sábado, 28 de setembro de 2013

PT: CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA COBRAM MUDANÇAS NO PARTIDO

Os seis partidários na disputa defenderam em Porto Alegre uma agenda política à esquerda, tanto em suas instâncias internas quanto no programa de governo para a candidatura da presidente Dilma à reeleição em 2014; Valter Pomar diz que PT corre o risco de se transformar “em um novo PMDB”... 
Para o economista Markus Sokol, fundador da CUT e do PT em São Paulo, o governo federal vem realizando um processo de privatização da infraestrutura e de bens do país; Rui Falcão, que tenta a reeleição, disse que a unidade entre os petistas “é fundamental para combatermos o pessimismo transmitido pela grande mídia e pela oposição” 

Samir Oliveira - Sul 21 - Os seis candidatos à presidência nacional do PT expuseram suas ideias na noite desta sexta-feira (27) em Porto Alegre. O quinto debate do Processo de Eleições Diretas (PED) do partido ocorreu no plenário da Câmara de Vereadores e contou também com a presença de candidatos aos comandos estadual e municipal da legenda.
O ato deixou evidentes as críticas da maioria dos candidatos ao governo federal e ao grupo que domina a direção nacional do partido, chamado de “Campo Majoritário”. O único que não fez recriminações contundentes às atitudes do PT nas últimas décadas foi o atual presidente e candidato à reeleição Rui Falcão, que também evitou bater de frente com o Palácio do Planalto.
Com maior ou menor intensidade, todos os candidatos defenderam que o partido intensifique uma agenda política à esquerda, tanto em suas instâncias internas quanto no programa de governo a ser construído para a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2014. Outros pontos mencionados por todos os adversários foram a modificação da política de alianças, as manifestações de junho deste ano, a democratização da comunicação, a relação entre o partido e os governos petistas, e a modificação de procedimentos internos.
“Fizemos os de baixo subir sem tirar privilégios dos de cima”, diz Renato Simões
Ex-deputado estadual de São Paulo e atual secretário de Movimentos Populares e Políticas Setorais do PT nacional, Renato Simões avalia que o partido, na condução do governo federal, optou por um projeto de conciliação de classes “que não exige ruptura com estruturas políticas, sociais e econômicas consolidaras”. “Isso explica porque fizemos os de baixo subir sem tirar privilégios dos de cima. Esse processo nos levou a estabelecer alianças incompletas em seu caráter programático. São alianças para governabilidade, não para a promoção de reformas populares”, apontou.
Para Simões, o exemplo deste pragmatismo está na parceria com o PMDB em nível federal. “O PMDB e outros partidos conservadores da nossa base aliada têm sabotado a agenda das reformas populares. Não existe reforma democrática sem ruptura”, observou.
O candidato considera que as manifestações de junho sacudiram “a sociedade, o PT e o governo” e sinalizam que o partido precisa “se entender não apenas como um partido de governo” e “assumir para si a agenda da política institucional e a agenda política da luta de massas”.
Simões estima que, se o PT continuar no rumo de compor alianças pragmáticas, continuará “cada vez mais vencendo eleições e cada vez menos transformando a sociedade”. No Rio Grande do Sul, ele apoia a candidatura do ex-prefeito de São Leopoldo Ary Vanazzi para a presidência estadual do partido.
Valter Pomar diz que PT corre o risco de se transformar “em um novo PMDB”
Historiador e atual secretário-executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar alertou que o PT pode se transformar em um novo PMDB se não modificar seu mecanismo interno de funcionamento e sua agenda política. Ele recorda que o partido ainda adota “a estratégia aprovada no encontro de Guarapari, que elegeu José Dirceu como presidente nacional” da sigla. Para o candidato, essa linha era tida como de “centro-esquerda”, mas, na verdade, “se trata de um projeto para mudar o país sem fazer reformas estruturais”.
Ele entende que o PT precisa impulsionar as reformas política, agrária e urbana, além de pautar a democratização dos meios de comunicação. “Não podemos realizar uma campanha pela mídia democrática tendo no Ministério da Comunicação um aliado da Rede Globo e das teles”, disparou, em referência ao ministro Paulo Bernardo.
Ao criticar o PMDB e o deputado federal petista Cândido Vaccarezza — que preside a comissão da minirreforma eleitoral –, Valter Pomar fez um alerta aos militantes do partido: “Lembrem quem apoia Paulo Bernardo e Cândido neste PED”, disse, em referência a Rui Falcão.
O candidato também defendeu que o PT adote um mecanismo de sustentação financeira que fortaleça mais a contribuição dos filiados e elimine as doações da iniciativa privada. “O PT hoje é financiado pelo Estado e pelo empresariado. Partido sem autonomia financeira mais cedo ou mais tarde perde autonomia política e muda de lado”, pontuou.
Por fim, Valter Pomar defendeu que o PT retome o uso da palavra “socialismo” em seu vocabulário político. “Precisamos construir um Brasil socialista. É uma pequena palavra que temos que recolocar no nosso dicionário”. No Rio Grande do Sul, ele também apoia Ary Vanazzi.
Markus Sokol critica privatizações do governo Dilma
Para o economista Markus Sokol, fundador da CUT e do PT em São Paulo, o governo federal vem realizando um processo de privatização da infraestrutura e de bens do país. “Me inquieta quando vejo a presidente se reunir com investidores em Nova York e dizer que o Brasil precisa dos recursos e da gestão do setor privado, que ela considera mais eficiente, mais ágil e de menor custo”, criticou.
Ele disse que o setor privado “é supostamente mais eficiente porque arranca o couro do peão”. E alertou que o PT terá que fazer uma escolha entre o fortalecimento do Estado ou a entrega dos bens públicos à iniciativa privada. “Não se pode servir a dois senhores”, resumiu.
Markus Sokol considera a comemoração pelos dez anos do PT no governo federal como “um ato cor-de-rosa”. “As melhorias implementadas foram conquistas sociais, não benesses de uma coalizão que se revela muito bem a quem serve e a que veio”, disparou.
O economista qualifica o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) como um “sabotador” da agenda à esquerda que setores do PT tentam disputar junto ao Palácio do Planalto. E também apontou contradição nas respostas que Dilma ofereceu às manifestações de junho. “Dos cinco pactos anunciados, existem coisas boas, como o ‘Mais Médicos”, mas, ao lado, existe um pacto pela estabilidade fiscal, que justifica as privatizações”, comparou. Ele cita como exemplo de privatização o leilão do Campo de Libra.
Markus Sokol também criticou a forma como é realizado o PED. “Precisamos voltar a ter encontros de delegados de base. Não é nenhuma maluquice, o PT funcionou assim durante 20 anos. No PED, é o poder econômico que manda no partido”, considerou. Ele apoia Laércio Barbosa para a presidência do PT gaúcho.
Sérgio Goulart cobra pagamento do piso do magistério e critica repressão a protestos
O jornalista de Santa Catarina Sérgio Goulart fez o discurso mais radical dentre todos os candidatos à presidência nacionald do PT. Ele considera que o partido precisa “parar de imaginar que reformar o capitalismo resolve problemas de fundo”, “enterrar o regime da propriedade privada dos meios de produção” e “expulsar os partidos burgueses do governo federal”.
Sérgio Goulart foi o único candidato que lembrou que o governo gáucho não cumpre a lei do piso nacional do magistério. “Os professores não estariam se mobilizando contra o governo do PT se o piso da educação tivesse sido implantado no Rio Grande do Sul”, criticou.
Ele também foi o único a recriminar a repressão policial aos protestos que se iniciaram em junho. “Os manifestantes, em São Paulo, enfrentaram o governador do PSDB e o prefeito do PT. E o ministro da Justiça ofereceu tropas federais para os reprimir”, condenou.
Para o candidato, o plano de governo do PT nas eleições de 2014 deve prever o fim das privatizações, a estatização do transporte coletivo no país inteiro, das escolas que recebem dinheiro público e da saúde, além da rede industrial farmacêutica. Além disso, ele defende que Dilma envie ao Congresso Nacional uma proposta orçamentária “que desconheça o pagamento da dívida pública”.
“PT se distingue do troca-troca partidário”, avalia Rui Falcão
Atual presidente nacional do PT e candidato à reeleição, Rui Falcão entende que a legenda “se distingue do troca-troca partidário”. Ele cita como exemplo a recusa do partido em votar a “reforma eleitoral de meia tigela”, cuja comissão que a elabora é comandada por Cândido Vaccarezza.
Para Rui Falcão, é um consenso entre todos os candidatos o fato de que o PT precisa mudar. “A principal mudança é dar consequência e efetividade à grande mudança que promovemos no 4º congresso do partido, que foi a instituição de direções com paridade de gênero e cota de jovens”, defende.
O atual dirigente elogiou o discurso de Dilma Rousseff na Assembleia Geral da ONU e disse que a unidade entre os petistas “é fundamental para combatermos o pessimismo transmitido pela grande mídia e pela oposição” e “para fazermos a disputa política, ideológica e cultural na sociedade contra os valores do capitalismo”.
Rui Falcão encerrou seu pronunciamento afirmando que a próxima direção do partido precisa apoiar a reeleição de Dilma e a conquista de mais governos estaduais e assentos nos legislativos. Para ele, a governabilidade precisa “ter enraizamento na sociedade”. No Rio Grande do Sul, ele apoia a candidatura do prefeito de Canoas Jairo Jorge à presidência estadual do PT.
“O PT precisa estar à esquerda do governo”, defende Paulo Teixeira
O deputado federal Paulo Teixeira começou seu discurso elogiando o governador Tarso Genro – que pertence à mesma corrente que ele, a Mensagem ao Partido -, a quem ele creditou o feito de ser o único a “conceder o passe livre a todos os jovens” e “abrir a cancela dos pedágios privados”. Para ele, o Rio Grande do Sul “demonstra que tem uma política contra o neoliberalismo dos anos 1990”.
O parlamentar defende o que chama de Revolução Democrática para o PT nacional. “Na política de alianças, temos que começar com os partidos com os quais temos identidade programática na esquerda. Se não for assim, ao invés de nós mudarmos o Brasil, os aliados é que irão nos domesticar”, entende.
Ele criticou a submissão do PT ao senador José Sarney (PMDB) no Maranhão. “Não podemos aceitar que Sarney ligue para a direção nacional do PT pedindo para que se retire da televisão um programa partidário”, disse.
O deputado também fez coro às críticas ao ministro da Comunicação Paulo Bernardo. “Precisamos ter nitidez política, para que um filiado nosso não dê entrevista à revista Veja afirmando que o PT é contra a liberdade de expressão, como fez Paulo Bernardo”, disparou.
Paulo Teixeira ainda lamentou a permanência de Cândido Vaccarezza na presidência da comissão sobre reforma eleitoral. E afirmou – apontado para os aliados de Jairo Jorge no plenário – que “todos votaram pela expulsão de Vaccarezza da comissão, menos o Campo Majoritário”.
Ao final do discurso, o deputado disse que “o PT precisa estar à esquerda do governo” e afirmou que, no Rio Grande do Sul, apoia as candidaturas e Paulo Pimenta, Ary Vanazzi e Stela Farias.

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