Derrubar Dilma terá um preço muito alto, diz Ciro Gomes
Depois de um período que batizou de “desintoxicação da política”, o
ex-ministro Ciro Gomes, 57, voltou à cena atirando. Recém-filiado ao
PDT, ele acusa a oposição e o vice-presidente Michel Temer de apoiarem
uma “escalada do golpismo” contra a presidente Dilma Rousseff.
Ciro diz que o Brasil viverá “momentos tensos” de radicalização
política se a Câmara autorizar a abertura de um processo de impeachment.
Na última quarta-feira (16), ele foi lançado pré-candidato à
Presidência em 2018. Já disputou o cargo duas vezes, em 1998 e 2002,
quando recebeu 10,2 milhões de votos.
*
Folha – Como o sr. vê a articulação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Ciro Gomes - A democracia está ameaçada pelo
golpismo. Está acontecendo uma escalada do golpe com apoio da oposição,
que não aceitou o resultado das eleições.
Não gostar do governo não é causa para impeachment. Isso é um
mecanismo raro, a ser usado em caso de crime de responsabilidade
imputável direta e dolosamente ao presidente. Ninguém tem nada disso
contra a Dilma.
Seria muito caro o preço de uma interrupção do mandato. É só olhar a
Venezuela. Quem produziu aquele quadro lá foi esse tipo de antagonismo
odiento. O país vai viver momentos tensos e graves, vizinhos à
violência, por causa desses loucos.
Quem iria às ruas defender o mandato de Dilma?
Estarei na primeira fila. Muitos brasileiros vão se perfilar. Não é
para defender a Dilma, é para defender a regra. Veja o que já aconteceu
quando um mandato foi interrompido por renúncia, suicídio ou
impedimento.
O impeachment pode ser a catarse de quem está zangado, mas no dia
seguinte os problemas serão os mesmos. Só que agora o PT, a CUT e os
servidores estarão em pé de guerra com um presidente sem legitimidade.
Uma parte das pessoas está nisso de boa fé porque não sabe que quem
assume é o vice, Michel Temer, que é do PMDB e amigo íntimo do Eduardo
Cunha. Mas tem pessoas de muita má-fé.
A quem o sr. se refere?
A Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. O PSDB está fazendo isso
por pura vingança. Em 1999, quando houve a desvalorização violenta do
real e a popularidade do presidente foi ao chão, o PT começou com o Fora
FHC.
O comportamento do Fernando Henrique é constrangedor. Como dizia
Brizola, ele está costeando o alambrado do golpe. Qual é a proposta do
PSDB? Ficar contra o fator previdenciário e a CPMF, que eles criaram?
Contra o ajuste fiscal, que eles introduziram como valor supremo?
Por que Dilma está tão fraca?
O maior problema do governo não é o escândalo, é a mentira. A zanga
do povo não é propriamente com a corrupção, que é chocante, mas com o
sentimento de ter sido enganada. A gente votou em um conjunto de valores
e está recebendo o oposto.
O governo tem que se reorganizar politicamente e fazer uma gestão
econômica coerente com o discurso que lhe deu a vitória. Ainda há tempo.
O problema é que ela não tem projeto nem equipe.
A equipe da Dilma é de quinta, salvo exceções. Quem bota a
[ex-ministra] Ideli Salvatti para tomar conta de uma situação dessa
complexidade está pedindo para morrer.
Aí ela entrega a coordenação política ao vice, que distribui todos os
cargos importantes ao PMDB e depois lava as mãos e sai. É uma coisa de
cinema, rapaz. E os escândalos da Dilma 2.0 vão surgir dos nomeados por
ele.
Nunca vi um vice-presidente se mexer tanto. O Temer foi dar palestra
para um movimento que está no golpe contra a Dilma e fez uma frase que
não admite dupla interpretação. Onde está escrito na Constituição que
uma presidente com 7% [8%, segundo o Datafolha ] de aprovação não se aguenta no cargo?
Ele quer a cadeira dela?
Vá ver se o José Alencar [vice de Lula], na crise do mensalão, saiu
fazendo palestra e dizendo que era preciso achar alguém para unir o
país. Eu costumo não ser idiota.
Como vê o novo pacote fiscal ?
É ilusionismo, mas 70% não sai do papel. E a medida mais importante
[a recriação da CPMF] não podia ter sido anunciada daquele jeito.
A receita está despencando por causa da recessão que esses malucos
estão produzindo. Se o governo não atrapalhasse com a taxa de juros, o
Brasil poderia achar o caminho antes do que se supõe. O governo está
atrapalhando.
Hoje a inflação é provocada por câmbio e preços administrados, dois
setores sobre os quais os juros não têm o menor efeito. E os maiores
bancos estão tendo lucro 40% acima do ano passado. Estão ganhando com a
crise.
O sr. quer disputar o Planalto?
Acho extemporâneo falar de candidatura agora. Mas eu já fui candidato duas vezes, não posso disfarçar.
O PDT é seu sétimo partido. Como explica tantas mudanças?
Minha vida partidária é uma tragédia, muito ruim mesmo. Mas mudo de
partido, não de convicções. Tenho 26 anos de vida pública e nunca
respondi a um inquérito.
–
Pedetista se recusou a apoiar Fora FHC
O ex-ministro Ciro Gomes fez oposição firme ao governo Fernando
Henrique Cardoso, mas foi contra o movimento Fora FHC, liderado por
petistas que queriam tirar o tucano da Presidência em 1999.
Terceiro colocado na eleição do ano anterior, ele criticou o grupo e
disse que o Brasil corria risco de entrar em uma “guerra civil”.
Ciro apoiou o impeachment de Fernando Collor, em 1992, e foi ministro
da Fazenda no governo Itamar Franco, que o substituiu. Ele diz não ver
semelhanças entre Dilma e Collor.
Na época, sustenta, havia provas contra o presidente e a ação foi
assinada “por um conjunto respeitabilíssimo de entidades”, incluindo a
OAB.
“Não foi um ex-petista aborrecido, que já não está no seu melhor
momento”, diz, criticando o advogado Hélio Bicudo, 93, que pediu o
afastamento de Dilma.
“E o vice era Itamar, um homem decente que deu ordem ao país”, acrescenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário