Os procuradores e autoridades conexas da Lava Jato se declaram
profissionalmente católicos, isto é, de visão universalista, sem aversão
aos recém-convertidos ao mundo da moralidade nem intimidados por
altares poderosos. Do mais alto cume ao modesto montículo da montanha de
autoridades, eles anunciam que extrairão a golpes de delações
premiadas, indícios e sussurros, a morrinha da corrupção exalada pela
Petrobrás e sua antiga auréola, agora penico, de empreiteiras.
Esse radicalismo vertical ora se apresenta em discreto namorico com o
ferrabrás princípio de que o fim justifica os meios, ora desconsidera
pistas ao recusar que os mesmos meios possam justificar a descoberta de
novos fins. Os agentes costumam desqualificar as suspeitas sobre a
lisura de seus procedimentos por que se sustentam no valor de face do
noticiário da imprensa.
Negligenciam o detalhe de que um noticiário jornalístico fragmentado,
além de parcial, é o que resta ao público interessado. Justificados pela
transparência democrática, quando convém, e pela preservação da
inocência de investigados não condenados, quando assim arbitram, os
funcionários da Polícia Federal e do Ministério Público ora vazam
trechos de delações, ora distribuem fotocópias de documentos sem
contexto, ora informam que há novos depoimentos de
delatores-arroz-de-festa e ora liberam balões batizados e crismados com
nomes e apelidos de possíveis futuros presidiários.
Tal política de comunicação condiciona a imprensa e, através dela, os
leitores atentos, deixando-os à mingua de uma visão coerente da catadupa
de informações desencontradas, dezenas de nomes que se atropelam para
retornar mais tarde, repetindo-se à exaustão propagandística a tipologia
dos crimes de que estariam sendo acusados. O parentesco com manipulação
de informação e produção subliminar de consenso, negativo, no caso, é
inegável.
O sempre surpreendente desenrolar do processo enfrenta a acusação de estar contaminado por preferências político-partidárias. Repelida com veemência, por vezes com petulância e grosseria, a acusação, contudo, se apoia em indícios genuínos, a limitação temporal da investigação sendo o mais óbvio deles. Despachos e justificativas oficiais poderão, no futuro, esclarecer porque só cabem no processo os ilícitos ocorridos durante governos trabalhistas. Ainda segundo o ralo estoque informativo de que se dispõe, mais de um delator, implicado, suspeito, indiciado, público ou privado, ofereceu confissões bastante abrangentes, partidária e temporalmente.
O sempre surpreendente desenrolar do processo enfrenta a acusação de estar contaminado por preferências político-partidárias. Repelida com veemência, por vezes com petulância e grosseria, a acusação, contudo, se apoia em indícios genuínos, a limitação temporal da investigação sendo o mais óbvio deles. Despachos e justificativas oficiais poderão, no futuro, esclarecer porque só cabem no processo os ilícitos ocorridos durante governos trabalhistas. Ainda segundo o ralo estoque informativo de que se dispõe, mais de um delator, implicado, suspeito, indiciado, público ou privado, ofereceu confissões bastante abrangentes, partidária e temporalmente.
São obscuras as razões da rejeição a esses capítulos confessionais. Pela
crua lógica do fenômeno universal da corrupção, são os partidos no
poder que aproveitam as oportunidades de predação e, aí, sim,
constituiria transcendente novidade histórica a descoberta de grande
número de representantes da oposição no condomínio da ilicitude. Era só o
que faltava, diria Maquiavel.
Sendo a presença de oposicionistas naturalmente raras, no período, muito
mais incompreensível é a aversão de juízes, policiais e procuradores a
denúncias que ultrapassem os mandatos do PT e seus aliados.
O radicalismo vertical da Lava Jato, punindo das mais notórias personagens ao entregador de envelopes com dinheiro sujo, está longe de ser um processo efetivamente católico.
O radicalismo vertical da Lava Jato, punindo das mais notórias personagens ao entregador de envelopes com dinheiro sujo, está longe de ser um processo efetivamente católico.
Distender o eixo horizontal do tempo livraria a investigação da suspeita
de partidarismo vertical por oportunismo temporal. Para ser católico, o
processo e seus agentes devem se render ao tempo cívico e completar o
sinal da cruz.
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