quarta-feira, 10 de abril de 2013

Marcha pela paz em Bogotá celebra negociação entre governo e as FARC



"Somos mais! Agora sim, a paz". Esse foi o lema que levou, nesta terça-feira (09/04), centenas de milhares de colombianos às ruas de Bogotá para participar da Marcha pela Paz com Justiça Social e Defesa do Público. 
Delegações de todas as partes do paí marcharam pelas principais 
ruas da capital, a partir das 9h, até reunirem-se na Praça Bolívar. A prefeitura da cidade calcula que os participantes chegaram a um milhão de pessoas, em números não-oficiais.
A multidão era formada por camponeses, indígenas, trabalhadores, estudantes, militantes de diferentes movimentos políticos, associações de bairro, direitos humanos, entre outros, além de políticos de peso, como o presidente Juan manuel Santos e o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro.
A manifestação, que havia sido convocada inicialmente pelo movimento político e social Marcha Patriótica, teve apoio massivo de diferentes setores que se uniram em torno da construção de paz. "A Colômbia precisa fazer um esforço pela paz. Mas a paz não é somente o silêncio dos fuzis.
 
A paz significa educação, saúde, participação, democracia. Ou seja, a paz significa exercício dos direitos, que é o que nós colombianos não temos. Nossa missão é associar a paz com mudanças estruturais", afirmou a senadora do Partido Comunista e membro da Marcha Patriótica Glória Inês Ramirez, otimista com a construção de um cenário "favorável à paz" no país.
A data nove de abril tem um significado especial para os colombianos. Há 65 anos, neste mesmo dia, era assassinado o líder popular de maior expressão da história recente do país, Jorge Eliecer Gaitán, do Partido Liberal, quando era candidato à Presidência. Sua morte gerou uma onda de revoltas violentas que ficou conhecida como "Bogotazo" e, posteriormente, à uma guerra entre liberais e conservadores.
O presidente marcha com a esquerda
A participação do presidente Juan Manuel Santos é o exemplo mais claro desse novo cenário, impulsionado pelo otimismo sobre o andamento dos diálogos de paz entre o governo e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). "Há um ano, quando surgiu a Marcha Patriótica, um cenário como esse era impensável. Santos os acusava de serem terroristas, um braço das FARC e agora está marchando junto com eles”, relembra a jornalista Marta Ruiz, da revista Semana, que considera “muito importante que o presidente se vincule, porque retira o estigma de que esta seja uma marcha só da esquerda e se caracteriza como uma marcha de apoio ao processo de paz".

Santos esteve presente pela manhã na abertura das atividades na praça de Bolívar e discursou sobre o prejuízo que representa o conflito armado para a Colômbia. "Um conflito que nos custou muito, no nosso desenvolvimento, no nosso progresso, na confiança em nós mesmos", recordou o presidente, que reafirmou seu compromisso com os diálogos de Havana e comemorou o fato de que "hoje todos os colombianos, não importa como pensem, estão unidos em torno da paz".
Ramirez, no entanto, é cautelosa ao avaliar o posicionamento do presidente. “Um problema apareceu com a participação de Santos. Como uma marcha com essas pretenções vai ter nas suas filas um presidente que tem um discurso duplo: que está na mesa de diálogos, mas que está aprofundando o modelo neoliberal no país - um dos maiores obstáculos aos diálogos”, advertiu.
O porta-voz da Marcha Patriótica David Florez considera que a marcha deve servir para apoiar o processo de paz e isolar os setores que “estão em prol da guerra”, encabeçados, segundo ele, pelos ex-presidentes Álvaro Uribe e Andrés Pastrana. “Não podemos perder a chance de reivindicar nossas bandeiras como o cessar-fogo bilateral, a participação da sociedade na construção da paz, a profundidade da agenda e a Assembleia Nacional Constituinte”, avaliou Florez
Apoio da prefeitura de Bogotá
O prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, jogou um papel fundamental para a construção e o fortalecimento desta marcha pela paz. Durante toda a última semana, propagandas na televisão, cartazes pela cidade, e anúncios no sistema de transporte coletivo, convocavam a população a marchar. Petro decretou dia cívico, com ponto facultativo para os órgãos municipais, cujos trabalhadores compareceram em número significativo à manifestação desta manhã.

No seu discurso, o prefeito convocou os colombianos para a formação de uma geração de paz e terminou com um pedido ao governo e à insurgência armada, para que optem pelo caminho do diálogo para por um fim definitivo ao conflito armado.
Quem sofre com o conflito
O conflito colombiano está centrado no tema da terra. Foi como uma forma de defesa territorial que surgiu a insurgência armada e, ainda hoje, é no meio rural onde a guerra colombiano está baseada. A concentração de propriedade no campo faz com que, hoje, 65% dos camponeses vivam na pobreza, de acordo com dados da revista Semana. “O camponês é a maior vítima do conflito, está no meio do fogo cruzado”, relata Julian Cabrera, coordenador da Associação de Camponeses do Baixo Cauca, que junto com uma série de organizações de trabalhadores rurais, viajaram a Bogotá para marchar por uma solução ao problema agrário. “Estamos aqui para sermos escutados. Todo colombiano precisa de alimentos, emprego e estudos. Não é só que deixem as armas”, completa Luíz Coronado, camponês do departamento de Santander.
O estudante Kori Koyas, da Universidade Pedagógica, adverte que o conflito também se manifesta na degradação da educação pública. “O governo gasta mais dinheiro na guerra do que com as universidades, gasta mais com um soldado que com um estudante. Por isso nos marchamos pela paz. Nossa contribuição é apenas uma gota, mas muitas gotas são uma contribuição imensa”, exclamou Koyas.
 
Lula envia apoio
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma mensagem em apoio à Marcha, que foi divulgada através da conta do Youtube da prefeitura de Bogotá. Lula declarou que vê com entusiasmo a construção de paz no país vizinho e que uma vitória da Colômbia nesse processo seria também uma vitória de toda a América Latina.
Colombianos residentes em outros países como Argentina, Bélgica, França, Canadá, Venezuela e Espanha também realizaram atos em favor da paz.


Por Rodrigo Simões Chagas/Opera Mundi

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