sexta-feira, 14 de setembro de 2012

MESMO MORTO O CARNICEIRO DOS ANDES AUGUSTO PINOCHET CONTINUA A PERTURBAR OS CHILENOS



Pinochet
Por Paulo Nogueira

Imagine um filme alemão que louvasse Hitler alguns anos depois de sua morte.
Foi mais ou menos isso, guardadas as proporções, que aconteceu no Chile. Um filme feito para reabilitar o general Augusto Pinochet — provavelmente o pior chileno da história — acabou em pancadaria nas ruas da capital Santiago
.
 
O filme foi programado para coincidir com a data em que Pinochet tomou o poder com um golpe militar, 11 de setembro de 1973. Com a ajuda dos Estados Unidos, o general Pinochet, chefe do exército chileno, traiu seu chefe, o presidente eleito Salvador Allende, e impôs uma ditadura sanguinária e longa sobre o Chile. Estava armada a confusão. 
Veja abaixo o vídeo:



Hitler se elegeu chanceler alemão, em 1933, sob a bandeira do anticomunismo. Ele iria livrar a Alemanha dos comunistas. Pinochet usou a mesma bandeira: iria livrar os chilenos do comunismo. Hitler era, financeiramente, mais íntegro. Morreu com pouco dinheiro. Pinochet se locupletou no governo: tinha contas milionárias e secretas no exterior.
Pinochet foi usado durante muitos anos como uma peça de propaganda americana, por conta de um ilusório “milagre econômico” operado por discípulos do economista Milton Friedman, da Universidade de Chicago.
Tirada a fachada do milagre, o que Pinochet criou mesmo foi uma crise social extraordinária. Seu legado é simplesmente miserável. Os protestos dos estudantes chilenos contra a destruição do ensino público promovida na era Pinochet – e reforçada na atual administração pelo presidente Sebastian Piñera — refletem as bases de areia do milagre, aspas, da ditadura. (Piñera afirma que educação é um produto como qualquer outro, e fica melhor quando é tocado pela iniciativa privada. Isso quer dizer que os jovens pobres chilenos acabam alijados de um ensino decente. É contra essa megapataquada que os estudantes ergueram sua revolta.)
Pinochet não serviu aos interesses de seu povo, mas sim aos dos Estados Unidos. Foi um expoente do clássico general latino-americano do século 20 – extremamente corajoso contra oponentes desarmados. Na vizinha Argentina, na Guerra das Malvinas, se viu onde tanta bravura entre as mais altas patentes ia parar contra inimigos armados.
Pinochet merece não um filme para levar chilenos a brigarem com chilenos — mas um eterno, estrepitoso, magnífico esculacho.
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