terça-feira, 20 de maio de 2014

Como entender a ida do editor da Veja para a equipe de Aécio


CabralJornalista Otário Cabral
 

Uma pequena notícia que circulou hoje na internet é reveladora do que se passa na mídia.

O jornalista Otávio Cabral, editor executivo da Veja, deixou a revista para se juntar à campanha de Aécio Neves.
A pergunta que emerge é: quando, em outros tempos, um editor executivo deixaria a Veja para fazer uma campanha que, muito provavelmente, vai terminar em lágrimas?
Isso quer dizer: a não ser que ocorra uma surpresa espetacular, e nada até aqui sugere que possa ocorrer, Cabral arrumou um emprego de cinco meses.
É a morte da perspectiva de carreira na Veja e, de um modo geral, na mídia impressa.
Cabral provavelmente mudará de ramo. Primeiro, porque a mídia em que é especializado é moribunda.
Segundo, porque ele se queimou consideravelmente ao fazer o serviço sujo para a Veja contra Dirceu, de quem ele escreveu uma infame biografia que se celebrizou pelo copioso número de equívocos.
Cabral estará para sempre associado ao desvario editorial da Veja dos últimos anos. É o final de linha de uma trajetória pouco edificante no jornalismo.
Seu pedido de demissão com certeza foi recebido com alívio na Veja, não por razões técnicas – mas pela economia que representa na folha de salários da Abril.
Cada pedido de demissão é boa notícia para a Veja.
A redação foi estruturada num outro mundo – em que as pessoas liam revistas, e os anunciantes eram ávidos por anunciar na Veja.
Passou. E não volta.
Daqui para a frente, é a conhecida miséria de uma mídia que se tornou, gostemos ou não, obsoleta. Quanto tempo vai transcorrer até que a Abril saia do imponente — e caríssimo — prédio da avenida das Nações Unidas, por exemplo? Ou quando vai ser fechada a próxima revista?
Do ponto de vista de atração de talentos, a Veja morreu. Que garoto brilhante hoje pode querer trabalhar num mausoléu da mídia? A efervescência na carreira jornalística está hoje na internet. Revista é o equivalente a carroça quando surgiu uma coisa chamada carro. O jovem jornalista sonha ser um Glenn Greenwald, não um editorialista do Estadão.
Quem pode sair sai da Veja e da Abril – nem que seja, como aconteceu com Cabral, para pegar uma emprego de cinco meses para cuidar de um cavalo em quem ninguém aposta.

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