terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ilha de chumbo Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, trata do campo de concentração de Pinochet projetado por nazista

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CINEMA

A história de uma ilha transformada em “campo de concentração” é o mote para retratar uma das mais longas e sangrentas ditaduras da América Latina. Indicado a três festivais de cinema – incluindo o Oscar de melhor filme estrangeiro –, “Dawson Ilha 10”, que estreou sexta-feira nos cinemas (dia 25), conta como foi o confinamento numa remota ilha no extremo sul do Chile onde ficaram dezenas de presos políticos, incluindo todos os ministros e autoridades do governo Salvador Allende, deposto pelo general Pinochet em 1973.

Divulgação

Felipe Sáles

Na gelada ilha, os presos foram submetidos a violentos interrogatórios, trabalhos forçados e constantes torturas físicas e psicológicas. Não à toa, a prisão cercada de água por todos os lados foi projetada por Walter Rauff, nazista refugiado no Chile na época. A Ilha Dawson fica a cem quilômetros ao sul da cidade de Punta Arenas, a dois mil quilômetros da capital Santiago. O lugar chegou a abrigar 600 presos políticos.
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Numa das primeiras cenas do filme, um general diz que, “a partir de agora, vocês não têm mais nome, não têm passado, nem futuro. Vocês não são mais chilenos, são prisioneiros de guerra”. Orlando Letelier, diplomata e ativista político, refuta dizendo: "eu sou chileno, nasci chileno e serei chileno". Pouco tempo depois, Letelier deixaria a ilha e seria assassinado em Washington, nos Estados Unidos, numa ação atribuída à Operação Condor.
Fruto de uma parceria entre Brasil, Chile e Venezuela, o filme foi baseado no livro “Isla 10” de Sérgio Bitar, ex-ministro do governo Allende e, consequentemente, ex-prisioneiro de Dawson. Lá, cada preso foi chamado de “ilha”, acompanhado de um número. “Ilha 10” é como Bitar passou a ser chamado.
 
Diretor entrou no Chile disfarçado e fotografou Pinochet

O dia 11 de setembro de 1973 ficou marcado na história chilena depois que as tropas golpistas cercaram o Palácio La Moneda, sede do governo.  Allende morreu nesse dia e, desde então, o motivo de sua morte mobiliza discussões no país. Oficialmente, ele teria se suicidado, mas esta versão nunca foi aceita por sua família e correligionários, que sustentam que Allende foi assassinado. Neste ano, porém, foi feita uma autópsia no corpo do ex-presidente, que confirmou a versão do suicídio.
Fato é que, após a morte de Allende, seus assessores diretos chegaram à Ilha Dawson já no dia 11 de setembro. O presídio político seria fechado apenas em 26 de setembro do ano seguinte, relegando aos sobreviventes cicatrizes que levariam para o resto da vida. Para recontar a história, o diretor Miguel Littín chegou a usar imagens reais da época.
“Documentário e ficção dividem a tela. A natureza pode ser mãe e madrasta. A doce pátria é dura. Portanto, este é um filme duro e lúcido, como aqueles homens que relataram o testemunho de suas vidas”, comparou Littin.
Não é a primeira vez que Littín se debruça sobre o tema. Em plena ditadura chilena, o diretor, apesar ter sido exilado, voltou ao Chile disfarçado e conseguiu captar algumas das melhores imagens dos anos de chumbo do país – inclusive de Pinochet dentro do Palácio de la Moneda. Não dele, inclusive, um dos primeiros filmes lançados sobre o tema, o “Acta general de Chile” (1986). Gabriel Garcia Márquez, impressionado com a ousadia de Littín, dedicou um livro à história, chamado “A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile”.
 
Participação brasileira
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O cineasta brasileiro José Walter Lima (foto acima), que coproduziu o filme, destaca a violência da ditadura chilena quando comparada à do Brasil. Porém, ele pondera que só o trabalho da Comissão da Verdade – que, por sinal, já aconteceu no Chile – poderá nos mostrar a dimensão da violência nos porões dos anos de chumbo do Brasil.
“Aparentemente, a ditadura chilena foi a mais violenta. Acontece que, no Brasil, ainda não podemos fazer uma avaliação mais profunda da situação porque muitas coisas não foram reveladas. Por isso, devemos dar todo apoio à Comissão da Verdade. Só assim podemos fazer uma comparação mais profunda entre as duas ditaduras. O que podemos afirmar é que ambas foram de uma violência extrema e causaram danos irreversíveis, não só para suas vítimas, mas para toda a nação”, argumenta o diretor.
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O ator brasileiro Bertrand Duarte atua no filme como M. Lawner, diretor e arquiteto da Corporação de Melhoramento Urbano do governo Allende. Outro ator brasileiro no filme é Caco Monteiro, que faz o papel de Fernando Flores, engenheiro e ministro das Finanças. A equipe brasileira se completa com os técnicos Simone Dourado e Nicolas Hallet. Inicialmente, o filme será exibido apenas em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

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