quarta-feira, 17 de julho de 2013

‘Gil’ e ‘Guio’ no casamento da neta do Rei do ônibus

'Um casal maduro e moderno', segundo a jornalista Eliane Cantanhêde
O casal Gilmar e Guiomar Mendes foi um destaque complicado na já lendária festa.
‘Um casal maduro e moderno’, segundo a jornalista Eliane Cantanhêde
E eis que o ministro Gilmar Mendes, do STF, irrompe em mais um embaraço monumental.
Isso poucos dias depois de virar febre na mídia digital – a única em que se faz alguma espécie de jornalismo independente – quando foi descoberto ter sido ele o autor do habeas corpus concedido à  funcionária da Receita Federal que tentou dar sumiço a um processo em que o réu é a Globo.
Neste processo, a Globo aparece como devedora de mais de 600 milhões de reais em dinheiro de 2006 depois de ter sido flagrada pela Receita – está documentado – ao tentar transformar a compra dos direitos da Copa de 2002 em investimento no exterior para sonegar impostos.
Gilmar reaparece agora no noticiário por ter sido figura de destaque no já lendário casamento da neta de Jacob Barata, o Rei dos Ônibus do Rio.
Segundo a jornalista Hildegard Angel, Gilmar e sua mulher foram padrinhos da noiva.
A mulher de Gilmar se chama Guiomar Feitosa, e isto não é um simples detalhe. Guiomar é tia do noivo, Francisco Feitosa Filho. Como os Baratas, os Feitosas são empresários do ramo dos ônibus em sua terra de origem, Fortaleza.
Chico Feitosa, o pai do noivo, é “dono da maior frota de ônibus de Fortaleza e de transporte intermunicipal”, escreve Roberto Moreira no Diário do Nordeste, citado pelo jornalista e escritor Alceu Luís Castilho, autor do livro “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro”.
“Mas aqueles bens não aparecem em sua declaração entregue ao Tribunal Superior Eleitoral”, diz Castilho.
Guio é uma '"uma funcionária pública padrão e uma mulher apaixonada"
Cantanhêde: Guio é uma ‘”uma funcionária pública padrão e uma mulher apaixonada”

O TSE deveria ter sido mais cuidadoso?
É uma questão que deveria ser endereçada à mulher de Gilmar. Numa reportagem de Eliane Cantanhêde publicada numa revista da Folha em 2008, ‘Guio’ – como a jornalista a chama – é descrita como “uma das mulheres mais poderosas de Brasília”.
Na ocasião, ‘Guio’ era secretária-geral do Tribunal Superior Eleitoral.
Hoje, ela trabalha num dos maiores escritórios de advocacia do Rio de Janeiro, o de Sergio Bermudes.
Bermudes se celebrizou no Brasil ao se dispor a pagar uma festa de aniversário para um colega de Gilmar no STF, o já lendário Luiz Fux, aquele que foi atrás do apoio de Dirceu para ganhar a vaga e falou que ‘mataria no peito’ no Mensalão.
A festa michou quando isso veio a público, num caso notório de conflito de interesses que deu em nada.
‘Guio’, “uma funcionária pública padrão e uma mulher apaixonada”, segundo Cantanhêde, trabalha agora para Bermudes. ‘Guio’ e ‘Gil’, diz a jornalista da Folha, formam um casal ‘maduro e moderno’.
‘Gil’ deveria ser um homem distante das amizades na condição de membro do Supremo. Juiz é juiz, afinal.
Mas não é bem assim.
Ele fez questão de comparecer ao lançamento de um livro de Reinaldo Azevedo, por exemplo, em pleno processo do Mensalão. Também prestigiou o lançamento do livro de Merval Pereira. Como escreveu Cantanhêde em 2008, ‘Gil’ é ‘considerado muito tucano’.
Foi FHC quem o ergueu ao STF.
A simpatia partidária de ‘Gil’ não foi obstáculo para que ele votasse no Mensalão.
Em 2006, ‘Gil’ foi relator de um processo em que o ‘paciente’ era o mesmo Jacob Barata cuja neta teve um casamento cinematográfico.
São relações de extrema promiscuidade.
Juiz não deveria ter como amigo senão a justiça. Adapto aqui a grande frase sobre jornalista de um dos maiores editores da história da imprensa, Joseph Pulitzer.
Jornalista não tem amigo, dizia (e praticava) Pulitzer porque, caso tivesse, seu trabalho ficaria moralmente comprometido.
Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Luiz Fux – nossos mais altos magistrados têm muitos amigos, sobretudo nas áreas mais perigosas para a sociedade: a política e a mídia.
Sem um choque ético potente, sem uma reforma enérgica e urgente, a Justiça brasileira continuará a ser o que é: um simulacro. 


Por Paulo Nogueira no DCM

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