Ativista chinês deixa embaixada dos EUA em Pequim
Por CLÁUDIA TREVISAN, CORRESPONDENTE / PEQUIM - O Estado de S.Paulo.
PEQUIM - O ativista chinês cego que escapou recentemente da prisão domiciliar para buscar abrigo na embaixada dos Estados Unidos em Pequim deixou a representação americana nesta quarta-feira, 2.
PEQUIM - O ativista chinês cego que escapou recentemente da prisão domiciliar para buscar abrigo na embaixada dos Estados Unidos em Pequim deixou a representação americana nesta quarta-feira, 2.
Chen Guangcheng, que fugiu de um vilarejo rural com a ajuda de amigos
e outros ativistas, ficou seis dias na embaixada, gerando uma crise
diplomática entre Washington e Pequim.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que está em Pequim
para conversações estratégicas, disse que Chen saiu da embaixada "por
vontade própria" e de acordo com "os valores americanos". Segundo
Hillary, o governo chinês deu garantias de que permitirá que Chen
"busque uma educação universitária em um ambiente seguro".
Chen, um advogado autodidata cegado na infância por uma doença,
escapou na semana passada depois de ficar 20 meses sob prisão
domiciliar. O ativista ganhou notoriedade mundial por expor
esterilizações forçadas e abortos tardios sob a política do filho único
da China e por usar seu conhecimento legal para ajudar pessoas a lutarem
contra outras injustiças.
O asilo nos EUA pode garantir a segurança e a integridade física de
Chen Guangcheng e sua família,
mas também é o caminho para o esquecimento e a insignificância política, como mostra a trajetória de outros exilados chineses. O caso que mais se parece com o de Chen é o de Fang Lizhi, astrofísico que se refugiou na Embaixada dos EUA em Pequim em junho de 1989, logo após a repressão aos protestos da Praça Tiananmen.
mas também é o caminho para o esquecimento e a insignificância política, como mostra a trajetória de outros exilados chineses. O caso que mais se parece com o de Chen é o de Fang Lizhi, astrofísico que se refugiou na Embaixada dos EUA em Pequim em junho de 1989, logo após a repressão aos protestos da Praça Tiananmen.
Fang e sua mulher, Li Shuxian (foto acima), ficaram 13 meses na missão diplomática americana, antes de os governos dos dois países chegarem a um acordo sobre a saída do casal para os EUA. O astrofísico nunca mais conseguiu autorização para voltar à China e morreu em solo americano em abril. No mesmo dia da morte de Fang, 7 de abril, um grupo de exilados que participaram dos protestos da Praça Tiananmen voltou a pedir autorização para visitar a China. Entre eles, está Wang Dan, que deixou a prisão para "tratamento médico" nos EUA, em 1996, e nunca mais conseguiu voltar.
Wang Dan |
"Os dissidentes chineses aprenderam ao longo das duas últimas décadas que o exílio leva a um acentuado declínio na habilidade pessoal de influenciar alguma coisa dentro da China. Liu Xiaobo,
Liu Xiaobo |
vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que agora está no terceiro ano de uma sentença de 11 anos de prisão por subversão, deixou claro depois de sua captura que não aceitaria o exílio como uma opção à prisão", escreveu o especialista em literatura chinesa Perry Link.
países tentam acordo antes da chegada de Hillary a Pequim
EUA e China tentam chegar a um acordo sobre o destino do
ativista cego Chen Guangcheng antes da chegada a Pequim da secretária
de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na quarta-feira. Para Bob Fu,
presidente da entidade ChinaAid, a solução mais provável é o asilo
político nos EUA. "Chen e sua família podem ter de sair do país para
tratamento médico", disse Fu ao Estado, citando fontes próximas aos dois
governos. "A disposição da China é encontrar uma rápida solução para o
caso."
Autoridades chinesas e americanas continuaram ontem a negociar um
acordo sobre Chen, que escapou de prisão domiciliar há nove dias e está
sob proteção de diplomatas dos EUA em Pequim. Os dois lados se recusam a
comentar o assunto. O presidente Barack Obama não quis confirmar se
Chen está na embaixada e se limitou a dizer que a "relação com a China
será mais forte à medida que se vejam melhoras com relação aos direitos
humanos".
O ativista era mantido confinado em sua casa na Província de
Shandong havia 19 meses, desde que cumpriu a pena de 4 anos e 3 meses de
prisão a que havia sido condenado em 2006. A detenção domiciliar não
tinha base legal nem decorria de uma condenação judicial.
Hillary chega amanhã para participar do Diálogo Estratégico e
Econômico entre os dois países. A hipótese de asilo é considerada remota
por Hu Jia, um dos dissidentes que ajudou a planejar a fuga do
ativista. "Na última vez em que nos encontramos, ele me disse que
pretendia permanecer na China", disse. Hu foi interrogado por 23 horas
no fim de semana sobre a fuga de Chen e liberado no domingo à noite. Guo
Yushan, que também ajudou na execução do plano, foi solto após três
dias de detenção. Só He Peirong, a mulher que levou Chen de carro até
Pequim, continua presa.
A permanência de Chen na China só será possível se Pequim der garantias de que ele e sua família não sofrerão represálias e haverá um fim à violência a que eram submetidos. Resta saber se o Partido Comunista estará disposto a fazer essa concessão.
Bo Xilai |
A fuga do ativista ocorreu em um momento delicado para Pequim, que já
enfrenta o escândalo de Bo Xilai, que era um dos principais candidatos
ao órgão máximo de comando do Partido Comunista até cair em desgraça no
mês de março.
Blog militânciaviva
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