quinta-feira, 28 de maio de 2015

NA SUIÇA, SENHORES, É DIFERENTE, MUITO DIFERENTE...



No Brasil, as operações policiais são espetaculosas. A apoteose do processo não é a sentença e sim a prisão preventiva, temporária, ou o que o valha.

Nos EUA, bandido que se preza foge pelas estradas e os espectadores fazem apostas se ele chega ou não na fronteira. Grande parte torce pelo bandido! Depois do beisebol, perseguição policial é o esporte predileto do american way of life.

No Canadá, a polícia pede desculpas antes de dar a voz de prisão: “desculpe-me, cidadão, mas, por favor, queira acompanhar-me até a delegacia? Você está preso”. O cidadão replica: “pois não, senhor policial, mas posso terminar o meu cappuccino?”. O policial: “Imagina! Fique á vontade. Vou pedir um também”. É uma piada recorrente de um hipotético diálogo da polícia canadense cumprindo um mandando de prisão.

Os suíços disputam com os canadenses as gentilezas e demonstraram isso na prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin e outros seis dirigentes da FIFA, em Zurique, cumprindo carta rogatória do Departamento de Justiça dos EUA, a pedido da Procuradoria de Nova York, que acusa a turma de corrupção em altas montas.

No meio da prestidigitação estão, diz a Procuradoria de NY, bolinagens na última Copa do Brasil, organizada pela CBF, embora, para mim, indecência mesmo foi praticada na Copa do Mundo, onde a FIFA nos levou bilhões, gastamos outro tanto e até agora ainda não vi aquelas propaladas benesses  e nem o número de turistas aumentar porque “o Brasil foi visto em todo o mundo”.

Mas vamos ao bicentenário Baur au Lac, um dos mais exclusivos hotéis do mundo, onde quem se hospeda tem direito a Rolls Royce como acepipe de quarto, aonde a polícia suíça, pontual como um relógio suíço, às seis da manhã entrou – todo mundo à paisana – no luxuoso salão de mármore e dirigiu-se ao front desk, pedindo, por favor, os números das suítes dos indigitados.


Antes, os policiais já tinham estudado as mais discretas saídas do hotel. Para evitar fugas? Não. Para retirar os presos com a maior discrição possível! Eles não avisaram à Globo que fariam as prisões!

O manager do venerando Baur au Lac, acostumado a recepcionar bilionários, artistas e a realeza europeia, transmitiu, de um a um, a ordem policial em uma coreografia digna dos áureos tempos do Hotel Budapeste.

“Desculpe-me senhor, estou apenas ligando para dizer que precisaremos que você vá até sua porta e a abra, por favor, ou os policiais terão que arrombá-la”. Imagine o turbilhão psicológico de quem ouviu isso do outro lado da linha. Não, não é possível imaginar. 

Os policiais subiram, deram tempo para que os presos se recompusessem, arrumassem as malas e, acreditem: alguns policiais ajudaram a carregá-las. Por isso, entre a subida para prender e a descida para conduzir, levaram-se quase duas horas.


Os elevadores por onde os presos desceriam foram bloqueados e nas discretas saídas os veículos aguardavam. Funcionários com lençóis de pura cambraia de linho egípcio – claro, era o Baur au Lac! – aguardavam ao lado dos carros para, desfraldando-os, formar um biombo para proteger a privacidade dos presos frente a algum eventual curioso.


Quando a operação – não, não teve um nome da mitologia grega ou coisa que o valha – já havia terminado a imprensa soube e entrou em ação. Aí o vetusto Baur au Lac viveu os seus minutos de Sapucaí em pleno carnaval. 

A polícia pode até ser diferente aqui ou acolá, mas jornalistas são iguais no mundo inteiro. 
Fonte: Blog do Parsifal 5.4

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