Já se disse que o fracasso da Conferência de Copenhague não se originou da incapacidade dos governos, ou de sua inércia, sim da impopularidade, entre o grande público, das medidas apontadas como necessárias pelos especialistas contra o aquecimento. Deixar de usar o carro, consumir menos energia, pagar preços mais caros por matérias-primas e combustíveis renováveis – nada disso encanta o bilhão de pessoas de alto consumo no mundo. A inércia de seus governos é apenas resultado disso.
Por isso mesmo a opinião pública mundial, especialmente nos países mais avançados, acreditou piamente nos sucessivos desmentidos surgidos a partir da passagem do ano quanto à cientificidade das teses sobre o aquecimento global, em particular os relatórios do Painel Internacional sobre Mudança Climática, o famoso IPCC (sigla em inglês) da ONU, que a cada ano divulga informes mais alarmantes sobre o aquecimento global. Agora se põe em dúvida a correção dos relatórios do IPCC, que teriam sido feitas a partir de medições errôneas da temperatura, por exemplo na China, e do derretimento de geleiras, particularmente na Índia.
Os chamados climategate e glaciergate (os nomes aludem ao escândalo Watergate, nome do prédio em que estava a sede do Partido Democrata espionada por agentes do governo Nixon), ou seja, o “escândalo do clima” e o “escândalo das geleiras”. Tudo começou quando a imprensa britânica publicou mensagens eletrônicas confidenciais da Universidade de East Anglia, dizendo que elas comprovavam que cientistas partidários do combate ao aquecimento global estavam mandando esconder dados que desmentiam as suas teorias. Eles negavam a cidadãos comuns, não-cientistas, o acesso a esses dados. Os cientistas da universidade alegaram, em sua defesa, que esses cidadãos comuns eram na verdade “antiecochatos” profissionais, financiados por empresas interessadas em manter atividades que levam à degradação do meio ambiente, que só pediam dados isolados que lhes permitissem atacar a tese do aquecimento global. De todo modo, o prestigioso “Financial Times”, o principal jornal econômico do mundo, chamou a atitude dos cientistas de “ultrajante” – afinal, eles estavam negando informações de interesse de toda a comunidade. No entanto, o repórter investigativo do também prestigioso jornal The Guardian, Fred Pearce, após exaustiva pesquisa, concluiu que nenhum dos dados omitidos tinham qualquer relevância científica. Mas é inegável que a impressão que ficou é que os cientistas estavam omitindo dados relevantes.
Se esse é o “escândalo do clima”, muito mais danoso, para os partidários do combate ao aquecimento global, é o “escândalo das geleiras”, que atinge o centro de tudo – os dados em que o IPCC se baseou para tirar as suas conclusões. Descobriu-se que a previsão de que, a continuar o ritmo de aquecimento atual, as geleiras em todo o mundo iriam estar totalmente derretidas em 2035, não estava baseada em nenhuma pesquisa científica e numa multidão de centenas de milhares de medidas nas geleiras, mas simplesmente numa hipótese lançada por um obscuro cientista numa entrevista em 1999, isto é, num simples palpite. O IPCC, diante da denúncia, afirmou desajeitadamente que se tratava de um “erro isolado” que não tinha importância, tendo em vista as 3 mil páginas de “dados sólidos” de seus relatórios.
A prestigiosa revista científica Nature chiou – e de repente se descobriu que ela é associada à editora MacMillan, de um conglomerado de empresas que defende a tese de que não é necessária nenhuma medida contra o aquecimento global simplesmente porque, segundo o conglomerado, não existe nenhum aquecimento global.
Moral da história: o meio ambiente poderia dizer, Deus me livre dos meus amigos, que dos inimigos me livro eu. Ou, como diz o jornalista ambientalista Chris Cummins: “Gafes de cientistas minam a energia do movimento de ação contra a mudança de clima”.
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Por Renato Pompeu
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