Sindicatos e Comissão da Verdade pedem ao Ministério Público abertura de
inquérito sobre atividades da montadora alemã durante o regime militar.
Acusação é de que 12 ex-funcionários foram torturados em fábrica.
Uma série de sindicatos e a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entraram
com um pedido de abertura de inquérito civil contra a montadora alemã
Volkswagen, sob a acusação de violação dos direitos humanos dentro de
suas fábricas em São Bernardo do Campo durante a ditadura militar
(1964-1985).
A representação protocolada no Ministério Público Federal (MPF)
averiguará a responsabilidade da empresa alemã sobre casos relatados de
perseguições e torturas que, segundo a denúncia, "configuram crimes
contra a humanidade".
Segundo a advogada Rose Cardoso, outros trabalhadores foram demitidos ou
colocados em listas negras utilizadas pelos militares. Ela faz do grupo
de advogados que coordenou o trabalho de investigação da Comissão
Nacional da Verdade, criada em 2012 pela presidente Dilma Rousseff para
investigar crimes durante a época da ditadura militar no Brasil.
Em dezembro, um
relatório final da Comissão Nacional da Verdade afirmou que subsidiárias alemãs
, incluindo a Volkswagen, colaboraram com o regime militar no Brasil por
volta de 1972. O relatório revelou a existência de um aparato
repressivo militar-empresarial, na qual as firmas monitoravam
funcionários, repassando informações e fazendo denúncias ao Departamento
de Ordem Política e Social (Dops).
Além disso, indicou empresas que contribuíram moral e financeiramente
com o golpe de 1964 e com a Operação Bandeirante (Oban), um aparelho de
repressão montado pelo Exército. Várias empresas nacionais e
multinacionais são citadas no relatório. Entre as alemãs estão a
Volkswagen, Mercedes-Benz e Siemens. As três foram apontadas por
contribuir com recursos à Oban.
O documento, no entanto, apresentou com mais detalhes a participação da
Volkswagen e sua contribuição com o regime militar: "Sobre a Volkswagen
do Brasil, existe ainda uma profusão de documentos que comprovam a
cooperação da empresa com órgãos policiais de segurança do Dops."
"A Volkswagen não foi a única empresa envolvida, mas teve um papel de
gestão em São Paulo e, até mesmo, coordenou outras companhias", disse
Sebastião Neto, do Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e
Reparação. "Eles me levaram algemado para o departamento de recursos
humanos e lá começaram a me torturar", afirmou Lúcio Bellentani, um
militante comunista e ex-funcionário da Volkswagen.
A ação judicial contra a montadora alemã ocorre em meio a um escândalo
global envolvendo a Volkswagen, que admitiu ter manipulado testes de
emissões de poluentes em seus carros no mercado americano.
Artwork artist Kirill Chundinskiy
Artwork artist Kirill Chundinskiy
Nenhum comentário:
Postar um comentário