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sábado, 26 de setembro de 2015

A hora da verdade na Síria

Rússia reforça sua posição, os EUA fracassam em criar uma força alternativa e Merkel pede negociação com Assad
por Antonio Luiz M. C. Costa

 A queda de posições cada vez mais importantes da Síria nas mãos do Estado Islâmico e de outros grupos fundamentalistas abriu uma nova fase na guerra civil. 

A Rússia, disposta a respaldar seu aliado Bashar al-Assad e garantir sua única base naval no Mediterrâneo, enviou mais armas, helicópteros e aviões à Síria, apesar de Washington ter tentado bloqueá-los solicitando à Bulgária e Grécia fechar seu espaço aéreo aos cargueiros russos. 

Foi uma tentativa contraproducente até em termos diplomáticos, pois Atenas recusou a ordem.




A prioridade atual é, porém, o Estado Islâmico. Não era assim até há poucos meses: sua “capital”, Raqqa, está a 366 quilômetros de Damasco, enquanto outros grupos rebeldes lutavam nos subúrbios da capital e em outros pontos mais vitais para a sobrevivência do regime. A falta de ataques sistemáticos à organização de Al-Baghdadi chegou a permitir à propaganda de outros grupos rebeldes alegar que ele e Assad eram secretamente aliados.
A queda de Palmira e a ameaça à estrada mais vital para o regime sírio mudaram radicalmente o quadro. Em 17 de setembro, aviões sírios realizaram o primeiro grande bombardeio em Raqqa. Na terça-feira 22, atacaram o Estado Islâmico em Palmira e mataram 38 militantes, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.
Na quinta-feira 24, novos aviões fornecidos pelos russos foram usados por Assad em um ataque a posições do Estado Islâmico perto de Alepo, em uma tentativa de romper o cerco a uma base aérea da região.
Os EUA, que não se atrevem a enfrentar diretamente os russos, nem a contrariar os aliados sauditas que respaldam grupos rebeldes fundamentalistas no país, estão ficando sem opções. A tentativa de Barack Obama de apoiar rebeldes sírios “moderados” e pró-ocidentais contra o Estado Islâmico tem se mostrado um completo fracasso.
Sua proposta era treinar 3 mil combatentes até o final de 2015 e 5,4 mil em 12 meses e o programa foi iniciado em maio. Ao depor ao Congresso em 16 de setembro, o general Lloyd Austin, do CentCom (comando dos EUA para o Oriente Médio), admitiu que, até a data, apenas 54 haviam feito o treinamento e retornado à Síria, apenas para serem imediatamente atacados e terem seus líderes capturados pela Al-Qaeda.
Foram mal preparados para um ataque e não tinham apoio local da população pobre, nem inteligência sobre seus inimigos. Chegaram à Síria durante o feriado de Eid (17 de julho) e muitos tiveram licença para visitar parentes em campos de refugiados na Turquia, o que alertou o inimigo. Segundo o próprio general, apenas “quatro ou cinco” desse grupo continuavam em campo.
Um segundo grupo de 75 rebeldes treinados pelo Pentágono chegou à Síria em 18 de setembro. No dia seguinte, seu comandante, coronel Mohammed Daher, anunciou sua renúncia nas redes sociais alegando falta de homens, armas e seriedade em todo o processo. No dia 23, segundo o jornal britânico The Times, o grupo inteiro desertara para a Al-Qaeda, nada menos. Enquanto isso, no Iraque, soldados do Exército treinados pelos EUA para combater o Estado Islâmico desertam para se juntar ao êxodo de refugiados para a Europa.
Ante o fracasso do Pentágono e para reforçar diplomaticamente sua posição na Síria, o governo russo propôs um projeto de declaração do Conselho de Segurança para instar os integrantes a lutar contra os extremistas “em coordenação com os governos dos Estados afetados”, ou seja, com Assad.
Os EUA se recusaram a negociar esse projeto, mas o movimento dos refugiados força os europeus a buscar uma saída para o impasse. Na quinta-feira 24, Angela Merkel contrariou também seus parceiros da França e Reino Unido para declarar, na cúpula europeia sobre a crise migratória, que é preciso negociar com Assad, bem como o Irã, a Rússia, além da Arábia Saudita e “parceiros regionais”. Como ela bem sabe, o número de refugiados dobrará se o Estado Islâmico chegar a Damasco.

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