Um alívio temporário para a democracia
POR FERNANDO BRITO
Pode ter começado ontem à noite – tomara – uma rearticulação política que ponha freio à escalada golpista que o país assiste, já nem tão nas sombras.
Claro que o desembestar do dólar e os sinais mais que negativos da economia ajudaram, mas o que fez, mesmo, reverterem-se os placares acachapantes registrados em outras votações, sobretudo a Câmara, foi a retomada mínima da capacidade de articulação com o PMDB, sem o qual se dissolvem, quase todas, as rebeliões em outros partidos aliados...
Claro que o desembestar do dólar e os sinais mais que negativos da economia ajudaram, mas o que fez, mesmo, reverterem-se os placares acachapantes registrados em outras votações, sobretudo a Câmara, foi a retomada mínima da capacidade de articulação com o PMDB, sem o qual se dissolvem, quase todas, as rebeliões em outros partidos aliados...
Colocar “a cabeça de fora” quando não se está no meio de muitos é ato que boa parte dos
parlamentares evita e sem a multidão peemedebista para acompanha-los, ela não o fará. ao ponto em
que a oposição, em algumas votações, nem sequer atingiu 100 votos no plenário da Câmara.
Haverá, certamente, um preço político a pagar. E pesado.
Teme-se que o maior deles, politicamente, seja maior do que o de ceder ministérios ao PMDB, o de
Haverá, certamente, um preço político a pagar. E pesado.
Teme-se que o maior deles, politicamente, seja maior do que o de ceder ministérios ao PMDB, o de
que a Presidenta silencie (isto é, não sancione nem vete) o dispositivo da reforma política que proíbe
o financiamento privado das campanhas políticas. Isto é, que deixe para que o próprio Congresso o
promulgue e, depois, que o Supremo o derrube.
O risco de que isso represente restabelecer o dinheiro privado nas eleições é minúsculo, até porque a
O risco de que isso represente restabelecer o dinheiro privado nas eleições é minúsculo, até porque a
reforma política (que não reforma quase nada, aliás) é lei e não a Emenda Constitucional que
Eduardo Cunha fez votar até ser aprovada. Esta dificilmente passará no Senado e tem alguma
possibilidade de criar problemas no Supremo, ainda que os fundamentos da decisão da semana
passada refiram-se a princípios constitucionais de revogabilidade impossível.
Mas será, claro, uma imensa afirmação de poder de Eduardo Cunha, algo do qual ele precisa
Mas será, claro, uma imensa afirmação de poder de Eduardo Cunha, algo do qual ele precisa
desesperadamente a poucos dias de ser votada a admissão de seu processo no Supremo.
Do lado oposto, será também praticamente o sepultamento das iniciativas de “impeachment” até (e
Do lado oposto, será também praticamente o sepultamento das iniciativas de “impeachment” até (e
se) fatos novos vierem a acontecer. E a afirmação permanente da soberania popular não é apenas um
momento vazio de afirmação de poder, é essencial para nossa caminhada dura até sermos uma nação.
Não se trata de gostar ou não ou raciocinar com o mundo ideal, mas de fazer a política como ela é.
Não se trata de gostar ou não ou raciocinar com o mundo ideal, mas de fazer a política como ela é.
Sem deixar de fazê-la como deveria ser, porque precisa-se voltar a olhar para a frente e isso não se
pode fazer quando se tem de baixar os olhos para cruzar a buraqueira que se deixou abrir.
Teremos um rápido e nem tão grande alívio, na política e na especulação financeira. Pequeno, mas
Teremos um rápido e nem tão grande alívio, na política e na especulação financeira. Pequeno, mas
essencial para conter o quadro de degradação acelerada em ambos.
Que o duro e frustrante exercício da política, ao menos, nos prepare (ou nos restaure) para entender
Que o duro e frustrante exercício da política, ao menos, nos prepare (ou nos restaure) para entender
que sem comunicação com a população, sem apontar os conflitos que teremos de viver e, sobretudo,
de saber conviver com as lamas da realidade sem lambuzar-se nelas.
E que saibamos suportar até 2018.
E que saibamos suportar até 2018.
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