Candidata do PSB segue em queda, mas recuperação
de Aécio Neves, do PSDB, ainda é lenta; dado do momento é a volta da
possibilidade de eleição ser decidida em 1º turno, a favor da presidente
Dilma Rousseff; ela teria, segundo apuração da revista Fórum com um dos
partidos em disputa, 40% contra 22% de Marina Silva e 17% para Aécio;
tucanos graduados como ex-presidente Fernando Henrique e ex-presidente
do BC Armínio Fraga, que aventaram hipótese de fortalecer Marina Silva
para derrotar o PT, recolhem tese de circulação; "Tudo o que precisamos
agora é ter garra para chegarmos ao segundo turno", conclamou FHC;
"Parem de investigar", retrucou Fraga a jornalistas, em São Paulo, que o
questionaram sobre suas declarações simpáticas a Marina feitas ao
jornal O Globo; a 13 dias das urnas, eles descobriram que "não
melindrar" a postulante do PSB, como queria FHC, não ajudou nem a ela
nem a Aécio; há tempo de empolgar a militância tucana outra vez?
247 – Foi recolhida de circulação na tarde desta
segunda-feira 22, em entrevista coletiva do ex-presidente Fernando
Henrique e do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, em São
Paulo, a tese que ambos haviam divulgado em benefício da adversária
Marina Silva, do PSB. Assim como deram a senha, em uma declaração
pública, no caso do ex-presidente, e em entrevista a um jornal, como fez
Fraga, para que os tucanos não incomodassem a adversária Marina Silva,
do PSB, agora ambos sustentam que é preciso empolgar a militância do
PSDB para levar o candidato Aécio Neves a ultrapassar a ex-ministra e,
assim, ele próprio atingir o segundo turno, no qual mediria forças com a
presidente Dilma Rousseff. Em outras palavras, a tese envergonhada do
voto útil tucano a favor de Marina, miou.
Enquanto FHC chegou a declarar, ao lado do candidato do partido,
Aécio Neves, que não queria "melindrar" a candidata do PSB, Fraga disse
ao jornal O Globo, no último final de semana, que "claramente não é
fácil" para Aécio chegar ao segundo turno. Num impulso a Marina, também
disse, ao mesmo veículo, que "genericamente" a adversária tem o mesmo
programa econômico do postulante tucano. Vindas de quem vieram, uma vez
que FHC foi quem lançou Aécio, e Fraga ganhou do candidato a nomeação
antecipada como ministro da Fazenda, em caso de vitória tucana, as
declarações soaram como senhas de confusão no ninho tucano. Afinal, a
orientação do maior quadro político e do principal nome econômico
seria mesmo a deixar Marina passar sem incômodo sobre Aécio em nome do
objetivo maior de derrotar o PT? Ou ocorreu apenas um mal entendido?
Agora, porém, a luz das tendências registradas nas pesquisas dos
maiores institutos, já se sabe que os movimentos de FHC e Fraga foram
inúteis para a campanha do próprio PSDB. Também nesta segunda 22, o
portal Fórum, editado pelo jornalista Renato Rovai, noticiou que uma das
campanhas presidenciais trabalha com um quadro eleitoral que marca 40%
de intenções de voto para a presidente Dilma, contra 22% para Marina e
17% para Aécio.
No segundo turno, de acordo com a mesma fonte, a presidente já
estaria com seis pontos percentuais adiante da adversária do PSB. A
estarem certos, esses indicadores apontam que, ainda numa situação de
empate técnico, a candidata do PT teria apenas 1% a menos do que a soma
de seus adversários. Dilma estaria, assim, a apenas um ponto de vencer
em primeiro turno.
Para que exista o chamado voto útil, o partido que abre mão de pedir o
sufrágio para seu próprio candidato tem de enxergar num postulante de
outra legenda chances de reais de bater o que esse mesmo partido
considera como o mal maior. Na prática, os tucanos deixariam de votar em
peso em Aécio para que Marina tivesse mais chances de superar Dilma. No
entanto, os números estão mostrando que a candidata do PSB vai, dia a
dia, perdendo intenções de votos. Aécio, na mão contrária, parece ter
estancado sua própria sangria. Ele fez bem o movimento de voltar a
concentrar-se em Minas Gerais, seu berço político. Dessa forma, desde a
semana passada passou a reduzir perdas e, até mesmo, a recuperar pontos
importantes. Combinado com o declínio de Marina, a estabilização com
viés de alta de Aécio devolveu-o ao páreo.
Fernando Henrique, que havia, sem meias palavras, determinado que o
alvo preferencial do PSDB deveria continuar a ser Dilma e o PT, nesta
segunda 22 voltou atrás.
- Eu não sou marqueteiro. Quem tem de avaliar o caminho a seguir
neste momento são o Aécio e os marqueteiros dele. Da minha parte, o que
eu acho é que temos de ter garra para chegarmos ao segundo turno com o
nosso candidato. O que será do segundo turno, veremos depois. Por isso é
que a eleição tem dois turnos.
A declaração foi dada ao final do almoço-debate do Lide - Grupo de
Líderes Empresariais, presidido pelo empresário João Doria Jr. Com a
presença recorde de 602 executivos de grandes empresas, que faturam
anualmente mais de R$ 200 milhões por ano, FHC foi aplaudido de pé. Para
entusiasmar, o próprio Doria fez uma defesa enfática de Fernando
Henrique, atacando, sem citar nominalmente, seus sucessores petistas,
Lula e Dilma:
- Tenho orgulho de ter o presidente Fernando Henrique conosco. Dos outros, não tenho.
O próprio FHC manifestou sua fé de que Aécio pode vencer as
dificuldades da reta final e alcançar o segundo turno. Fraga, que falou
antes, não parecia tão animado, mas, ao menos, evitou citar semelhanças
entre a plataforma econômica tucana e a de Marina Silva. Como se sabe, o
ex-presidente do BC foi 'nomeado' por Aécio como seu futuro ministro da
Fazenda, em caso de vitória.
- O País já está em recessão. É relativamente fácil sair dela, mas para isso precisamos da confiança da sociedade, disse Fraga.
Os tucanos, assim, se mostraram unidos, diante de uma plateia de
elite, o chamado PIB nacional. Mas a festa de comunhão em torno e Aécio
não foi completa. Pesquisa Lide-FGV, feita entre os comensais, apurou
que 53% acreditam que Marina será eleita presidente, contra 35% de
projeções a favor de Aécio e apenas 12% de manifestações com o
prognóstico de vitória da presidente Dilma.
À luz deste tipo de resultado, a nova pergunta que não quer calar é: a
13 dias das urnas de 5 de outubro, a estratégia de fortalecer Aécio e
deixar Marina com seus próprios problemas vai mesmo empolgar da base, o
corpo e a mente dos tucanos?