"Marina é intolerante com a veste da delicadeza"
Deputado Ronaldo Caiado leva DEM a
expedir nota dura contra ex-ministra Marina Silva; chamado por ela, em
entrevista, de "inimigo histórico" dos trabalhadores rurais, ele não
vestiu a carapuça; "Não confundo adversário com inimigo", registrou;
líder ruralista assinalou que setor é o "mais produtivo da economia,
responsável por 23% do PIB"; e disse que havia aderido ao projeto de
Eduardo Campos, do PSB, "por entender que ele poderia ter uma postura
nova na politica brasileira, democrática, firme e corajosa"; crise
iniciada com a aliança entre a Rede Sustentabilidade e o partido sepulta
qualquer chance de adesão do DEM ao projeto do governador pernambucano;
quem saiu mais chamuscado com essa troca de chumbo quente?
O líder do Democratas na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO),
rebateu através de nota os ataques a ele perpetrados pela ex-senadora
Marina Silva, que em entrevista ao jornal O Globo acusou o ruralista de
ser “inimigo histórico” dos trabalhadores rurais (aqui).
“É preocupante que alguém que postula a Presidência da República seja
intolerante e hostil exatamente ao setor mais produtivo da economia,
responsável por 23% do PIB e por mais de um terço dos empregos formais
do país”, disse Caiado, ao sugerir que a crítica direcionada a ele
reflete o “preconceito” da líder da Rede Sustentabilidade com os
produtores rurais brasileiros.
As queixas de Marina em relação a Caiado tiveram o objetivo cirúrgico de
inviabilizar a tentativa de aliança entre o DEM e o PSB em Goiás -
cujas tratativas já estavam em estágio avançado - e dissociar seu
projeto do histórico do ruralista goiano depois que a Rede declarou-se
unida ao PSB no projeto presidencial de 2014. Surtiu efeito. À rádio
CBN, o governador Eduardo Campos, presidente do PSB e virtual nome à
sucessão da presidente Dilma Rousseff, respaldou Marina ao afirmar que
“não há nenhuma aliança com Ronaldo Caiado nesse conjunto do PSB e da
Rede”.
A declaração de Campos é escorregadia. Não só havia conversações
avançadas para a formação de uma aliança entre o PSB e o DEM em Goiás
como Caiado se apresentava como o nome para encabeçar a chapa ao governo
goiano. O ruralista chegou mesmo a defender o apoio do Democratas a
Campos, em detrimento de Aécio Neves e do PSDB.
Caiado, contudo, não atacou diretamente o presidente do PSB. Mas
ironizou o recuo de Campos ao dizer que ele (Caiado) foi um dos
primeiros políticos do País a defender a candidatura do governador
pernambucano “por entender que ele poderia ter uma postura nova na
politica brasileira, democrática, firme e corajosa”. E continuou: “Foi
por crer na pluralidade que tinha me associado ao projeto político do
governador Eduardo Campos, cujo discurso rejeitava radicalismos.”
O democrata, surpreendentemente, suprimiu na nota seu estilo agressivo.
Durante todo o dia era esperada uma manifestação ainda mais dura. A
senadora Kátia Abreu discursou e soltou nota em defesa de Caiado (aqui).
Chegou a ser anunciado um pronunciamento bombástico na tribuna da
Câmara. O estilo Caiado não se materializou, porém. A resposta
limitou-se à nota, onde Caiado afirma que Marina se equivoca ao ver no
produtor rural, “o maior empregador do país”, um inimigo do trabalhador.
“É um colossal contrassenso. Em meu estado, Goiás, o agronegócio
emprega nada menos que a metade da mão de obra ativa e responde por 67%
do PIB.”
Caiado ironizou a suposta fragilidade da ex-ministra do Meio Ambiente, a
quem classificou de intolerante, mas que se apresenta com a veste da
delicadeza. “A candidata tem razão num ponto: somos, eu e ela,
coerentes. Só que – e essa é nossa diferença – não sou intolerante. Não
confundo adversário com inimigo.”
Abaixo, a íntegra da nota:
Nota Oficial
O veto da candidata Marina Silva não é à minha pessoa, mas ao que represento, em três décadas de vida pública: o setor agropecuário e a liberdade de iniciativa.
É preocupante que alguém, que postula a Presidência da República, seja intolerante e hostil exatamente ao setor mais produtivo da economia, responsável por 23% do PIB e por mais de um terço dos empregos formais do país.
Lamento que alguém, com tais pretensões, demonstre tamanho desconhecimento da realidade agropecuária brasileira e veja no produtor rural – o maior empregador do país – um inimigo do trabalhador. É um colossal contrassenso. Em meu estado, Goiás, o agronegócio emprega nada menos que a metade da mão de obra ativa e responde por 67% do PIB.
A candidata tem razão num ponto: somos, eu e ela, coerentes. Só que – e essa é nossa diferença – não sou intolerante. Não confundo adversário com inimigo. Democracia não é política de terra arrasada, nem se aprimora em ambiente de duelo. Fui – e sou – um político afirmativo. Jamais escondi minhas ideias. Mas sempre convivi em ambiente democrático e civilizado, sabendo lidar com o contraditório. Veemência não é intolerância. Frequentemente, bem ao contrário, a intolerância se apresenta com a veste da delicadeza.
Fui um dos primeiros políticos do País a defender a candidatura do governador Eduardo Campos, por entender que ele poderia ter uma postura nova na politica brasileira, democrática, firme e corajosa.
Foi por crer na pluralidade que tinha me associado ao projeto político do governador Eduardo Campos, cujo discurso rejeitava radicalismos. E foi em nome do pluralismo e do diálogo que dei boas vindas à candidata, que agora me exibe a face da intolerância.Essa ideia de “inimigo histórico” é antiga, retrógrada e preconceituosa e não atende aos interesses do País. Continuarei defendendo, no Congresso Nacional, os interesses do Brasil e do agronegócio, debatendo e apresentando propostas que harmonizem o desenvolvimento do país, compatibilizando-o com a preservação do meio ambiente.
Ronaldo CaiadoLíder do Democratas na Câmara dos DeputadosBrasília, 9 de outubro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário