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segunda-feira, 8 de julho de 2013

A morte absurda do funkeiro foi tragicamente coerente com o que ele cantava

MC Daleste, artista do pancadão paulista, foi atingido por um tiro no abdômen em pleno palco.

MC Daleste, nome artístico do funkeiro Daniel Pedreira Sena Pellegrine, foi assassinado em pleno palco no sábado, quando se apresentava para cerca de mil pessoas numa festa junina em Campinas. Tinha apenas 20 anos.
A cena do crime, gravada em vídeo, é chocante. Ele está cantando quando se ouve um disparo. Imediatamente, se debruça e cai. Tenta se levantar e é amparado. O som é interrompido.
É desde já a morte mais impressionante do showbis.
Daleste foi atingido no abdomen. Chegou a ser levado para um pronto-socorro, mas não resistiu e morreu. Ninguém ainda foi preso. O show não tinha policiamento ou segurança.
Daleste era um seguidor do chamado ’pancadão paulista’ e do ‘funk ostentação’, que fala de mulheres, roupas, sexo, dinheiro, droga, polícia e violência.
As letras de Daleste retratavam sua realidade. Coisas como:
SP é assim, SP é assim
nois corre pelo certo
E o certo é exaltado
Sangue de bandido, profissão perigo
E o errado é fuzilado
Ou:
Matar os policia é a nossa meta
Fala pra nois quem é o poder
Mente criminosa coração bandido
Sou fruto de guerras e rebelioes
Começei menor ja no 157 hoje meu
Vicio e roubar profissão perigo
Especialista formado na faculdade criminosa
Armamento pesado ataque sovietico e que esse
É o bonde do mk porque quem manda aqui
É o 1 p e 2 c fala pra nois que e o poder

Ou ainda:
Aula de criminologia
Primeiro engatilha
Depois você mira
Se tiver no alvo
Você extermina
Quando meu chefe deixar
Vou colecionar cabeça de polícia
Nosso armamento é pesado


Daleste não merecia esse fim absurdo, claro. Ele escrevia sobre esses temas pela simples razão de que era o que estava ali. Não existe razão para esperar que cantasse sobre um passeio em Ipanema com uma menina para tomar um frozen yogurt.
Funkeiros como Daleste fazem sucesso por causa da crueza dessas rimas. O paralelo com rappers americanos que morreram assassinados, como Tupac Shakur e Notorious B.I.G., é evidente. Um admirador seu postou uma foto com um fuzil, jurando vingança. A vida imita a arte.
Daleste cantava sobre o que via e vivia. Sua morte foi horrenda, uma tragédia que precisa ser esclarecida — mas, lamentavelmente, coerente com tudo sobre o que ele falou em suas canções. 


Kiko Nogueira no DCM

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