O conservadorismo sabe as consequências do que busca. Elas são funcionais ao jogo de quem considera que, para um país ir adiante, é preciso fazer o seu povo andar para trás.
Carta Maior acaba de publicar um lúcido artigo de Saul Leblon,
demonstrando como, perdidas as ilusões de uma solução eleitoral “mágica”
para a direita – disse eu, ontem que “acabou a lenda” -, todo o esforço
do conservadorismo será para produzir a paralisia econômica do país, a
crise e, com ela, a única possibilidade em que podem apostar suas
chances de vitória eleitoral.
“O pulo do gato consiste em fazer o Brasil desacreditar da capacidade de comandar o seu próprio destino”, afirma Leblon.
Sim, é isso, e é por isso que investem tanto em prever diariamente o fim do mundo e insuflam os tolos que não vê que nos movemos entre cristais na economia: frágeis, mas mortalmente afiados, em cada pequena aresta.
E nos moveremos, porque não há outro caminho, se queremos atravessar ao futuro de felicidade para o povo brasileiro.
Por Saul Leblon
O resultado do Ibope desta 5ª feira vai intensificar o alarido conservador que já ganhava contornos de uma operação de vida ou morte nos últimos meses.
A um ano do pleito, é cedo para quem pode comemorar a perspectiva de vitória incondicional no 1º turno, como mostram as pesquisas.
Mas o cedo para a cautela é a tarde para o desespero de quem uiva e ruge mas não avança.
Patina.
E vê a perspectiva da reeleição crescer com consistência, sem dispor sequer de um nome definido para afrontá-la. Quanto mais de um projeto crível.
A operação ‘vale tudo’, velha conhecida de outros pleitos, está de volta.
Desta vez, com requintes de decibéis.
Sintomático, em primeiro lugar, é que nenhum espaço seja poupado na arregimentação de um poder de fogo que parece não ter mais nada a perder.
Tome-se o jornal Valor Econômico, uma sociedade entre os Frias e Marinhos.
O diário nunca ocultou a natureza de um veículo feito para o mercado.
Pautado por eficiente carpintaria informativa, indisponível nos demais noticiosos da mesma cepa, tornar-se-ia uma ilha de credibilidade no oceano ardiloso da chamada grande imprensa.
Não é mais assim. Infelizmente.
Desde que ficou clara a exaustão do linchamento petista na embutida operação AP 470, o jornalismo do Valor foi convocado a desembainhar armas.
A frequência com que o verbo ‘surpreendeu’ passou a frequentar suas manchetes é inversamente proporcional ao acerto da recorrente extrema unção ministrada à economia brasileira em suas páginas.
Se não for hoje, de amanhã não escapa.
É o que resmungam os textos às seguidas contrariedades de indicadores cujo resultado ‘surpreendeu os mercados’, dizem as manchetes desenxabidas.
O jornalismo novo-cristão do Valor foi o endereço do recado duro desfechado pela Presidenta Dilma Rousseff contra a manipulação informativa sobre o modelo de partilha, adotado na exploração do pré-sal brasileiro.
A segunda-feira (21/10) seria decisiva para o teste desse protocolo. Um fiasco no leilão de Libra poderia colocar tudo a perder .
Ademais de oferecer a retroescavadeira ansiada pela oposição e pelas petroleiras internacionais para enterrar o futuro da regulação do pré-sal, poderia sepultar junto o projeto de reeleição do governo Dilma.
Manchete garrafal na edição do Valor endereçada aos investidores horas antes do certame: ‘Modelo de Libra deve ser revisto’
Ora, se eu cogito investir bilhões num negócio com prazo de validade inferior ao de um pote de iogurte, melhor recuar. Melhor esperar as condições mais favoráveis aos ‘mercados’, veiculadas pelo Valor a partir de abalizadas inconfidências de ‘fontes do Planalto’.
‘Não atribuam a nós uma dúvida que não existe no governo (assumam). Quem são essas fontes, por que não se mostram’, fuzilou a Presidenta depois do sucesso do leilão, que consolidaria um núcleo estatal, com 60% do consórcio (Petrobras, mais as chinesas), mas incluiria também as imprevistas (inclusive por Carta Maior) adesões da Shell e da Total, com os restantes 40%.
O episódio magnifica uma rotina que será intensificada em espirais ascendentes até a urna de 2014.
O conservadorismo pressente que a alavanca política na qual já apostou a eleição de 2006 – o dito ‘mensalão’— não lhe dará, de novo, o passaporte da volta ao poder.
As baterias se voltam, assim, para a trincheira econômica, de onde se vislumbra um flanco histórico para ressuscitar a velha e boa receita do lacto purga ortodoxo contra os males do país.
Existe algum chão firme nesse propósito.
O Brasil vive, de fato, uma transição de ciclo econômico. Como a viveu em 30, em 50, em 60 e em 2002.
Decisões estruturais são cobradas para pavimentar o passo seguinte do seu desenvolvimento.
Não há receita pronta; tampouco as pedras do jogo podem ser alinhadas em uma palheta bicolor.
Quem reduz a luta pelo desenvolvimento às escolhas binárias acredita no fabulário clássico que trata a economia política como ciência exata.
O Brasil é o desmentido eloquente desse charlatanismo.
Nos últimos doze anos, o país não fez tudo o que poderia ter feito.
Mas ampliou o investimento social do Estado; recuperou o poder de compra popular; gerou um novo ator político composto de 60 milhões de pessoas que ascenderam ao mercado de massa; retomou o papel indutor do setor público na economia; reservou entre 70% a 80% da renda da maior descoberta de petróleo do século 21 a uma redistribuição social capaz de redimir a escola pública e a saúde; afrontou a lógica da Nafta em busca de uma nova ordem internacional; fortaleceu a agenda progressista latino-americana.
Avançou.
Mas o país ainda flutua no leito de uma travessia inconclusa.
Carece, agora, de um salto de investimentos que lhe forneça os trilhos, a coerência e a base sustentável à nova engrenagem em construção.
O Brasil tem no pré-sal um poderoso vetor desse processo, capaz, ademais, de renovar sua planta fabril estiolada em décadas de crise externa e desequilíbrio cambial.
Os encadeamentos intrínsecos ao modelo de partilha destinam ao mercado doméstico brasileiro ao menos 50% dos R$ 200 bilhões em encomendas de equipamentos e serviços requisitados apenas no caso de Libra.
Os oligopólios mundiais cobiçam o apetite brasileiro.
Num planeta cujo principal problema é justamente a falta de demanda para sair da crise, há uma Nação que adicionou 60 milhões de consumidores à fila do caixa; tem plano de aceleração do crescimento que inclui 17 mil kms de estradas e ferrovias, ademais da construção simultânea de portos, aeroportos e hidrelétricas e, por fim, dispõe de 100 bilhões de barris de petróleo no fundo do mar. E sabe extraí-lo de lá.
Não é pouco.
A chance de abocanhar mais do que interessa ao país ceder, pressupõe ganhar uma guerra: a guerra das expectativas.
O pulo do gato consiste em fazer o Brasil desacreditar da capacidade de comandar o seu próprio destino.
A isso se dedica com redobrada contundência o noticioso econômico nos dias que correm.
O episódio protagonizado pelo Valor é apenas a ilustração sôfrega do que vem pela frente.
Os exemplos se avolumam.
O desemprego em setembro oscilou de 5,3% para 5,4%, em relação a agosto.
Uma diferença de 0,1%.
Foi o melhor setembro do mercado de trabalho desde 2002, diz o IBGE.
A renda real do trabalhador cresceu 0,9% no mês e a indústria liderou a criação de vagas: 68 mil novos empregos.
Manchete garrafal no site de O Globo na manhã desta 5ª feira: ‘Taxa de desemprego sobe para 5,4% ‘.
Não é um ponto fora da curva.
A Folha esquenta as turbinas para 2014 oferecendo sua manchete principal no mesmo dia a ressuscitar as missões do FMI.
Aquelas que faziam furor em suas visitas imperais a um Brasil endividado e genuflexo.
O diário dos Frias recorre à desacreditada gororoba do diagnóstico fiscal do Fundo na tentativa de ofuscar a vitória do governo no leilão de Libra.
O Fundo aleijou a Europa com a mesma receita endossada aqui pela manchete da Folha.
A ponto de a Espanha hoje ter um déficit fiscal que é quase o dobro daquele anterior à crise.
A austeridade ministrada decepou a receita do governo.
A recessão autossustentável fez o resto.
Há seis milhões de desempregados no país (26% da força de trabalho).
O principal jornal espanhol, El Pais, criou um espaço fixo para contar histórias da grande diáspora da juventude da Espanha, em busca daquilo que a austeridade lhe subtraiu: emprego, esperança e razão de viver.
O conservadorismo sabe as consequências do que busca.
Elas são funcionais ao jogo de quem considera que para um país ir adiante, é preciso fazer o seu povo andar para trás.
É um velho divisor da política nacional.
Convém estar atento aos campos que ele delimita, para além das aparências e divergências pontuais.
Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber o seu lado quando o povo já estava nas ruas apedrejando os carros do jornal O Globo.
Getúlio, isolado pela esquerda e esmagado pela direita, dera um cavalo de pau na história com um único tiro.
Que até hoje alerta para o conflito de interesses intrínseco à luta pelo desenvolvimento brasileiro.
Sim, é isso, e é por isso que investem tanto em prever diariamente o fim do mundo e insuflam os tolos que não vê que nos movemos entre cristais na economia: frágeis, mas mortalmente afiados, em cada pequena aresta.
E nos moveremos, porque não há outro caminho, se queremos atravessar ao futuro de felicidade para o povo brasileiro.
Por Saul Leblon
O resultado do Ibope desta 5ª feira vai intensificar o alarido conservador que já ganhava contornos de uma operação de vida ou morte nos últimos meses.
A um ano do pleito, é cedo para quem pode comemorar a perspectiva de vitória incondicional no 1º turno, como mostram as pesquisas.
Mas o cedo para a cautela é a tarde para o desespero de quem uiva e ruge mas não avança.
Patina.
E vê a perspectiva da reeleição crescer com consistência, sem dispor sequer de um nome definido para afrontá-la. Quanto mais de um projeto crível.
A operação ‘vale tudo’, velha conhecida de outros pleitos, está de volta.
Desta vez, com requintes de decibéis.
Sintomático, em primeiro lugar, é que nenhum espaço seja poupado na arregimentação de um poder de fogo que parece não ter mais nada a perder.
Tome-se o jornal Valor Econômico, uma sociedade entre os Frias e Marinhos.
O diário nunca ocultou a natureza de um veículo feito para o mercado.
Pautado por eficiente carpintaria informativa, indisponível nos demais noticiosos da mesma cepa, tornar-se-ia uma ilha de credibilidade no oceano ardiloso da chamada grande imprensa.
Não é mais assim. Infelizmente.
Desde que ficou clara a exaustão do linchamento petista na embutida operação AP 470, o jornalismo do Valor foi convocado a desembainhar armas.
A frequência com que o verbo ‘surpreendeu’ passou a frequentar suas manchetes é inversamente proporcional ao acerto da recorrente extrema unção ministrada à economia brasileira em suas páginas.
Se não for hoje, de amanhã não escapa.
É o que resmungam os textos às seguidas contrariedades de indicadores cujo resultado ‘surpreendeu os mercados’, dizem as manchetes desenxabidas.
O jornalismo novo-cristão do Valor foi o endereço do recado duro desfechado pela Presidenta Dilma Rousseff contra a manipulação informativa sobre o modelo de partilha, adotado na exploração do pré-sal brasileiro.
A segunda-feira (21/10) seria decisiva para o teste desse protocolo. Um fiasco no leilão de Libra poderia colocar tudo a perder .
Ademais de oferecer a retroescavadeira ansiada pela oposição e pelas petroleiras internacionais para enterrar o futuro da regulação do pré-sal, poderia sepultar junto o projeto de reeleição do governo Dilma.
Manchete garrafal na edição do Valor endereçada aos investidores horas antes do certame: ‘Modelo de Libra deve ser revisto’
Ora, se eu cogito investir bilhões num negócio com prazo de validade inferior ao de um pote de iogurte, melhor recuar. Melhor esperar as condições mais favoráveis aos ‘mercados’, veiculadas pelo Valor a partir de abalizadas inconfidências de ‘fontes do Planalto’.
‘Não atribuam a nós uma dúvida que não existe no governo (assumam). Quem são essas fontes, por que não se mostram’, fuzilou a Presidenta depois do sucesso do leilão, que consolidaria um núcleo estatal, com 60% do consórcio (Petrobras, mais as chinesas), mas incluiria também as imprevistas (inclusive por Carta Maior) adesões da Shell e da Total, com os restantes 40%.
O episódio magnifica uma rotina que será intensificada em espirais ascendentes até a urna de 2014.
O conservadorismo pressente que a alavanca política na qual já apostou a eleição de 2006 – o dito ‘mensalão’— não lhe dará, de novo, o passaporte da volta ao poder.
As baterias se voltam, assim, para a trincheira econômica, de onde se vislumbra um flanco histórico para ressuscitar a velha e boa receita do lacto purga ortodoxo contra os males do país.
Existe algum chão firme nesse propósito.
O Brasil vive, de fato, uma transição de ciclo econômico. Como a viveu em 30, em 50, em 60 e em 2002.
Decisões estruturais são cobradas para pavimentar o passo seguinte do seu desenvolvimento.
Não há receita pronta; tampouco as pedras do jogo podem ser alinhadas em uma palheta bicolor.
Quem reduz a luta pelo desenvolvimento às escolhas binárias acredita no fabulário clássico que trata a economia política como ciência exata.
O Brasil é o desmentido eloquente desse charlatanismo.
Nos últimos doze anos, o país não fez tudo o que poderia ter feito.
Mas ampliou o investimento social do Estado; recuperou o poder de compra popular; gerou um novo ator político composto de 60 milhões de pessoas que ascenderam ao mercado de massa; retomou o papel indutor do setor público na economia; reservou entre 70% a 80% da renda da maior descoberta de petróleo do século 21 a uma redistribuição social capaz de redimir a escola pública e a saúde; afrontou a lógica da Nafta em busca de uma nova ordem internacional; fortaleceu a agenda progressista latino-americana.
Avançou.
Mas o país ainda flutua no leito de uma travessia inconclusa.
Carece, agora, de um salto de investimentos que lhe forneça os trilhos, a coerência e a base sustentável à nova engrenagem em construção.
O Brasil tem no pré-sal um poderoso vetor desse processo, capaz, ademais, de renovar sua planta fabril estiolada em décadas de crise externa e desequilíbrio cambial.
Os encadeamentos intrínsecos ao modelo de partilha destinam ao mercado doméstico brasileiro ao menos 50% dos R$ 200 bilhões em encomendas de equipamentos e serviços requisitados apenas no caso de Libra.
Os oligopólios mundiais cobiçam o apetite brasileiro.
Num planeta cujo principal problema é justamente a falta de demanda para sair da crise, há uma Nação que adicionou 60 milhões de consumidores à fila do caixa; tem plano de aceleração do crescimento que inclui 17 mil kms de estradas e ferrovias, ademais da construção simultânea de portos, aeroportos e hidrelétricas e, por fim, dispõe de 100 bilhões de barris de petróleo no fundo do mar. E sabe extraí-lo de lá.
Não é pouco.
A chance de abocanhar mais do que interessa ao país ceder, pressupõe ganhar uma guerra: a guerra das expectativas.
O pulo do gato consiste em fazer o Brasil desacreditar da capacidade de comandar o seu próprio destino.
A isso se dedica com redobrada contundência o noticioso econômico nos dias que correm.
O episódio protagonizado pelo Valor é apenas a ilustração sôfrega do que vem pela frente.
Os exemplos se avolumam.
O desemprego em setembro oscilou de 5,3% para 5,4%, em relação a agosto.
Uma diferença de 0,1%.
Foi o melhor setembro do mercado de trabalho desde 2002, diz o IBGE.
A renda real do trabalhador cresceu 0,9% no mês e a indústria liderou a criação de vagas: 68 mil novos empregos.
Manchete garrafal no site de O Globo na manhã desta 5ª feira: ‘Taxa de desemprego sobe para 5,4% ‘.
Não é um ponto fora da curva.
A Folha esquenta as turbinas para 2014 oferecendo sua manchete principal no mesmo dia a ressuscitar as missões do FMI.
Aquelas que faziam furor em suas visitas imperais a um Brasil endividado e genuflexo.
O diário dos Frias recorre à desacreditada gororoba do diagnóstico fiscal do Fundo na tentativa de ofuscar a vitória do governo no leilão de Libra.
O Fundo aleijou a Europa com a mesma receita endossada aqui pela manchete da Folha.
A ponto de a Espanha hoje ter um déficit fiscal que é quase o dobro daquele anterior à crise.
A austeridade ministrada decepou a receita do governo.
A recessão autossustentável fez o resto.
Há seis milhões de desempregados no país (26% da força de trabalho).
O principal jornal espanhol, El Pais, criou um espaço fixo para contar histórias da grande diáspora da juventude da Espanha, em busca daquilo que a austeridade lhe subtraiu: emprego, esperança e razão de viver.
O conservadorismo sabe as consequências do que busca.
Elas são funcionais ao jogo de quem considera que para um país ir adiante, é preciso fazer o seu povo andar para trás.
É um velho divisor da política nacional.
Convém estar atento aos campos que ele delimita, para além das aparências e divergências pontuais.
Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber o seu lado quando o povo já estava nas ruas apedrejando os carros do jornal O Globo.
Getúlio, isolado pela esquerda e esmagado pela direita, dera um cavalo de pau na história com um único tiro.
Que até hoje alerta para o conflito de interesses intrínseco à luta pelo desenvolvimento brasileiro.
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