sexta-feira, 1 de março de 2013

IGNOMÍNIAS VATICANAS: A PORNOCRACIA



O papa João XII, o devasso
O período entre os anos 904 e 935 ficou conhecido, na Igreja Católica, como Pornocracia – denominação cunhada no século XVI pelo cardeal César Baronio – ou ainda Reinado das Prostitutas. Era alusão à influência de duas cortesãs, Teodora e Marozia, respectivamente mulher e filha do senador romano Teofilacto I, que tiveram grande influência sobre o Vaticano naquela época.
Um dos papas desse período é considerado um dos pontífices mais devassos e cruéis de todos os tempos: João XII, cujo nome verdadeiro era Octaviano e cujo pontificado durou apenas nove anos, de 955 a 964. Ele era filho ilegítimo do príncipe Alberico II de Spoleto e neto de Marozia, que por sua vez tinha sido amante do papa Sérgio III e mãe do papa João XI. Octaviano subiu ao trono com apenas 18 anos, escolhendo o nome de João XII. Seu pontificado faria corar os Bórgias, que reinariam séculos depois.

Ameaçado pelo rei da Itália, Berengário II, João XII se aliou ao rei alemão Oto I e fez dele imperador de um novo império, o Sacro Império Romano-Germânico, uma tentativa de recriar o antigo reino de Carlos Magno. Ambos selaram uma aliança pela qual o imperador confirmava as doações territoriais feitas à Igreja por Pepino, o Breve, em troca da reafirmação do Constitutio Lotharii, que estabelecia que nenhum papa seria consagrado até que sua eleição fosse aprovada pelo imperador. Mas o acordo durou enquanto Oto esteve em Roma, pois João XII o rompeu, buscando alianças com bizantinos, húngaros e príncipes italianos.

Algumas de suas torpezas, segundo o livro A História Secreta dos Papas, de Brenda Ralph Lewis:
“Dormiu com as prostitutas de seu pai e chegou ao cúmulo de manter relações com sua própria mãe. João XII também presenteava suas amantes com cálices de ouro, verdadeiras relíquias sagradas da igreja de São Pedro. Ele ainda cegou um cardeal e castrou outro, causando sua morte. Apoderava-se das oferendas feitas pelos peregrinos para apostar em jogos. [...]. As mulheres eram advertidas a se manterem longe de São João de Latrão, ou de qualquer outro lugar frequentado pelo papa, pois ele estava sempre à procura de novas conquistas. Após pouco tempo, os romanos estavam tão furiosos com tais atitudes que o papa começou a temer por sua vida. Sendo assim, resolveu saquear a igreja de São Pedro e fugir para Tívoli, a 27 quilômetros de Roma.
João XII estava causando tanto estrago ao papado e ao Vaticano, superando os crimes e pecados de seus antecessores, que um sínodo especial foi convocado. Todos os bispos italianos, 16 cardeais e outros prelados (alguns alemães), reuniram-se para decidir o que fazer com o devasso pontífice. Convocaram testemunhas e ouviram evidências sob juramento. Então, fizeram uma lista que adicionava ainda mais acusações às informações bizarras e assustadoras que já possuíam sobre João.
[...] (caso fosse deposto, o papa ameaçou excomungar todos os envolvidos no sínodo), [...].
O imperador Oto não se curvou à ameaça de excomunhão do papa e o depôs, colocando em seu lugar o papa Leão VIII sem que João soubesse. Quando retornou a Roma, em 963 D.C., sua vingança foi infinitamente pior que sua ameaça. João XII depôs o papa Leão e, ao invés da excomunhão, executou e mutilou todos os que fizeram parte do sínodo. Um bispo teve a pele arrancada, um cardeal teve o nariz e dois dedos cortados e a língua arrancada, e 63 membros do clero e da nobreza romana foram decapitados. Na noite de14 de maio de 964, parece que todas as rezas implorando a morte de João XII foram ouvidas. Segundo a descrição do bispo João Crescêncio de Protus: ‘enquanto estava tendo relações sujas e ilícitas com uma matrona romana, o papa foi surpreendido pelo marido de sua amante em pleno ato. O enfurecido traído esmagou seu crânio com um martelo e, finalmente, entregou a indigna alma do papa João XII a Satã.’” 

Por Cláudio Camargo

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