quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Juiz chileno manda prender oito ex-militares pelo assassinato de Víctor Jara


Dois deles são acusados de autoria material do crime, e outros seis de cumplicidade. Um dos acusados vive nos EUA, pelo que foi emitido mandato de prisão internacional. Crime ocorrido em 1973 é um dos mais emblemáticos da ditadura de Pinochet.
Assassinos presos quase 40 anos depois
Um juiz do tribunal da relação de Santiago do Chile, Miguel Vázquez, ordenou na sexta-feira a prisão de oito ex-oficiais acusados do assassinato do cantor Victor Jara, no estádio de Santiago, em 16 de dezembro de 1973.
A resolução judicial acusa dois ex-oficiais como autores do crime de homicídio qualificado e outros seis como cúmplices.
"Depois de reunir muitos antecedentes, há um momento em que é preciso pôr termo à investigação e avançar, ditando esta resolução", afirmou aos jornalistas o juiz Vázquez.

Víctor Jara, autor de canções como 'Te recuerdo Amanda' ou 'El cigarrito', foi detido no dia seguinte ao golpe de Estado que derrubou o governo do socialista Salvador Allende (foto acima) e instaurou a ditadura de Augusto Pinochet (foto abaixo) -1973-1990-.
Dias depois de permanecer detido junto a outros 5.000 prisioneiros no estádio de Santiago, o corpo de Jara foi encontrado num terreno baldio com 44 impactos de bala e as mãos mutiladas. Tinha 41 anos.
Até agora, a justiça não tinha conseguido identificar os autores materiais do seu assassinato, um dos crimes mais emblemáticos da sangrenta ditadura de Pinochet, que causou mais de 3.000 vítimas mortais.
A resolução ordena a detenção, como autores do delito de “homicídio qualificado” – dos ex-oficiais Hugo Sánchez Marmonti e Pedro Barrientos Núñez. Este último vive atualmente nos Estados Unidos, pelo que foi emitida uma ordem de captura internacional. Segundo investigações jornalísticas, Barrientos, de alcunha 'o príncipe', teria sido o autor material do homicídio.
Como cúmplices, o juiz acusou e ordenou a captura dos ex-militares Roberto Souper Onfray, Raúl Jofré González, Edwin Dimter Bianchi, Nelson Hasse Mazzei, Luis Bethke Wulf e Jorge Smith Gumucio, que não tinha sido incluído na primeira resolução.
Todos deverão ser internados no Batalhão de Polícia Militar Nº1, em Santiago.
Na resolução judicial, o juiz Vázquez estabeleceu que Jara foi detido quando se encontrava na Universidade Técnica do Estado, onde era professor, e depois transferido para o Estádio Chile, um recinto fechado no centro de Santiago que hoje leva o nome do cantautor e foi usado como centro de tortura depois do golpe de Estado.
 

Durante sua detenção, o cantor "foi reconhecido pelo pessoal militar instalado no interior do Estádio Chile, sendo separado do resto dos prisioneiros, para ser levado a outras dependências localizadas nos camarins, usadas como salas de interrogatórios e urgências, onde foi agredido fisicamente em forma permanente, por vários oficiais".
"No dia 16 de setembro de 1973 deu-se morte a Víctor Lidio Jara Martínez, facto que se produziu em consequência de, pelo menos, 44 impactos de bala, segundo se detalha no respetivo relatório de autópsia", conclui a resolução.
A investigação judicial foi reativada em 2009, depois de um soldado que esteve no Estádio Chile reconhecer ter disparado sobre Victor Jara, apesar de se ter retratado de seguida. A sua versão, porém, levou a Justiça a ordenar a exumação do corpo.
Em dezembro desse ano, milhares de chilenos acompanharam a sua viúva, a britânica Joan Turner, e as suas filhas Manuela e Amanda, a dar ao músico o funeral que não teve em 1973, quando foi sepultado no quase total anonimato.
 


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