terça-feira, 22 de outubro de 2013

O INFERNO, NA PRIMAVERA


Quem planta vento, colhe tempestade. A máxima popular - que alguns atribuem a antigo provérbio bíblico - se ajusta, como uma luva, ao continente europeu, sitiado, no Mediterrâneo, por milhares de refugiados da série de conflitos que se convencionou chamar de “Primavera Árabe”.
A intenção da UE e dos EUA, ao incentivar o “vamos para a rua” nos países árabes, era destruir a coesão interna – se possível promovendo sua divisão geográfica - de países que, historicamente, se opunham à dominação ocidental naquela região do mundo.
No plano político, esse objetivo já foi quase alcançado. E na economia, a situação beira a catástrofe. Nesta semana, o banco inglês HSBC, publicou relatório afirmando que a Primavera Árabe vai custar a países como o Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Jordânia, Líbano e Bahrein, entre 2011 e 2014, 800 bilhões de dólares, mais uma redução potencial em seu PIB da ordem de 35%.

No plano cultural e no religioso, abriram-se feridas que talvez não cicatrizem nunca. Na última semana de setembro, realizou-se, em Bkerke, no Líbano, a reunião do Conselho de Patriarcas Católicos do Oriente.
A reunião contou com a presença de Gregoire III Laham, representante dos católicos gregos, de Luis Rafael Sako, patriarca caldeu, de Ignacio Yusef Yunan, representante dos siríacos-católicos, de Narciso Pedros XIX e de um grande número de bispos.
Gregoire III Laham
No final do encontro, em seu pronunciamento, o Patriarca Maronita Monsenhor Bechara Rai, não mediu as palavras: “O Oriente Médio - afirmou Rai, que vai se encontrar com o Papa Francisco em novembro – precisa, nesse momento, dos ensinamentos de Cristo, do evangelho da paz, da verdade, da fraternidade e da Justiça.”

“Construímos, nos últimos 2.000 anos, com nossos irmãos muçulmanos, uma única civilização e uma identidade comum, que a política internacional tem feito de tudo para destruir e sabotar. A Primavera Árabe  transformou-se, em pouco mais de dois anos, em um inferno de matança e destruição.”

 
Um inferno que estende suas conseqüências para todos os aspectos da vida humana e obriga à quebra de padrões de identidade psicológica e herança antropológica da população mais atingida.
Ainda ontem, na Síria – em uma decisão que lembra o massacre, pela fome, dos habitantes do Ghetto de Varsóvia - um grupo de ulemás e líderes religiosos, foi obrigado a emitir um edital islâmico autorizando os habitantes muçulmanos dos subúrbios do sul de Damasco a abater e comer animais impuros.

Em certas versões do Corão é proibido comer animais que se alimentem de impurezas, como os burros, ou outros, associados ao demônio, que – como os cães e os gatos – possuam caninos.

Autorizamos isto – afirma o comunicado publicado na internet – como um apelo para chamar a atenção do mundo para a terrível situação que estamos vivendo, e tentar evitar que nossos fiéis, por obediência às leis de Alá, venham a morrer de fome.


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