sábado, 30 de novembro de 2013

Simão Pedro (PT-SP) vai processar José Aníbal e Edson Aparecido, secretários de Alckmin



 

Na última quinta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, concedeu entrevista coletiva para rebater acusações da cúpula nacional do PSDB contra si e contra o deputado estadual Simão Pedro (PT-SP) por terem aberto investigação na Polícia Federal sobre um esquema de corrupção envolvendo a multinacional Siemens e autoridades de governos do PSDB em São Paulo.  
Segundo o pré-candidato a presidente pelo PSDB Aécio Neves e os secretários do governo de São Paulo José Aníbal e Edson Aparecido, a autodenúncia que a alemã Siemens fez ao Cade e as investigações na Suíça envolvendo pagamento de propina pela francesa Alstom, na verdade seriam uma armação do PT, numa reedição do “escândalo dos aloprados”. A mídia deu imensa cobertura às acusações dos tucanos ao PT, mas ocultou ou minimizou a reação do ministro da Justiça e as explicações dele e de quem lhe remeteu cartas-denúncia enviadas ao ombudsman da Siemens, na Alemanha, e a autoridades brasileiras: o deputado Simão Pedro. Diante disso, o blog foi ouvir o deputado petista. Após a entrevista que você lerá a seguir, assista à íntegra da entrevista coletiva dada pelo ministro José Eduardo Cardozo na última quinta-feira, na qual rechaça o que chama de tentativa de tucanos de desviar o foco das investigações e, ainda, anuncia processos que moverá contra membros do partido adversário.
Blog da Cidadania – Deputado Simão Pedro, o senhor é o autor da denúncia ao Ministério da Justiça do esquema de corrupção envolvendo a alemã Siemens e governos do Estado de São Paulo durante as gestões do PSDB desde 1998. É isso mesmo? Simão Pedro – Veja bem, Eduardo, eu protocolei duas representações no Ministério Público de São Paulo de forma oficial, como deputado. A primeira foi em fevereiro de 2011, quando eu denunciei esse esquema da Siemens, a utilização de empresas offshore, os acertos que essas empresas faziam – a Siemens, a MGE – para burlar as licitações pagando comissões. Foi nessa representação que eu anexei a carta de uma pessoa que estava por dentro desse esquema.
Depois, em 2012, pouco mais de um ano depois, eu fiz nova representação ao MP-SP denunciando um outro esquema envolvendo a Siemens, mas aí, também, envolvendo a Alstom, incluindo as reformas dos trens das linhas 1 e 3 do metrô de São Paulo. Agora com superfaturamento, burla da concorrência com acertos entre as empresas.
Agora, já deputado licenciado, recebi, das mesmas pessoas que fizeram as primeiras denúncias, um conjunto de documentos que incluía cópia daquela carta ao ombudsman da Siemens e entreguei tudo ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que ele pudesse analisar, verificar se havia veracidade e se havia relação entre aqueles papeis e as investigações que o Ministério Público e a Polícia Federal já estavam fazendo.
Blog da Cidadania – Por que o senhor entregou o segundo lote de documentos ao Ministério da Justiça e não ao Ministério Público? Talvez o senhor tenha sentido que, no Ministério Público de São Paulo, a investigação não andou? Simão Pedro – Provavelmente foi isso. Os promotores do MP-SP diziam que tinham dificuldade de enviar a denúncia à Justiça porque, mesmo com os documentos, mesmo com cópias de documentos que mostravam a Siemens contratando lobistas e direcionando concorrências eu achei melhor entregar tudo a uma autoridade da Justiça, o ministro José Eduardo Cardozo. Blog da Cidadania – O senhor não acha estranho que enquanto essas denúncias, com tantos elementos, foram amplamente investigadas no exterior, aqui no Brasil não tenham sido investigadas pelo MP de SP? Simão Pedro – Isso me intriga muito e intriga até hoje toda a bancada do PT e as pessoas bem-informadas em geral: por que a Siemens fez uma devassa nos seus contratos na Argentina, nos Estados Unidos – onde o processo de punição atingiu a mais de 300 executivos –, aqui no Brasil o que a Siemens fez em toda parte não teve consequência nenhuma.
O Ministério Público de São Paulo já tinha arquivado mais de 15 processos, muitos deles produto de representações não só minhas, mas da bancada do PT, que tenta abrir investigações no Brasil desde 2008. E aí temos o caso do procurador De Grandis, não é, que arquivou pedidos de investigação da justiça europeia – da Suíça – envolvendo o caso Alstom.
Você vê a dificuldade que temos para investigar denúncias de corrupção aqui em São Paulo… Foi preciso a Siemens procurar o Cade para se autodenunciar, fazendo com que os casos denunciados pelo PT e arquivados pelo Ministério Público fossem reabertos, porque, do contrário, nada teria acontecido.
Blog da Cidadania – De quem o senhor recebeu os documentos que enviou ao Ministério da Justiça? Simão Pedro – Não posso dizer porque, na condição de parlamentar, muitas pessoas me procuram. Por isso, nessa condição me reservo o direito ao sigilo da fonte, assim como fazem os jornalistas. Blog da Cidadania – O PSDB afirma que as cartas em português e em inglês que o senhor enviou ao MJ e que denunciam o escândalo são o mesmo documento, mas os tucanos o acusam de ter inserido, por conta própria, trechos na versão em português que não constam na versão em inglês. Como o senhor responde a isso? Simão Pedro – Vou encaminhar uma ação judicial por difamação caluniosa contra os secretários do governo Alckmin José Anibal e Edson Aparecido porque eles afirmaram que eu burlei documentos. Também vou fazê-lo contra esse advogado do Heitor Teixeira porque ele disse que eu “lavo” documentos. Eu não vou tolerar essas calúnias.
Tudo isso é desespero. Eles querem esconder o sol com a peneira. Desviar o foco. Eu venho denunciando problemas no metrô desde 2006. Eduardo, eu denunciei, em maio de 2006 – fiz uma representação – dizendo que ia acontecer uma tragédia na linha 4 do metrô de São Paulo. Infelizmente, nada se fez e, em 2007, houve uma tragédia.
Denunciei, em fevereiro de 2011, esse esquema da Siemens, dizendo que havia um esquema de pagamento de propina, ninguém deu bola e, neste ano, a própria Siemens procurou o Cade para se autodenunciar. Ou seja: as minhas representações têm sido encaminhadas e têm dado resultados.
Blog da Cidadania – Tenho, agora, uma pergunta um pouco longa, mas é necessário que assim seja. Após a entrevista coletiva do ministro Cardozo, na última quinta-feira, quando ele afirmou, como o senhor diz, que são dois documentos distintos, endereçados a pessoas diferentes, o deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB, contra argumentou, em entrevista ao Jornal Nacional, que o protocolo do material enviado ao MJ cita “tradução” de carta em inglês. Disse Sampaio: “Foi o próprio ministro que recebeu esse documento e ele tem clareza de que é uma tradução, porque, no índice que o denunciante entregou para ele, está escrito ‘documento original’ e, embaixo, ‘tradução’. Isso o ministro não explicou”. Em resposta, o ministro Cardozo deu a seguinte declaração: “O sumário consta ‘tradução’. Por que consta tradução? Eu não sei. Não sei nem quem fez. É a Polícia Federal quem vai apurar. Será que aqui ia vir uma outra carta? Será que não vinha? O que é? O que será? Eu não sei, está aqui. Agora, o que está aqui e o que eu recebi, não é tradução. São duas cartas distintas, dirigidas a pessoas diferentes, com conteúdos diferentes e alguns aspectos iguais” Supostamente, quem elaborou esse “índice” ou “sumário” foi o senhor, o denunciante. Por que o índice da documentação diz “documento original e tradução”? Simão Pedro – Isso foi apenas um erro da pessoa que fez a denúncia e que preparou a entrega da documentação e tentou organizar o material. Há informações parecidas nos dois documentos, mas são dois documentos diferentes. O primeiro, em inglês, dirige-se ao ombudsman da Siemens na Alemanha. O segundo, o denunciante dirige-se às autoridades brasileiras. É um outro documento baseado no documento ao ombudsman da Siemens. Apenas isso.
Sabe o que é isso? Eles estão tentando achar um carrapato na vaca e, por causa dele, matar o animal, é isso o que os tucanos querem fazer.
 

Coletiva de imprensa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo


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