domingo, 21 de abril de 2013

GRAMSCI PRECISARIA ESCREVER AS "CARTAS DO TÚMULO'"


O presidente Giorgio Napolitano

A eleição do próximo presidente da República italiano, que é indireta (feita pelo Parlamento), está mostrando duas coisas: 1) Tornou-se mais complicada do que um Conclave para eleger o bispo de Roma; e 2) A esquerda italiana não precisa de adversários; suas divisões internas bastam.

A sucessão do presidente Giorgio Napolitano tem de ser realizada mesmo na falta de um governo, já que ninguém conseguiu formar um gabinete depois das eleições gerais de março. Para ganhar, o candidato tem que conquistar 2/3 dos 1.007 eleitores (630 deputados, 319 senadores e 58 delegados regionais) em uma das primeiras três rodadas. A partir da quarta, basta conseguir a maioria simples para se eleger o presidente da República.

O ex-dirigente do PD Pierluigi Bersani
Pois bem: Pierluigi Bersani, líder do Partido Democrático, sucessor do outrora poderoso Partido Comunista Italiano, tentou emplacar a candidatura do ex-sindicalista católico Franco Marini. Para tanto, buscou o apoio do arqui-inimigo da esquerda, o ex-premiê Silvio Berlusconi, líder do Popolo della Libertà (PdL), além do premiê interino Mario Monti. O comediante Beppe Grillo, do Movimento 5 estrelas, apoiou o nome do jurista Stefano Rodotà. As três primeiras rodadas não produziram nenhum vitorioso, já que muitos parlamentares do PD se recusaram a votar em Marini em protesto contra o acordo com Berlusconi. Fracassada a primeira tentativa do PD, este se voltou, na quarta rodada, para o ex-premiê Romano Prodi, detestado por Berlusconi e por sua coalizão de direita. A deputada Alessandra Mussolini, neta do ex-ditador fascista, exprimiu essa irritação ao aparecer em plenário vestida com uma camiseta: “o diabo veste Prodi”...

A neofascista Alessandra Mussolini: "O diabo veste Prodi"
Mas a eleição do “professore” parecia barbada, já que o PD e seus aliados do SEL (Esquerda, Ecologia e Liberdade) tinham 496 votos, oito a menos que a maioria simples. Só que a direita não precisou fazer força, já que 101 deputados do bloco de centro-esquerda votaram contra Prodi.
Humilhado, Bersani pediu demissão da liderança do PD nesta sexta-feira. E a esquerda italiana, que já teve dirigentes do porte de Palmiro Togliatti, Luigi Longo e Enrico Berlinguer, está acéfala. O próximo passo do PD é reapresentar a candidatura de Prodi, buscando votos da Escolha Cívica, ligada aos católicos, ou indicar o ex-premiê Massimo D’Alema, do PD, um oportunista sem coluna vertebral, que no passado manobrou para derrubar o premiê Romano Prodi e hoje teria o apoio de Berlusconi.

Antonio Gramsci
Quando estava preso nas masmorras do fascismo, Antonio Gramsci, fundador do PCI, escreveu as Cartas do Cárcere, em que analisava a história italiana e elaborava a estratégia e a tática para combater o fascismo e preparar a revolução socialista. Seu legado foi responsável pela construção do maior e mais dinâmico Partido Comunista do Ocidente. Talvez agora, face à falta de rumos da esquerda italiana, ele possa escrever as Cartas do Túmulo para orientá-la...                 

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