Depois de exaustivamente repercutirem a vitória de Aung San Suu Kyi e
do seu partido político (Liga Nacional para a Democracia) nas eleições
parlamentares complementares em Myanmar (ex-Birmânia) ocorridas no
domingo passado (1-IV-2012), os jornais europeus dedicam-se a especular
sobre a volta à democracia, nas eleições gerais de 2015.
Não faltam, nessas especulações, comparações com (a) o fim do
apartheid na África do Sul(1974), (b)a queda, a partir do plebiscito
histórico de 1988, da ditadura golpista de Augusto Pinoceht iniciada em
1973 e, (c)até se compara , com o fim do franquismo em face da morte do
ditador espanhol em 1975. São lembradas, também, a queda do Muro de
Berlim (1989) e as primeiras eleições livres na Polônia (1989), pós a
ditadura pró soviética do general Jaruzelski. Lógico, não falta menção à
perestróica gorbachioviana.
Todos, sem dúvida, torceram pela vitória da carinhosamente chamada
“Senhora das Guirlandas (tem sempre uma flor presa nos cabelos), de 66
anos de idade e mais de 15 anos de prisão domiciliar incomunicável.
Filha do herói da independência Aung San assassinado por golpistas
militares, a Nobel da Paz de 1991 nunca quis sair do seu país. Abertura
para isso não faltaram e a Junta Militar ditatorial acenou com um
exílio. Algo tentador para ela que vivia incomunicável em prisão
domiciliar, era formada por Oxford e que foi constantemente proibida de
sair, para fim temporário da Birmânia (só definitivamente, em exílio
admitiam os militares). Convém recordar que Suu Kyi não pode deixar o
país para acompanhar os funerais do marido britânico Michael Aris e nem
para receber o prêmio Nobel.
Ontem, Suu Kyi, que prega a não violência e a democracia, soltou
frases estudadas. E até desfilou em carro aberto: - “ Nós esperamos que
essa vitória seja o início de uma nova era de modo ao povo ser colocado
no centro da política”. “Vamos criar uma atmosfera genuinamente
democrática no nosso país e que outros partidos políticos nos ajudem
para isso”.
Apenas 45 cadeiras parlamentares foram objeto de preenchimento, num
país ondem existem parlamentares “biônicos”, ou seja, nomeados pelos
militares. Isso para lhes assegura a maioria.
Desde 2010, com eleições fraudadas, os militares resolveram dar uma
“maquiada” no regime. O chefão maior, general Thein Sein, foi para a
reserva. Com isso, se diz que o país é presidido por um civil, vencedor
da eleição de 2010 graças a fraude.
A propósito, o partido de Suu Kyi não concorreu às eleições de 2010
até porque era certa a fraude. Também para continuar a protestar pelas
eleições de 1990, quando Suu Kyi deveria assumir a chefia do governo em
razão de o seu partido ter conquistado 392 das 485 cadeiras
parlamentares disputadas. À época, a Junta Militar impediu os vencedores
das eleições de 1990 de assumirem os cargos.
A Birmânia vive sob ditadura militar desde de 1962. O primeiro
golpista, pós a independência dos britânicos em 1946, foi o general Ne
Win. Ele acabou derrubado por outro golpe militar em 1988. Até o nome do
país foi mudado, pois os golpistas militares não são da etnia birmana,
que representa mais de 59% da população. Para fugir à pressão popular, e
das derivadas das pacíficas e silenciosas passeadas dos monges, os
militares construíram uma nova capital administrativa.
Sobre mudanças, o atual presidente Thein Sein, — que cobriu a filha
de diamantes no casamento (o país possui reserva de diamantes controlada
pelos militares)–, deu uma quinada que o Ocidente interpreta como
mudança na geopolítica. Ele está se distanciado da China e até rescindiu
um contrato milionário de construção, pelos chineses, de uma represa
gigante e em condições de abastecer uma hidroelétrica ( no povoado
miserável onde foi eleita Suu Kyi não existe luz elétrica, escolas e
postos de saúde). Por outro lado, permitiu o presidente Sein, em
dezembro, que a secretária de estado Hillary Clinton visitasse Suu Kyi.
Com a eleição de Kyi e a passagem de Hillary já se fala em
levantamento do embargo norte-americano. Embargo causado não só pela
ditadura mas por Myanmar formar o chamado Triângulo do Ópio e ser o
grande fornecedor de drogas sintéticas da Ásia. O maior traficante do
mundo oriental, morto há poucos anos, era protegido pela Junta Militar.
Pano rápido. Toda essa euforia começou, desde ontem, a ser
desfrutada na campanha de Barack Obama. A vitória de Suu Kyi está, nos
EUA, sendo considerada como uma vitória da nova diplomacia de Barack
Obama.
Wálter Fanganiello Maierovitch - De Roma, exclusivo para o Portal Terra
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