Por: João Claudio Arroyo
Conquistamos a opção eleitoral da maioria dos paraenses em 2006, quando a aliança neoliberal liderada partidariamente pelo PSDB não conseguia mais esconder dos setores médios e populares a sua incapacidade em dar respostas efetivas, mesmo com o poder comunicativo que dispunha.
Além disso, a vacilação do PMDB em apresentar-se à sociedade com face própria, proporcionou à candidatura petista um apoio determinante para a vitória nas urnas.
Somou-se ainda uma conjuntura nacional onde o eleitorado, pela primeira vez, mostrou-se firmemente independente da opinião, das elites, publicada nos jornais e telejornais de encomenda. E, mesmo depois de um massacre na mídia o projeto petista crescia no eleitorado médio e popular que passou a perceber o avanço que o modelo de desenvolvimento em implantação trazia para a sociedade, mesmo sendo crítico ao episódio do “mensalão”.
Este sentimento nacional se expressou no Pará, onde também se somou à lembrança positiva da experiência do governo petista na prefeitura de Belém. Compondo um somatório de processos que desautoriza qualquer conclusão simplista visando conferir glórias a um ou outro fator.
A relação PT X Governo, no Pará, reproduziu a fórmula nacional que além da natural apartação política, institucional e operacional também separa o sentido e função do partido da elaboração estratégica do desenvolvimento da sociedade que assim, acontece apenas no espaço de governo submetida a uma lógica de forças econômicas, institucionais e jurídicas específicas.
No Pará, esta concentração da elaboração estratégica nos espaços mais restritos do governo alijou quadros experientes técnica e politicamente empobrecendo principalmente o potencial de realização estratégica em áreas cruciais como educação, saúde e infraestrutura, por exemplo.
Vale frisar que, do ponto de vista teórico, o plano de governo era de alto nível, potencialmente capaz de responder aos grandes gargalos do desenvolvimento do estado, somando na perspectiva da promoção da cidadania participativa.
No entanto, mais uma vez, o partido ficou quieto “para não causar problemas” e, mesmo no governo, a elaboração estratégica se impunha por força da institucionalidade sem se construir como pacto político efetivo entre as forças vivas que o compunham.
Os condôminos do governo, mesmo os petistas, passaram a trabalhar sem uma unidade estratégica construída, vivendo do dia-a-dia, sem uma provocação estratégica capaz de mobilizá-los, nem nas áreas fundamentais.
Mas, de volta ao dilema, é preciso frisar que a ausência da motivação estratégica é produto da cultura do não-debater, do não-refletir, do não-pensar que foi domando o mundo petista, aliás, construído em sua origem sobre o dever de questionar. E, sem este combustível, a inteligência e a criatividade foi sendo preterida em favor da obediência.
Mesmo assim, nesta colcha de retalhos, importantes saldos merecem destaque para que jamais esqueçamos que, no conjunto da obra, potencialmente, somos nós os que possuímos condições de responder estruturalmente a construção de uma sociedade amazônida moderna.
O “projeto” sintetizado pelos Parques Tecnológicos e a reconstrução do Idesp, o avanço de concepção e técnica no trato com a crucial questão territorial e a abertura na relação com os movimentos sociais merecem um acompanhamento cidadão, um exercício vivo de Controle Social para que não tenhamos retrocessos.
Portanto, o primeiro passo é aceitar que a derrota eleitoral não é só uma derrota política, como a que produziu uma aliança formal gigante e uma força política nanica. Esta é a derrota de um modelo de gestão política, que apartou a militância da elaboração político-estratégica, que reduziu as tendências em estruturas famintas apenas por cargos, que nos tirou do diálogo aberto com a sociedade sobre o modelo de desenvolvimento para nos colocar nas manchetes tristes dos jornais das elites.
Este pode ser o primeiro passo para a grande vitória de conquistarmos, não apenas governos, mas sobretudo a sociedade, a partir de nosso exemplo prático, para a construção de uma sociedade baseada na solidariedade e na autonomia do Controle Cidadão sobre o Estado.
Que venha 2012.
Copiado do ART-Esquerda
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