Nafissatou Diallo?
Epstein - Falei com os promotores e eles me disseram que a suposta vítima Nafissatou Diallo tinha mentido para o grande júri. As pessoas podem mentir e ainda assim ser vítimas, é claro. Strauss-Kahn foi pronunciado réu com base no testemunho de uma única testemunha, e essa testemunha era a única prova que o grande júri tinha de um possível assalto, nada mais provava que isso tinha ocorrido. Conforme mais veio à tona, se descobriu que a testemunha não era uma pessoa que tinha um compromisso com a verdade e, possivelmente, havia cometido perjúrio (falso testemunho). Sem dúvida, houve uma má execução da Justiça. Ninguém deve ser posto na cadeia e pronunciado réu com base em falso testemunho. Não havia motivo para presunção da culpa de Strauss-Kahn, pois a credibilidade da única testemunha, de acordo com os promotores, não resistiria a nenhum tipo de escrutínio.
Epstein - Falei com os promotores e eles me disseram que a suposta vítima Nafissatou Diallo tinha mentido para o grande júri. As pessoas podem mentir e ainda assim ser vítimas, é claro. Strauss-Kahn foi pronunciado réu com base no testemunho de uma única testemunha, e essa testemunha era a única prova que o grande júri tinha de um possível assalto, nada mais provava que isso tinha ocorrido. Conforme mais veio à tona, se descobriu que a testemunha não era uma pessoa que tinha um compromisso com a verdade e, possivelmente, havia cometido perjúrio (falso testemunho). Sem dúvida, houve uma má execução da Justiça. Ninguém deve ser posto na cadeia e pronunciado réu com base em falso testemunho. Não havia motivo para presunção da culpa de Strauss-Kahn, pois a credibilidade da única testemunha, de acordo com os promotores, não resistiria a nenhum tipo de escrutínio.
Terra - E foi a partir daí que seu trabalho de jornalismo investigativo começou?
Epstein - Eu me interessei em investigar como esse caso se desenvolveu de modo a prejudicar DSK. Todos têm direito a ser considerados inocentes, até o contrário ser provado. Nesse caso, esse homem era diretor gerente do FMI, ex-ministro do governo francês e um cidadão respeitado. Não existia motivo algum para ele não ter sido solto mediante pagamento de fiança. Strauss-Kahn foi preso por motivos políticos ou para impressionar a opinião pública. A carreira de Strauss-Kahn foi destruída e ele perdeu o direito de concorrer a presidência da França.
Epstein - Eu me interessei em investigar como esse caso se desenvolveu de modo a prejudicar DSK. Todos têm direito a ser considerados inocentes, até o contrário ser provado. Nesse caso, esse homem era diretor gerente do FMI, ex-ministro do governo francês e um cidadão respeitado. Não existia motivo algum para ele não ter sido solto mediante pagamento de fiança. Strauss-Kahn foi preso por motivos políticos ou para impressionar a opinião pública. A carreira de Strauss-Kahn foi destruída e ele perdeu o direito de concorrer a presidência da França.
Terra - O senhor acredita que Strauss-Kahn foi vítima de uma armadilha?
Epstein - Isso é complicado, depende muito do contexto de "armadilha". Acredito que ele estava sendo seguido e estava sob vigilância. O serviço de inteligência francesa estava seguindo ele com o objetivo de reunir informações que poderiam ser usadas durante a campanha presidencial, disso eu tenho certeza. Seja o que for que tenha acontecido no Sofitel, logo que a camareira fez sua reclamação, aconteceram coisas com o objetivo de assegurar que a reclamação fosse encaminhada à polícia de uma maneira que levaria à prisão de DSK no aeroporto. Tudo isso foi controlado. O promotor recebeu informações de representantes do governo francês que levou à recusa de liberdade mediante fiança a Strauss-Kahn. O caso contra ele foi orquestrado por pessoas que tinham informações obtidas por vigilância a fim de destruir sua carreira.
Epstein - Isso é complicado, depende muito do contexto de "armadilha". Acredito que ele estava sendo seguido e estava sob vigilância. O serviço de inteligência francesa estava seguindo ele com o objetivo de reunir informações que poderiam ser usadas durante a campanha presidencial, disso eu tenho certeza. Seja o que for que tenha acontecido no Sofitel, logo que a camareira fez sua reclamação, aconteceram coisas com o objetivo de assegurar que a reclamação fosse encaminhada à polícia de uma maneira que levaria à prisão de DSK no aeroporto. Tudo isso foi controlado. O promotor recebeu informações de representantes do governo francês que levou à recusa de liberdade mediante fiança a Strauss-Kahn. O caso contra ele foi orquestrado por pessoas que tinham informações obtidas por vigilância a fim de destruir sua carreira.
Terra - O que faz com que o senhor tenha tanta certeza disso?
Epstein - Falei com diversos gerentes de hotéis da mesma classe e tamanho do Sofitel, em Nova York, sobre o que fariam em circunstâncias semelhantes a do caso DSK. Todos me disseram que a primeira coisa que fariam seria levar a camareira para uma sala privada, eles não a deixariam sentada no corredor por uma hora. Depois disso, chamariam alguém de Recursos Humanos, que explicaria à camareira o que aconteceria se ela prosseguisse com a reclamação e as consequências legais e outras para ela. Os gerentes com quem falei ficaram chocados que o departamento de Recursos Humanos e nem mesmo o gerente do Sofitel falaram com a camareira.
Epstein - Falei com diversos gerentes de hotéis da mesma classe e tamanho do Sofitel, em Nova York, sobre o que fariam em circunstâncias semelhantes a do caso DSK. Todos me disseram que a primeira coisa que fariam seria levar a camareira para uma sala privada, eles não a deixariam sentada no corredor por uma hora. Depois disso, chamariam alguém de Recursos Humanos, que explicaria à camareira o que aconteceria se ela prosseguisse com a reclamação e as consequências legais e outras para ela. Os gerentes com quem falei ficaram chocados que o departamento de Recursos Humanos e nem mesmo o gerente do Sofitel falaram com a camareira.
O que aconteceu é que a camareira, de acordo com o que podemos ver
nos vídeos do hotel, relata a história diversas vezes, o que pode ser
interpretado como se alguém estivesse ensaiando ou revisando o que ela
contava. E a camareira conta o ocorrido em frente aos dois homens que
parecem estar lidando com o caso (Derek May, segurança e representante
de sindicado, e Brian Yearwood, chefe de engenharia). O estranho é que,
depois de chamarem a polícia, os dois homens dançam em celebração.
Mas os gerentes de hotel me disseram que seria um desastre para o
Sofitel, em termos de relações públicas e imagem, se a polícia fosse
chamada.
Portanto, a última coisa que o pessoal de segurança faria é celebrar
que a polícia foi chamada. É importante lembrar que, naquele momento,
eles ainda nem sabiam se a camareira estava dizendo a verdade ou não, e
Strauss-Kahn é um dos hóspedes mais importantes do hotel. Esses dois
homens tinham que ter algum motivo para celebrar dançando. Talvez
durante o processo civil se fique sabendo o motivo para isso, apesar de
eles dizerem que não lembram o motivo da celebração. Acho que é uma
indicação de que esses dois funcionários, ou pelo menos um deles,
acharam que receberiam algum tipo de bônus pela camareira ter optado por
chamar a polícia.
Terra - O senhor suspeita que a camareira foi orientada pelo pessoal de segurança do hotel Sofitel sobre o que dizer à polícia?
Epstein - É muito interessante observar que a mentira que Diallo contou ao grande júri é que ela não tinha entrado no quarto 2820 (em frente à suíte 2806, onde se hospedava Strauss-Kahn). Mas, na realidade, ela entrou naquele quarto várias vezes naquele dia, três vezes antes do incidente e novamente depois disso. Por que ela mentiu especificamente sobre isso para o grande júri, promotores e polícia? Se observamos o vídeo de quando ela está se preparando, ensaiando ou repetindo uma história, nossa curiosidade desperta sobre o que ela estaria sendo solicitada a falar sobre o caso. Isso não sabemos, pois o vídeo não tem áudio. Mas sabemos que o pessoal de segurança do hotel tinha os registros de entrada nos quartos e não os forneceu aos promotores até seis semanas mais tarde. Isso é apenas uma coincidência ou o pessoal do hotel pediu que Diallo não mencionasse o quarto 2820?
Epstein - É muito interessante observar que a mentira que Diallo contou ao grande júri é que ela não tinha entrado no quarto 2820 (em frente à suíte 2806, onde se hospedava Strauss-Kahn). Mas, na realidade, ela entrou naquele quarto várias vezes naquele dia, três vezes antes do incidente e novamente depois disso. Por que ela mentiu especificamente sobre isso para o grande júri, promotores e polícia? Se observamos o vídeo de quando ela está se preparando, ensaiando ou repetindo uma história, nossa curiosidade desperta sobre o que ela estaria sendo solicitada a falar sobre o caso. Isso não sabemos, pois o vídeo não tem áudio. Mas sabemos que o pessoal de segurança do hotel tinha os registros de entrada nos quartos e não os forneceu aos promotores até seis semanas mais tarde. Isso é apenas uma coincidência ou o pessoal do hotel pediu que Diallo não mencionasse o quarto 2820?
Terra - O senhor acha que há uma ligação entre a camareira e o
desaparecimento do Blackberry usado por Strauss-Kahn para assuntos
relacionados ao FMI?
Epstein - Ela pode estar ligada a isso. Ela pode ter pego o Blackberry, o escondido em algum lugar na suíte ou poderia haver outra pessoa na suíte ao mesmo tempo em que ela estava lá.
Epstein - Ela pode estar ligada a isso. Ela pode ter pego o Blackberry, o escondido em algum lugar na suíte ou poderia haver outra pessoa na suíte ao mesmo tempo em que ela estava lá.
Terra - Recentemente, o senhor entrevistou Strauss-Kahn em Paris. Qual foi sua impressão dele?
Epstein - Ele está bem. Estava bem vestido, não parecia deprimido.
Epstein - Ele está bem. Estava bem vestido, não parecia deprimido.
Terra - Strauss-Kahn tem planos de retornar ao serviço público?
Epstein - Acho que ele, sem dúvida, está ansioso por volta a trabalhar, seja no setor público quanto no privado.
Epstein - Acho que ele, sem dúvida, está ansioso por volta a trabalhar, seja no setor público quanto no privado.
Terra - Alguns jornalistas, como Christopher Dickey, do website de notícias The Daily Beast,
dizem que o seu livro provoca o público com informações que levam a
teorias de conspiração, mas que, na verdade, não provam nada. O que o
senhor tem a dizer sobre isso?
Epstein - As pessoas podem dizer o que quiserem. Eu forneço as informações que descubro e não sou um profissional do mundo jurídico que precisa desenvolver um caso. Levanto perguntas sobre o que ocorreu nos bastidores do hotel e mostro que Strauss-Kahn estava sob vigilância e que os promotores indicaram que a justiça foi mal aplicada. Algumas pessoas, como Dickey, afirmam conclusões que não se encontram no meu livro. Essas pessoas dizem que eu chego a conclusões sem ter provas quando a conclusão é, na verdade, delas. Mas acho que o caso DSK teve um contexto político.
Epstein - As pessoas podem dizer o que quiserem. Eu forneço as informações que descubro e não sou um profissional do mundo jurídico que precisa desenvolver um caso. Levanto perguntas sobre o que ocorreu nos bastidores do hotel e mostro que Strauss-Kahn estava sob vigilância e que os promotores indicaram que a justiça foi mal aplicada. Algumas pessoas, como Dickey, afirmam conclusões que não se encontram no meu livro. Essas pessoas dizem que eu chego a conclusões sem ter provas quando a conclusão é, na verdade, delas. Mas acho que o caso DSK teve um contexto político.
- Especial para Terra
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