terça-feira, 7 de julho de 2015

O RATO CARDOZO: O CREPÚSCULO DE UM ZÉ RUELA




Por: Fernando Brito

A Folha anuncia que o Ministro da Justiça pretende deixar o cargo.
Diz que é pelas “pressões do PT”.
Conversa.
Cardozo é petista há tempo suficiente e acumulou responsabilidades dirigentes no partido para 
conhecer bem o partido e ter, dentro dele, apoio suficiente se sua atuação como ministro existisse.
E não existe.

Sua gestão, para o bem e para o mal, marcou a completa ausência do poder público do debate 
jurídico e da coordenação política do aparelho policial e das relações com o Judiciário e o Ministério 
Público.
Cardozo sempre disfarçou sua abulia sob o manto da “liberdade de atuação institucional” da Polícia 
Federal e da total falta de articulação com quem quer que seja.
Foi um ministro capaz de fazer com que o Ministério da Justiça, que já foi o mais importante 
instrumento político dos governos da República, parecer uma repartição inútil.
Aconselhou, participou e foi responsável pelo momento de maior abulia de uma administração 
atacada, sitiada, solapada e agredida por todos os lados e de todas as formas, sobretudo a do desvio 
inaceitável dos ritos policiais e judiciais.
Sob sua gestão, sem nenhum tipo de reação, a Polícia Federal transformou-se, por vários de seus 
integrantes e dirigentes, um núcleo de conspiração, sem nenhuma providência. Ao ponto de 
autoridades policiais nem mesmo se pejarem de formar grupos no Facebook, chamando de “anta” a 
Presidenta da República ou brincar de dar tiros ao alvo em seus retratos.
Até na área da legislação penal, a aprovação – parcial ainda, felizmente, do maior retrocesso em 
matéria de civilização já visto neste país é uma espécie de corolário às avessas de sua passagem pelo 
Ministério da Justiça.
Isso não é democracia nem isenção. É zona. Ou se preferirem algo mais gentil, deixar à matroca.
Não se alegue que a abulia provém de Dilma. Pode ser, mas um auxiliar capaz e digno deste nome a 
estimularia a reagir e não se prestaria a ser o agente do “fazer nada”, enquanto a baderna 
institucional se espalha em sua área.
E não é por isso que, agora, manda vazar que “está de saco cheio” e pretende sair.
Tudo, no Ministro Cardozo, é falso e vaidoso.
Tanto que a mesma matéria da Folha, onde se aventa sua renúncia ao cargo, registra:
” Eles acreditam que o ministro busca, na verdade, um afago de Dilma para permanecer no governo 
fortalecido, em meio ao tiroteio petista contra sua permanência.”
É duríssima a disputa entre ele e o ministro Aloízio Mercadante pelo posto de figura mais canhestra e 
narcísica desta administração.
A saída de José Eduardo Cardozo, parafraseando o clichê, preenche uma lacuna na atuação do 
governo ou, no máximo, implicaria na substituição do do nada por coisa alguma.
Politicamente, porém, representaria um golpe – mais um – na cambaleante autoridade da Presidenta, 
que já percebeu que, como seus auxiliares não a defendem, tem de defender sua própria honra, o que 
lhe traz desgastes e polêmicas sobre os limites de suas declarações, como a feita em Nova York 
sobre a natureza dos delatores.
Até mesmo figuras lamentáveis como Eduardo Cunha e Renan Calheiros são capazes de se defender 
e o fazem.
Porque quem não se defende está fadado a, merecendo ou não, cair.
Ou, como faz agora o quase-ex-dândi da Justiça, podendo, pular do barco adernado.
O que, aliás, diz muito de sua natureza.

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