A bomba jogada contra entidade liderada
pelo ex-presidente da República, na noite de quinta-feira, revela
perigos que rondam o cenário político.
Tudo leva a crer que o ato terrorista teve origem em alguma franja da
direita, animada pelo clima de ódio antipetista diuturnamente
alimentado pelos principais meios de comunicação e líderes da oposição.
A escalada é notável, transitando das agressões verbais nas redes sociais para o terreno do enfrentamento físico.
O primeiro sinal veio com a coação de ex-ministros em restaurantes paulistanos, além de ataques irregulares contra sedes do PT.
No início da semana, o presidente fluminense do partido e prefeito de
Maricá, Washington Quaquá, tomou um empurrão que o jogou ao chão
enquanto dava entrevista a alguns jornalistas.
Sentindo-se à vontade, de mãos livres para fazerem o que bem
entendem, extremistas do conservadorismo agora aumentam a altura do
sarrafo e miram na principal liderança da esquerda brasileira.
Seria irresponsabilidade afirmar que o atentado contra o Instituto
Lula, cujos objetivos parecem ser intimidação e propaganda, representa
prova de que a oposição de direita esteja saindo da institucionalidade
para a violência.
Mas é cristalino que o discurso do reacionarismo, estimulando clima
de caça às bruxas contra o petismo, identificando-o como campo político a
ser aniquilado por todos os meios, está na origem da atual onda de
truculência.
Basta ver a audácia dos que resolveram escolher Lula como alvo de
suas intentonas. Não se trata mais de situações casuais e fortuitas, mas
de operação planejada e armada, o que indica proliferação e
recrudescimento de grupos dispostos ao terror.
Também chama atenção a reação frágil e intimidada do governo federal a respeito de fato tão relevante.
Ataque desta natureza contra um ex-presidente da República, ainda
mais da estatura de Lula, sem o qual jamais a atual administração teria
sido eleita e reeleita, exigiria resposta de alta intensidade, através
de todos os canais possíveis.
Para começo de conversa, as investigações deveriam ser imediatamente
federalizadas e caberia, à chefe de Estado, chamar rede nacional de
rádio e televisão, com o intuito de proclamar claramente o repúdio ao
ódio fascista e a determinação de empenhar todos os esforços para
impedir sua difusão na sociedade.
A claudicante contraposição petista ao atentado da rua Pouso Alegre,
no mais, revela as sequelas de uma estratégia conciliatória que foi
incapaz de preparar o governo, os partidos de esquerda e os movimentos
sociais para uma etapa como a atual, de radicalização do confronto entre
projetos de nação.
Ao deixar intacto o monopólio da mídia, o petismo cevou seus piores
inimigos, que agem como máquinas de animação e mobilização das entranhas
mais apodrecidas do país, na busca de onda restauradora que possa
colocar enterrar, a qualquer preço, o processo de mudanças iniciado com a
eleição de Lula em 2002.
Mantendo ares de normalidade, o governo e o PT banalizam a gravidade
dos acontecimentos, desorganizam sua própria militância e abrem alas
para o conservadorismo seguir em seu movimento ascensional, que já
combina hegemonia institucional com disputa das ruas e, agora, o recurso
à violência.
A história, aliás, está repleta de exemplos sobre o que se passa
quando as forças progressistas e democráticas comportam-se como
avestruzes.
Ofensivas reacionárias, afinal, não costumam ser detidas com bom-mocismo, falta de audácia e encolhimento.
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