segunda-feira, 16 de julho de 2012

É 2013, ESTÚPIDO!




Conhecido como dr. Doom (dr. Catástrofe) por suas previsões pessimistas, o economista Nouriel Roubini foi um dos poucos a prever a crise financeira de 2008 nos Estados Unidos. Esse descendente de judeus iranianos escreveu em 2005 que “o preço dos imóveis residenciais surfa em uma onda especulativa, que brevemente fará afundar a economia”.

O economista Nouriel Roubini
Suas previsões atuais são igualmente apocalípticas: ele acredita numa recessão persistente, com mais de dois trilhões de dólares de perdas em créditos e uma crise bancária sistêmica.
Abaixo, uma entrevista de Roubini à Bloomberg na qual ele prevê um agravamento sem precedentes da crise no próximo ano. O fim do mundo, dessa maneira, não será em 2012, como previam os maias, mas em 2013... 

A tempestade global perfeita em 2013
Bloomberg – Sr. Roubini, que consequências o escândalo da taxa Libor terá na cultura dos bancos?
O Apocalipse, Gustave Doré 
Nouriel Roubini – Na minha visão este escândalo mais recente, como muitos outros episódios que aconteceram recentemente, sugere que nada mudou depois da crise financeira global porque os incentivos para os bancos ainda são para enganar ou fazer coisas que são ou ilegais ou imorais, a única forma de evitar isso é desmembrar  estes supermercados financeiros. Quando você tem na mesma firma banco comercial, banco de investimentos, gerenciamento de bens, brokerages, venda de seguros, derivativos, não existem muralhas da China [entre os negócios] e há maciços conflitos de interesse porque você está nos dois lados de todo negócio. Este é o problema fundamental. Os banqueiros são gananciosos, tem sido gananciosos nas últimas centenas de anos, não é uma questão de serem mais imorais hoje do que mil anos atrás. Você tem de ter certeza de que eles vão se comportar de forma a minimizar os riscos. Uma forma [de fazer isso] é separar as atividades, para minimizar os conflitos de interesse. Caso contrário, isso vai acontecer de novo e de novo.
O sr. acha que deveria haver punições criminais?
Dresden, 1945
Deveria, já que ninguém foi parar na prisão desde a crise financeira global, por o que quer que tenha feito. Os bancos fazem coisas ilegais e no melhor caso levam multa. Se algumas pessoas acabarem na cadeia talvez ensine uma lição, ou alguém enforcado nas ruas.
A cultura dos bancos vai mudar?
Nada vai mudar, é o mesmo de antes. Há mais conflitos de interesse hoje que quatro anos atrás. Nos Estados Unidos você tinha bancos muito grandes para falir e hoje eles são ainda maiores para falir, porque o JPMorganChase assumiu o Washington Mutual e o Bear Sterns, o Bank of America assumiu o Merryl Linch e o Countrywide, assim os bancos muito grandes para falir, com seus conflitos de interesse, se tornaram bancos ainda maiores para falir. As coisas pioraram, não se tornaram melhores, nada mudou.
Tivemos recentemente a crucial cúpula da União Europeia, com medidas tomadas para ajudar a Espanha e a Itália. Acha que a UE está salva?
A cúpula foi um fracasso porque uma semana depois dela e do Banco Central Europeu (BCE) ter cortado as taxas de juros, as taxas de risco da dívida da Espanha voltaram a ficar acima dos 7%, o mercado de ações caiu 3 por cento, mas nada mudou. Depois dos supostos sucessos os mercados esperavam muito mais. Ou você tem mutualização da dívida para reduzir as taxas de risco, ou tem a monetização da dívida por parte do Banco Central Europeu ou usa a bazuca para dobrar ou triplicar ou quadruplicar a injeção de dinheiro nos bancos direta ou indiretamente ou as taxas da Espanha e da Itália vão explodir mais e mais, dia após dia, e você terá uma crise pior, não daqui a seis meses, uma crise maior nas próximas duas semanas.
O que deveria fazer o BCE?
A única instituição que tem poder de garantir a dívida dos governos é o BCE. Precisamos de algo que é politicamente incorreto falar. Monetização da dívida. Compra da dívida destes governos pelo BCE. Algo que o BCE não quer fazer e diz que institucionalmente está proibido de fazer.
Existe muita resistência, inclusive anglo-americana?
Sim, na Alemanha e em todo o centro [da zona do euro]. Na Holanda, na Áustria, na Finlândia. A Finlândia não aceita nem mesmo um pequeno valor de dívida mutualizada, que permitiria a compra de dívida no mercado secundário. Mesmo este valor pequeno de mutualizaçao da dívida, de forma indireta, eles vão lutar contra. Nao é apenas resistência anglo-americana ou alemã, o coração da zona do euro não quer assumir o risco de crédito envolvido em qualquer tipo de mutualização de dívida.
Você disse que em 2013 será muito difícil encontrar um esconderijo?
Penso que em 2013 os formuladores da política serão incapazes de evitar a perda de fôlego da economia, que o lento acidente de trem da zona do euro vai se tornar um acidente veloz, que os Estados Unidos parecem próximos de parar e mergulhar em uma nova recessão — segundo os dados econômicos mais recentes –, que o pouso da China está se tornando mais duro que suave, e que todos os mercados emergentes também estão reduzindo fortemente seu crescimento econômico, todos os BRICs — China, Rússia, Índia e Brasil — mas também o México e a Turquia, parcialmente por causa da recessão na Europa e no Reino Unido, do crescimento lento dos EUA, parcialmente porque não fizeram as reformas para aumentar a produtividade e potencializar o crescimento, e finalmente porque existe a bomba relógio de uma potencial guerra entre Israel, Estados Unidos e Irã.
Hiroshima, 1945
As negociações fracassaram, as sanções vão fracassar, Obama não quer a guerra antes das eleições, mas depois das eleições, seja Obama eleito ou [Mitt] Romney, as chances são de uma decisão dos Estados Unidos de atacar o Irã, então você terá os preços do petróleo dobrando da noite para o dia. É uma tempestade perfeita: colapso da zona do euro, nova recessão nos EUA, pouso duro da China, pouso duro dos mercados emergentes e guerra no Oriente Médio. No ano que vem poderemos ter uma tempestade global perfeita.
Suas previsões são piores que as de 2008?
Muito piores porque, como em 2008, agora você tem uma crise econômica e financeira, mas diferentemente de 2008 não há mais balas para usar. Naquela época podíamos cortar os juros de 6% para 0, 1, 2 ou 3, podíamos dar estímulos fiscais de até 10 por cento do PIB, podíamos resgatar os bancos e todos os demais. Hoje, mais QEs [Quantitative Easing, a impressão de dinheiro pelo Tesouro dos Estados Unidos] está se tornando menos eficaz porque o problema é de solvência, não de liquidez; os déficits fiscais já são solares, todos precisam reduzir os déficits, não dá para aumentar; e não dá mais para resgatar os bancos porque, um, existe oposição a isso, dois, os governos estão quase insolventes, não podem se salvar, o que dizer salvar os bancos. O problema é que estamos sem balas na agulha, estamos sem coelhos para tirar das cartolas políticas. Se um derretimento dos mercados e da economia acontecer não temos mais a rede de segurança para absorver os choques, porque gastamos os últimos quatro anos atirando 95% da munição. Poderá [2013] ser pior que 2008.
Você prevê o rompimento da zona do euro em 2013?
Não acho que haverá o rompimento da zona do euro em 2013, apesar de acreditar que até lá teremos a saída da Grécia da zona do euro. Acho que nos próximos três a cinco anos temos uma chance de 40 a 50% de ver o fim da zona do euro. Eu diria que outros países do centro podem decidir pela saída. A Finlândia pode sair antes da Grécia. A Finlândia não quer assumir os riscos adicionais de crédito envolvidos, [os finlandeses] já estão expostos a vários mecanismos [de ajuda]. Agora, se houver mutualização da dívida, união fiscal, novas garantias de todos os tipos, eles são contra, um país como a Finlândia pode sair [da zona do euro]. Ou, na periferia, um país como a Itália poderia decidir pela saída, porque há vários interesses econômicos e financeiros que querem voltar para a lira, como o Berlusconi e seu partido, o novo movimento Cinco Estrelas de Beppe Grillo, a Liga Norte, há muita gente na Itália que não gosta do euro e que pode ganhar dinheiro voltando para a lira. As pessoas pensam na Grécia, mas poderia acontecer na Finlândia ou na Itália. Não acho que haverá rompimento no ano que vem, acho que a Grécia sai em 2013 e em até 5 anos há 50% de chance de rompimento da zona do euro.


Postado por Cláudio Camargo

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