sexta-feira, 19 de abril de 2013

EM DIREÇÃO CONTRÁRIA E OBSTINADA


Roberto Freire, o coveiro

A fusão do PPS (antigo partidão) com o PMN, com o nome orwelliano de Mobilização Democrática, é o último prego no caixão do que um dia foi a maior organização de massas da esquerda brasileira. 
Roberto Freire, essa execrável figura, é, com todos os títulos, o grande coveiro do partidão, que nasceu revolucionário, virou tenentista, ficou reformista, centrista, transformista (no sentido sociológico do termo) e, finalmente, desacaradamente direitista. Essa trajetória do partidão é tão desavergonhada que lembra aquela canção do compositor italiano Fabrizio de André, En direzione ostinata e contraria (Em direção obstinada e contrária), só que no sentido de caminhar celeremente na direção oposta às suas origens. 

A quartelada de 1935: a ilusão armada do PCB
O Partido Comunista do Brasil (PCB) nasce em 1922, como seção brasileira da Internacional Comunista (IC). Suas origens eram anarco-sindicalistas, mas logo o partido se adapta às “21 condições” da IC bolchevique. Sob o comando do ex-capitão Luís Carlos Prestes e com o apoio de Moscou, o partidão cai na ilusão do positivismo fardado, acreditando que poderia tomar o poder só com o apoio dos quartéis. Paga caríssimo com a repressão que recai sobre seus quadros depois da tentativa de assalto ao poder em 1935. Na Conferência da Mantiqueira, em 1943, em pleno Estado Novo, o PCB apóia a entrada do Brasil na II Guerra ao lado dos aliados. Os comunistas têm a sabedoria de se aliar a Getúlio Vargas em 1945, no episódio do “queremismo”, quando percebem que a direita conspirava para derrubá-lo.

Parte da bancada comunista de 1946: Marighella, Prestes e Gregório Bezerra  
O partido conhece o apogeu entre 1945 e 1964. Nas eleições de 1945, o PCB elege 14 deputados federais – entre os quais Carlos Marighella e Jorge Amado – e um senador (Prestes),tendo a bancada mais aguerrida do Congresso. Com os registros e os parlamentares cassados em 1947, o partidão faz uma desastrada guinada esquerdista, que o impede de ver a conspiração direitista contra Getúlio Vargas em 1954. Mas no período o PCB comanda grandes movimentos de massa, como a greve dos 300 mil em São Paulo em 1953, organizada por Carlos Marighella.

Manifestação pelas reformas de base com apoio do PCB
Em 1958, com a Declaração de Março, o PCB acompanha os ventos da desestalinização e adota a tese de “revolução democrática e nacional”, apoiando alianças com setores “progressistas” da burguesia. O V Congresso muda o nome do partido para Partido Comunista Brasileiro, com vistas à legalização. O partidão apóia o governo de João Goulart e as reformas de base, mas comete o erro de apostar no “dispositivo militar” de Jango para deter a conspiração dos conservadores. O golpe de 1964 marca o ocaso do PCB como organização significativa da esquerda brasileira. De seu ventre surgem inúmeras organizações (entre elas a ALN e o PCBR) que criticam o oportunismo e partem para a luta armada. Em 1968 o PCB apóia a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia.   

David Capistrado, assassinado em 75
Apesar de condenar a oposição armada à ditadura, o PCB não se vê livre da repressão: em 1975, vários dirigentes são assassinados, entre eles David Capistrano. Em 1979, vem a anistia e os comunistas voltam à luz do dia. Luis Carlos Prestes, o líder histórico, rompe com o partido em 1980. Um setor mais esclarecido, identificado com os eurocomunistas (Armênio Guedes, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho), sai do partidão em 1982, depois do golpe do general Jaruzelski na Polônia.
  
O retorno de Luís Carlos Prestes, em 1979
Em 1985, o PCB finalmente reconquista a legalidade. Neste período, muitos de seus membros já estavam debandando descaradamente para as fileiras da direita, alguns virando malufistas, como os ex-dirigentes sindicais Hércules Corrêa e Jarbas de Holanda; o ex-deputado Luís Tenório de Lima e o jornalista Rodolfo Konder. Em janeiro de 1992, no X Congresso, seguindo uma tendência mundial depois do colapso da URSS, o PCB vira Partido Popular Socialista (PPS).

Sob o comando de Roberto Freire, o PPS inicia a marcha inexorável à direita. O partido apóia o impeachment de Collor e o governo Itamar Franco (Freire foi o líder do governo) e em 1994, apóia o PT contra FHC, mas logo em seguida se aproxima do tucano. Raul Jungmann, do PPS, vira ministro da Reforma Agrária. Em 2002 o PPS apóia Lula, mas deixa a base governista em 2005. De lá para cá, os ex-comunistas se tornam virulentamente antipetistas, defendendo inclusive a violenta guinada à direita da campanha de José Serra à presidência em 2010.
Ferreira Gullar, o stalinista da direita  

Hoje, não há nada mais conservador e patético do que as cantilenas arquirreacionárias de ex-comunistas arrependidos, como Arnaldo Jabor ou Ferreira Gullar. Triste fim de Policarpo Quaresma...       



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