terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Por que o sucesso de um grupo alemão anti-islamização está assustando a Europa


pegida



Publicado originalmente na  DW via DCM

Uma série de protestos contra uma suposta “islamização” está agitando a Alemanha. Atos organizados pelo grupo Pegida estão reunindo grandes multidões.
Os protestos contra a “islamização” começaram em Dresden no final de 2014 e são realizados sempre às segundas-feiras. Chama a atenção que o estado da Saxônia, do qual Dresden é a capital, praticamente não tem muçulmanos. Eles representam 0,1% da população local, segundo o último censo. Quase todos os muçulmanos que vivem na Alemanha estão no lado ocidental.

O que é Pegida?

O movimento “Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente” (Pegida, em alemão) carrega os seus medos no nome. Desde meados de outubro, o grupo protesta todas as segundas-feiras de noite em Dresden contra tudo o que eles consideram como “islamização”, abuso das leis de asilo ou ameaça à cultura alemã.

Essas preocupações não se refletem em slogans abertamente racistas, mas em faixas com dizeres do tipo “Unidos e sem violência contra guerras religiosas em solo alemão”. Os manifestantes foram instruídos pelos organizadores a não falar com a imprensa. Com o aumento do número de participantes, as marchas ganharam notoriedade nacional: se inicialmente eram apenas algumas centenas de pessoas, agora já chegam a 10 mil.
Radicais de direita estão por trás do movimento?
Aparentemente não. De acordo com a associação Kulturbüro Sachsen, que monitora a cena neonazista no estado da Saxônia, não há extremistas de direita envolvidos na organização das manifestações. Entre os organizadores há, por exemplo, pessoas que já foram ligadas ao Partido Liberal Democrático (FDP).

Os organizadores se distanciam explicitamente do radicalismo de direita. No entanto, muitos neonazistas participam das marchas e apoiam o movimento. Questionado pelo jornal Sächsische Zeitung se a presença deles incomoda, o iniciador do Pegida, Lutz Bachmann, evitou responder a pergunta e preferiu afirmar que, pela lei, não pode proibir a participação de ninguém.
Quem organiza as manifestações?
Segundo o próprio grupo, uma equipe de 12 pessoas decide sobre o conteúdo do Pegida. O grupo, que pretende solicitar seu registro como associação, encontrou-se na rede social Facebook. Publicamente tem aparecido até agora principalmente Lutz Bachmann, que é orador nas manifestações. Entrevistas costumam ser rejeitadas. O pedido da DW não foi respondido.
Bachmann tem uma agência de fotografia e relações públicas, cujo site anuncia produtos “desde fotos simples para passaportes até a fotografia para imprensa ou artística, passando por fotografias de casamento”.
Segundo o Sächsische Zeitung, Bachmann, que exige uma “política de tolerância zero contra imigrantes delinquentes”, está em liberdade condicional, tendo sido condenado por tráfico de drogas. Além disso, entre as infrações penais cometidas por ele constam também roubo, furto, falso testemunho, dirigir embriagado e lesão corporal, entre outras.
Quem vai às manifestações?
Apesar da presença de neonazistas e de grupos de hooligans e gangues de motoqueiros nas marchas, cidadãos comuns formam a grande maioria dos manifestantes. “Nós vimos pessoas de classe média baixa e muitos torcedores de futebol”, disse Danilo Starosta, do Kulturbüro Sachsen. Os organizadores do Pegida conseguiram mobilizar pessoas muito além dos habituais círculos de extrema direita.
A ideia pode se espalhar?
 
Tentativas existem: em muitas cidades alemãs foram criados grupos no Facebook seguindo o modelo do Pegida. E há chances de sucesso: estudos apontam que até um quarto da população alemã é suscetível a ideias populistas de direita. Mas ao contrário do que ocorre no Reino Unido e na França, apenas uma pequena parcela considera votar em partidos políticos que seguem essa linha ou sair às ruas.
Segundo o pesquisador de neonazismo na Escola Superior de Düsseldorf, Alexander Häusler, o surgimento desse grupos em outras cidades depende de dois fatores. “É preciso estabelecer uma imagem pública de que o movimento não é conectado com o extremismo de direita e deve-se criar uma estrutura organizacional que possa se unir, a longo prazo, ao protesto local em Dresden.”
Estão ocorrendo mobilizações semelhantes também em outras cidades?
Houve uma manifestação semelhante em Düsseldorf, que reuniu cerca de 500 pessoas. Mas tanto em Dresden como em Düsseldorf ocorreram também manifestações contrárias. Na semana passada, as primeiras tentativas de estender as manifestações do Pegida não renderam: em Kassel apareceram cerca de 70 pessoas, já em Würzburg apenas 25. Ambas as marchas foram paradas por manifestações contrárias.

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