Em artigo exclusivo para o 247, o jornalista
Daniel Quoist afirma que a escolha do deputado federal Ricardo Berzoini
(PT-SP) para o ministério das Relações Institucionais, no lugar de Ideli
Salvatti, é "certeira" por diversos motivos; para o colunista, Berzoini
"tem um talento especial para a articulação", ao mesmo tempo em que é
"leal" e "desenvolve um tipo de liderança inegoística"; acima de tudo,
diz Quoist, "é um sujeito de princípios e tanto quanto possível, imune
aos dardos da vaidade"; posse do petista será nesta terça-feira 2
Por Daniel Quoist, para o Brasil 247
No fundo, tudo se resume a colocar a pessoa certa no lugar certo. E a
escolha do deputado Ricardo Berzoini para ministro da Articulação
Política do governo Dilma Rousseff foi certeira por diversos motivos.
Arrisco-me colocar no papel alguns deles.
Berzoini desenvolve um tipo de liderança inegoística, não é aquele
sujeito que vê os cargos como ferramentas para conquistas pessoais.
Berzoini tem na lealdade sua principal marca - é petista histórico,
não de ocasião, muito menos desgarrado de outras costelas partidárias
tão logo os trabalhadores subiram a rampa do Planalto com o seu PT.
Berzoini conserva consigo ainda aquele jeito macro de fazer política
que era tão marca registrada do ex-ministro Luiz Gushiken (1950-2013),
aliás foi escolhido pelo China para ocupar seu lugar na Câmara dos
Deputados quando por motivos maiores resolveu abdicar da luta partidária
em 1997 e os dois são companheiros e bancários das antigas - remontam
as greves de bancários históricas que irromperam em meados dos anos 1980
e foram extremamente bem sucedidas.
Berzoini tem um talento especial para a articulação - não é de mimimi
nem de trolóló, diz a que veio, lança os desafios, arregimenta forças
para vencê-los e consegue ser sempre o mesmo, vencendo ou não taos
desafios.
Não dá pra comparar com antecessores
Berzoini é muito diferente de seus antecessores nesse
ministério-chave, ainda mais em ano de (re)eleição: transita super bem
com a nata do comando petista, a começar pelo ex-presidente Lula,
passando pelo ministro-chefe da Casa Civil Aloísio Mercadante, pelo
presidente do PT Rui Falcão e por lideranças consolidadas como as
exercidas por Vicente Paulo da Silva, o nosso aguerrido Vicentinho,
Arlindo Chinaglia, André Vargas e Cândido Vaccarezza; o mesmo não se
poderia dizer nem de longe se comparados aos perfis de Luiz Sérgio e
Ideli Salvatti.
Berzoini é um caça-talentos por natureza - sabe quem melhor pode
assessorá-lo, identifica-os, e lhes nutre com um senso de missão, coisas
cada vez mais raras nessa política rame-rame de ocupar postos, cargos e
funções no governo. Longe de se contentar com as mesmas assessoria de
sempre, ao contrário, está sempre receptivo a novas ideias, reflexões e
insights.
Por fim, mas não por último, Berzoini sabe bem demais que o PT não é
autossuficiente em nada, ao contrário, para tudo precisa do apoio, da
parceria e da união de forças com o PMDB, o partido que desde a
redemocratização do país em 1985 tem sido o fiel da balança chamada
governabilidade. A essas alturas da vida pública o ex-bancário e
ex-sindicalista paulista sabe que são muito mais os defeitos que unem os
dois partidos que suas qualidades - e dentre esses defeitos o desejo de
ter ascendência, poder e prestígio sobre tudo o que possa impactar o
desenvolvimento do Brasil.
Livre do vírus da vaidade
Mas, acima de tudo, é um sujeito de princípios e tanto quanto
possível, imune aos dardos da vaidade, vaidade essa que lançou ao
ostracismo tantos ex-luminosos líderes políticos, da direita à esquerda;
e assim para quem já está em seu quarto mandato na Câmara dos
Deputados, tendo sido ministro da Previdência e também do Trabalho no
governo Lula (2003-2010) e também presidente do PT nacional em um
momento claro de crise interna, quem vai ao encontro de Ricardo Berzoini
em seu prosaico gabinete no Anexo IV, sala 345 da CD, chega mesmo a se
surpreender com o fato que não é a função nem o cargo público que o
engrandece, mas a verdade é que ele sabe engrandecer os cargos por onde
passa.
Quem espera que o novo ministro seja não mais que reativo encontra-se
redondamente. Porque não é este o seu perfil nem o seu feitio.
Quem conhece Berzoini sabe que é uma máquina para trabalhar, sua
oficina mental tem sempre novas ideias queimando na caldeira: uma delas,
retomar as ideias do Gushiken de pensar o Brasil a longo prazo, a salvo
dos períodos eleitorais quadrianiais, afinal, entende Berzoini que os
líderes políticos nascem, crescem, maturam, frutificam e cedem lugar a
outros para cumprir o mesmo ciclo - o que não muda é o Brasil enquanto
campo fértil para mudanças que lhe propiciem o lugar de destaque que
merece no concerto das nações.
A oposição tucana é muito mais ao Brasil que ao PT
Atrevo-me a antever que o maior apoio que a presidenta Dilma Rousseff
possa dar à campanha de sua própria reeleição é dar carta branca a
Berzoini, ligar para ele para agradecer vitórias (das pequenas às
maiores), "empoderá-lo" como ministro-chave que é, dividir os louros que
virão com Mercadante e os demais ministros que tratam das questões
políticas e de governo, do contrário, prestará um grande desserviço à
Nação e um excelente serviço à oposição tucanodemista.
Temos que convir que essa oposição que temos é muito mais uma
oposição ao Brasil que uma oposição ao PT. Esta oposição torce, com
afinco, para que o Brasil naufrague nas águas turvas da
ingovernabilidade, do descrédito de suas instituições públicas, do
fracasso de suas políticas públicas de inclusão e até o momento
largamente exitosas, do descontrole econômico aoa ceno com a volta
retumbante dos velhos ciclos inflacionários que vão de Sarney a Fernando
Henrique Cardoso. E Dilma sabe que pode fazer isso - afinal, no
horizonte não existe o anseio de Berzoini por uma futura candidatura
presidencial. Então, o quê temer?
O combustível que move qualquer líder político só pode ser este: a
crença de que o Brasil ainda tem muito a avançar no campo das políticas
sociais inclusivas, no fortalecimento de seu protagonismo no front
externo, no empoderamento das massas anônimas de brasileiros através da
educação e capacitação profissional.
Fonte: 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário