Ela pode pegar prisão perpétua
|
Em meio a um forte esquema de segurança e grande interesse da
imprensa internacional, começa a ser julgada Beate Zschäpe, única
sobrevivente de um grupo terrorista neonazista que assassinava
imigrantes.
O texto abaixo foi publicado na versão em português do site alemão DW.
Em meio a um forte esquema de segurança e grande interesse da
imprensa internacional, o Tribunal Superior Regional de Munique iniciou
nesta segunda-feira o julgamento da série de assassinatos cometidos
pelo grupo terrorista nazista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU,
na sigla em alemão).
As vítimas são nove pessoas de origem turca ou grega e uma policial
alemã, mortas entre 2000 e 2007. A motivação para os crimes foi
xenofobia e racismo.
_____________________________________________________________________________________ |
Beate Zschäpe, de 38 anos, chamada de “filha de Hitler” pela mídia, é a figura central do processo. Ela é acusada de cumplicidade na morte de oito pessoas de origem turca, de uma pessoa de origem grega, de participação num atentado a dois policiais, além de ser incriminada por tentativa de assassinato em atentados a bomba da NSU.
A participação de Beate na cena neonazista é tida como indiscutível. Muitas fotos e filmes a mostram participando de manifestações de extrema direita em várias cidades alemãs.
Aos 18 anos, ela se juntou a um grupo neonazista no qual conheceu Uwe
Mundlos e Uwe Böhnhardt, com quem formaria a NSU. Embora os pais de
Beate tivessem educação universitária, ela deixou a escola ao final do
ensino médio e começou a trabalhar como assistente de pintor de paredes.
Em 1998, a polícia encontrou armas e material de propaganda nazista em
seu apartamento.
Na época, Beate era suspeita de envolvimento na produção de
explosivos. Ela entrou na clandestinidade após um mandado de prisão ser
emitido contra ela.
Quando o NSU foi descoberto, no final de 2011, ela provocou uma
explosão no apartamento em que morava em Zwickau, com a finalidade de
destruir provas dos crimes cometidos pelo grupo. Mundlos e Böhnhardt
cometeram suicídio quando o caso veio à tona. Beate, se condenada, pode
passar o resto da vida na cadeia.
Ela é a única sobrevivente do grupo. Até o momento, tem se mantido
em silêncio. Seu comportamento será decisivo para o decorrer do processo
da NSU, pois é a última testemunha.
Ela era uma espécie de “centro emocional desse grupo”. Desde o início
de sua vida, Zschäpe teve motivos para se sentir indesejada. Seu
nascimento, em janeiro de 1975, veio como uma surpresa para a mãe: ela
nem sequer percebera que estava grávida, e dera entrada no hospital sob
suspeita de cólica renal.
Na época da
reunificação das Alemanhas, em 1989-1990, Beate perde visivelmente o
rumo da vida. Aos 14 anos se junta a uma gangue. No outono de 1991, aos
16 anos de idade, ela conhece Uwe Mundlos. Os dois se apaixonam e ficam
noivos.
Mais tarde, ela começa um treinamento em jardinagem. Durante o
curso, abandona o namorado : enquanto ele cumpria o serviço militar, ela
se apaixona por seu melhor amigo, Uwe Böhnhardt.
Os dois homens da vida de Beate, e seus companheiros no terror de terror: Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt |
Os três passam quase 20 anos juntos, até o fim da célula terrorista
NSU, em 2011. Apesar de ter sido abandonado por Beate, Mundlos
continuava buscando sua companhia. Segundo um amigo de escola do rapaz, o
trio só pôde se formar porque ele continuava a amá-la. Os dois rapazes
se transformam para ela num substituto de família.
Enquanto Mundlos e Böhnhardt cometiam assassinatos e assaltos a
bancos, Beate mantinha a fachada. Ao se mudarem para um novo
apartamento, ela até vai se apresentar aos vizinhos.
Beate mantinha a coesão do grupo terrorista. Para fora, representava a
vizinha simpática. Ela logo ficou popular na vizinhança: cuidava dos
contatos, oferecia pizza para todos.
Os vizinhos a viam pendurar sempre roupa no varal, e ela cozinhava
quase todos os dias. O cheiro de comida que vinha do apartamento era
sempre bom, contaram aos repórteres. Enquanto isso, os dois homens saíam
em rondas assassinas.
Desde o princípio, os papéis eram bem definidos dentro do trio:
Mundlos era o cérebro, Böhnhardt, aficionado em armamentos, era o
executor. Beate era a dona de casa e mãe da “família” – como ela própria
afirmaria mais tarde, na prisão.
Muitos se perguntam por que somente quatro pessoas são levadas a
julgamento com Zschäpe, já que o círculo de ajudantes da NSU incluiria
129 pessoas. As autoridades afirmam que as investigações ainda estão em
curso.
Fonte: DCM
Free ilustration by: militanciaviva!
Fonte: DCM
Free ilustration by: militanciaviva!
Nenhum comentário:
Postar um comentário