O MViva!, espaço aberto, independente, progressista e democrático, que pretende tornar-se um fórum permanente de ideias e discussões, onde assuntos relacionados a conjuntura política, arte, cultura, meio ambiente, ética e outros, sejam a expressão consciente de todos aqueles simpatizantes, militantes, estudantes e trabalhadores que acreditam e reconhecem-se coadjuvantes na construção de um mundo novo da vanguarda de um socialismo moderno e humanista.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A GUERRA CONTRA OS FRACOS NASCEU NOS EUA


Os Estados Unidos são tidos como um dos países onde a democracia nasceu e criou raízes. Isso é verdade, mas frequentemente se esquece que essa mesma democracia, que garantiu as liberdades individuais e civis, tinha aspectos oligárquicos. Tanto que o país conviveu com a escravidão por quase cem anos e depois disso com uma política de apartheid nos estados sulistas que duraria até os anos 1960 do século passado. 


Mas há uma coisa que poucos sabem: durante 74 anos, a democracia americana tinha leis que autorizavam a esterilização compulsória de pessoas consideradas “incapazes” ou “inferiores” – fossem negros, deficientes mentais ou mulheres. A isso se dá o nome de eugenia, prática de “purificação racial” hoje condenada e que normalmente é associada ao nazismo, mas que nasceu na Inglaterra e foi aplicada nos EUA e – pasmem! – na Suécia. Nos EUA, cerca de 60 mil cidadãos americanos foram esterilizados entre 1929 e 1979 e muitos sequer foram informados de que estavam sendo submetidos a essas operações. Entre eles, 48% eram mulheres e 40% negros ou indígenas. A progressista Califórnia foi o estado que mais adotou essa medida, esterilizando cerca de 20 mil – um terço do total.  

Em 2004 fiz uma resenha para a IstoÉ de um livro, A Guerra contra os Fracos, de Edwin Black, que retrata essa tragédia 

As raízes do Holocausto 
Adolf Hitler copiou de eugenistas americanos política que eliminava "raças inferiores" 

Cláudio Camargo

Algumas palavras ficaram tão associadas a crimes aberrantes que simplesmente desapareceram do vocabulário corrente. É o caso da “eugenia” ou “higiene racial”, um movimento racista e pseudocientífico surgido no início do século XX que classificava as pessoas segundo a hereditariedade, esterilizando os “incapazes” (doentes mentais, epilépticos, alcoólatras, criminosos comuns, deficientes visuais, pobres, mas também negros, judeus, poloneses...) com o objetivo de preservar e ampliar a “raça superior”, branca e nórdica. Embora tenha sido aplicada em escala industrial e genocida apenas na Alemanha nazista, a eugenia tomou corpo e ganhou forma e robustez nos EUA. Os epígonos de Hitler apenas copiaram e universalizaram o modelo. Essa incrível história, pouco conhecida, é contada agora, num minucioso relato, em A guerra contra os fracos – a eugenia e a campanha norte-americana para criar uma raça superior, do jornalista americano Edwin Black. 

Nos domínios de Tio Sam, berço da democracia moderna, a eliminação de grupos étnicos indesejáveis não foi perpetrada por sinistras tropas de assalto, como no III Reich, mas por “respeitados professores, universidades de elite, ricos industriais e funcionários do governo”. Criada na Inglaterra no século XIX pelo matemático Francis J. Galton, a eugenia (composta do grego “bem nascido”) atravessou o oceano e encontrou campo fértil em terras americanas. Sob a batuta do zoólogo Charles Davenport, o movimento eugenista obteve apoio de instituições renomadas, como a Carnagie Institution – que montou a primeira empresa de eugenia em Long Island –, da Fundação Rockefeller e de uma plêiade de acadêmicos, políticos e intelectuais. 

O movimento cativou tanto a elite americana da época que, a partir de 1924, leis que impunham a esterilização compulsória foram promulgadas em 27 Estados americanos, para impedir que determinados grupos tivessem descendentes. Uma vasta legislação proibindo ou restringindo casamentos também foi criada para barrar a miscigenação. Confrontada com tamanha violação dos princípios da Constituição americana, a Suprema Corte deu sua bênção à eliminação dos mais fracos. “Em vez de esperar para executar descendentes degenerados por crimes, a sociedade deve se prevenir contra aqueles que são manifestadamente incapazes de procriar sua espécie”, disse o juiz Oliver Wendell. Entre os anos 1920 e 1960 pelo menos 70 mil americanos foram esterilizados compulsoriamente – a maioria mulheres.
 
Edwin Black, que ficou famoso em 2001 com o best-seller A IBM e o Holocausto, lembra que a cruzada eugenista de Tio Sam não foi apenas um crime doméstico. “Os esforços americanos para criar uma superraça nórdica chamaram a atenção de Hitler.” Antes da guerra, os nazistas praticaram a eugenia com total aprovação dos cruzados eugenistas americanos. Não sem uma ponta de inveja, claro: “Hitler está nos vencendo em nosso próprio jogo”, declarou em 1934 Joseph DeJarnette, superintendente do Western State Hospital, da Virgínia. 

Desmascarado pelo genocídio hitlerista, o antes arrogante movimento eugenista baixou a guarda. Mesmo assim, entre 1972 e 1976, hospitais de quatro cidades esterilizaram 3.406 mulheres e 142 homens. Muitas mulheres pobres foram ameaçadas com a perda de benefícios sociais ou mesmo a guarda dos filhos. 

Condenada pela comunidade acadêmica em 1977, a eugenia escondeu o rosto e buscou refúgio nos cromossomos da engenharia genética. Mas, assim como no passado a eugenia contaminou causas sociais, médicas e educacionais importantes, hoje ela pode inocular o vírus da intolerância em projetos científicos fundamentais, como o genoma e o processo de clonagem para fins terapêuticos. Afinal, é sabido que, ao brincar de Deus, o homem costuma fazer a obra do diabo. 



Assange entrevista – “Rafael Correa, presidente do Equador”


 Imperdível

JULIAN ASSANGE: Com Chávez e Lula já deixando os principais holofotes, vai surgindo uma nova geração de governantes na América Latina.
Esta semana, está comigo o presidente do Equador , Rafael Correa. Correa é líder popular de esquerda, que mudou a cara do Equador. Mas, diferente dos presidentes que o antecederam, é doutor em Economia. Segundo os telegramas diplomáticos dos EUA que WikiLeaks divulgou, Correa é o presidente mais popular na história democrática do Equador.
Mesmo assim, em 2010, foi preso e feito refém, numa tentativa de golpe de Estado. A culpa pela tentativa de depô-lo, segundo Correa, foram os meios de comunicação corruptos. Correa pôs em marcha uma polêmica contraofensiva. Na avaliação de Correa, os meios de comunicação definem as reformas que seriam as únicas possíveis... para os próprios meios.
Quero saber se essa conclusão está correta e como vê a América Latina.
RAFAEL CORREA: Está me ouvindo?
JULIAN ASSANGE: Sim, presidente Correa.
RAFAEL CORREA: Prazer em conhecê-lo. Você está na Inglaterra?
JULIAN ASSANGE: Sim, na Inglaterra, numa casa de campo, em prisão domiciliar já há 500 dias. E sem nenhuma acusação formal contra mim.
RAFAEL CORREA: 500 dias... OK. [Para alguém ao lado] Melhor traduzir. [Em ing. “Prefiro o espanhol, ok?”].
JULIAN ASSANGE: [para a equipe] Acho que é possível. Todos prontos? Ação!
JULIAN ASSANGE: O que pensa o Equador, dos EUA, sobre o envolvimento dos EUA? Não lhe peço que faça alguma caricatura dos EUA. Mas... O que pensam os equatorianos sobre os EUA e o envolvimento dos EUA no Equador e na América?
RAFAEL CORREA: Como disse Evo Morales [presidente da Bolívia], os EUA são o único país que pode ter certeza de lá jamais haverá golpes de Estado – porque não há embaixada dos EUA nos EUA. [Assange e equipe riem].
Seja como for, quero dizer que uma das razões do mal-estar é que nós cortamos todo o financiamento que a Embaixada dos EUA pagava à polícia no Equador. Era assim, antes do nosso governo e continuou ainda, por um ano e pouco. Demoramos a corrigir isso. Havia unidades inteiras, setores chaves da Polícia, que eram completamente financiadas pela Embaixada dos EUA. Os chefes policiais eram selecionados pelo Embaixador dos EUA e pagos pelos EUA. A tal ponto, que aumentamos muitíssimo os soldos dos policiais, mas quase ninguém percebeu, porque recebiam soldos do outro lado. Acabamos com tudo isso. E há alguns que sentem saudades daqueles tempos. Mas são tempos que não voltarão ao nosso país e aos nossos países.
Quanto aos EUA, nossa relação sempre foi de muita amizade e carinho, mas sob um marco de respeito mútuo e de soberania. Eu, pessoalmente, vivi quatro anos nos EUA, estudei e graduei-me lá, tenho dois títulos acadêmicos norte-americanos, amo e respeito muito, muito, o povo norte-americano. Acredite que eu, de modo algum, jamais seria antiamericano. Mas sempre chamarei as coisas pelo nome. E se há políticas norte-americanas que são perniciosas para o Equador e para nossa América Latina, sempre as denunciarei abertamente e não permitirei que agridam a soberania do meu país.
JULIAN ASSANGE: Seu Governo fechou a base militar dos EUA em Manta. Pode dizer-me por que decidiu fechar aquela base?
RAFAEL CORREA: Ora... Você aceitaria uma base militar estrangeira no seu país? Como eu disse naquela época. Se é assunto tão simples, se não há problema algum em os EUA manterem uma base militar no Equador, ok, tudo bem: permitiremos que a base de inteligência permaneça no Equador, se os EUA permitirem que estabeleçamos uma base militar do Equador em Miami. Nessas condições, ok, sem problema. [Assange ouve a tradução e ri]. Fico feliz que você esteja se divertindo com essa entrevista. Também estou me divertindo.
JULIAN ASSANGE: Achei engraçadas as suas frases, presidente Correa [os dois riem]. Presidente Correa, por que o senhor pediu que revelássemos [que WikiLeaks revelasse] todos os telegramas diplomáticos?
RAFAEL CORREA: Porque quem nada deve nada teme. Nós nada temos a ocultar. De fato, os [telegramas divulgados por] WikiLeaks nos fortaleceram. A Embaixada dos EUA nos acusava [como se fosse crime] de sermos excessivamente nacionalistas e defendermos a soberania do governo equatoriano [os dois riem]. E é claro que somos nacionalistas! E é claro que defendemos a soberania do Equador! E os WikiLeaks, como mostrei há pouco [exibe um livro], falavam de todos os interesses que os EUA haviam investido nos meios de comunicação no Equador, dos grupos de poder que pediam ajuda, que marcavam hora para pedir ajuda em embaixadas estrangeiras.
Nós não tememos nada. Que publiquem tudo o que tenham a publicar sobre o governo do Equador. Não se encontrará nada contra nós. E veremos aparecer muitas informações sobre entreguismos, traições, acertos, feitos por muitos supostos opositores da revolução cidadã no Equador…
JULIAN ASSANGE: Posteriormente, o senhor expulsou do Equador a embaixadora dos EUA, como consequência da publicação dos telegramas de WikiLeaks. Por que a expulsou? Sempre acho mais interessante dizer ao embaixador... “Tenho esses telegramas desse embaixador. Já sei o que você pensa.” Não seria melhor manter lá o diabo que o senhor já conhecia?
RAFAEL CORREA: Ora, mas dissemos tudo isso à embaixadora. E ela respondeu – e com que arrogância! – que não nos devia explicações. Era inimiga absoluta de nosso governo, mulher de extrema direita, que permaneceu estacionada no marco da Guerra Fria dos anos 60. A gota d’água que fez transbordar o jarro foi WikiLeaks, que provava que o contato dela no Equador havia dito que o Chefe de Polícia era corrupto completo. E que eu, diziam os telegramas, o teria nomeado, mesmo sabendo que era corrupto, para controlá-lo.
Intimamos a embaixadora, para que prestasse explicações. E ela, arrogante, cheia de soberba e prepotência, com os ares imperiais que a caracterizavam, respondeu que não nos devia explicações. Como aqui no Equador, nós nos respeitamos e respeitamos nosso país, expulsamos imediatamente a referida senhora.
Quero dizer que há um mês, poucos meses, depois de quase um ano de investigações, o Comandante Hurtado, que foi falsamente acusado nesse telegrama de WikiLeaks pela embaixadora, foi declarado inocente de todas aquelas acusações daquela embaixadora, saiu limpo de todas as investigações de que foi objeto, e que fizemos. É uma prova a mais de como funcionários incompetentes ou mal intencionados, do governo dos EUA, porque absolutamente não admitem e manifestam a mais flagrante má vontade contra governos progressistas, informam qualquer coisa ao governo dos EUA, sem procurar qualquer comprovação, sem qualquer investigação, sem qualquer prova, baseados, só, em boatos, intrigas dos seus ‘contatos’, muitas vezes, mentiras interessadas, que ouvem dos seus contatos, todos adversários de nosso governo. E esses contatos são, normalmente, escolhidos entre os opositores dos nossos governos.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, como foi, para o senhor, tratar com os chineses? É um país grande e poderoso. Ao negociar com os chineses, o senhor não estaria trocando um demônio, por outro?
RAFAEL CORREA: Para começar, não trabalhamos com demônios. Se nos aparece algum demônio, agradecemos e despachamos: não, muito obrigado. [Assange ri] Em segundo lugar, você tem de ver aí um pouco do entreguismo, do esnobismo, e até do neocolonialismo que anima as elites, por aqui, e alguns veículos de comunicação.
Quando 60% de nosso comércio e grande parte de nossos investimentos estavam concentrados nos EUA, e não nos davam 20 centavos para financiar o desenvolvimento do país, ninguém reclamou de demônio algum, era como se não houvesse problema. Agora, quando somos o país que mais recebe investimentos chineses na região – e talvez porque os chineses não são altos, louros, de olhos azuis, viram demônios e tudo é problema. Chega disso!
Se a China já está financiando até os EUA! Que bom que financie o Equador! Que bom que nos ajude para fazer aqui uma extração responsável, de petróleo! Minas, hidroelétricas. Mas não recebemos financiamentos só da China. Recebemos financiamento russo, brasileiro, diversificamos nossos mercados e nossas fontes de financiamento. Mas há gente que nasceu acabrestado, com sela e rédea, e quer continuar com a dependência de sempre. É só isso.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, como o senhor sabe, luto, há muitos anos, a favor da liberdade de expressão, pelo direito de as pessoas se comunicarem, pelo dever de publicar e dar aos públicos informação verdadeira. O que o senhor fará, para que suas reformas não acabem com a liberdade de expressão?
RAFAEL CORREA: Bem... Você mesmo é ótimo amostra, Julian, de como é a imprensa, essas associações como a Sociedade Interamericana de Imprensa, que nada é além de um clube de donos de jornais na América Latina. Sobre seu WikiLeaks, publicaram-se muitos livros, o mais recente dos quais é de dois autores argentinos, no qual analisam país por país, Wiki Midia Leaks [1] . No caso do Equador, demonstra como, desavergonhadamente, os veículos não publicaram os telegramas que os prejudicavam. Por exemplo, disputas entre empresas de comunicações. E todos, afinal, decidiram não publicar suas próprias sujeiras, para não prejudicar nenhum deles. Leio para você a tradução, em espanhol, de um dos telegramas WikiLeaks que a imprensa nunca publicou no Equador.
RAFAEL CORREA: [lendo] “…o fato de que a imprensa sinta-se livre para criticar o governo, mas não um banqueiro fugitivo e os negócios da família do banqueiro, mostra muito sobre onde está o poder no Equador…” [Mostra as páginas do livro] E esses são os telegramas que WikiLeaks divulgou e jamais foram publicados na imprensa do Equador. Para que você entenda um pouco o que enfrentamos no Equador e na América Latina.
Nós acreditamos, que os únicos limites que devem pesar sobre a informação e a liberdade de expressão são os que já existam nos tratados internacionais, na Convenção Interamericana de Direitos Humanos: a honra e a reputação das pessoas; e a segurança das pessoas e do estado. Quanto a todo o resto, quanto mais gente saiba de tudo, melhor.
Você manifestou seu temor – o mesmo que sentem todos os jornalistas, de boa fé –, mas que não passam de estereótipos do medo de que o poder do estado limite a liberdade de expressão. Isso praticamente não existe na América Latina, praticamente não há aqui nenhuma liberdade de expressão. Fala-se só de idealizações, de mitos.
Vocês precisam entender que, por aqui, o poder “midiático” foi, e provavelmente ainda é, muito maior que o poder político. De fato, o poder “midiático” tem imenso poder político, em função de seus interesses, poder econômico, poder social. E, sobretudo, têm poder monopolístico para informar.
Os veículos têm sido, aqui, os maiores eleitores, os maiores legisladores, os maiores juízes, os que criam a alimentam a ‘agenda’ da discussão social, os que sempre submeteram governos, presidentes, cortes de justiça, tribunais.
Temos de tirar da cabeça essa ideia de que, de um lado, só haveria jornalistas pobres e perseguidos, empresas jornalísticas angelicais, empresas e veículos dedicados a informar a verdade dos fatos; e, de outro lado, só haveria ditadores, autocratas, tiranos que vivem para tentar impedir que a verdade chegue ao povo.
Os governos que trabalhamos para fazer algo pelas maiorias, somos – nós – violentamente perseguidos por jornalistas que entendem que, por ter uma pena ou um microfone, ganhariam algum direito de vingar-se dos desafetos pessoais. Porque, muitas vezes, caluniam, mentem, injuriam exclusivamente por alguma inimizade pessoal. Os veículos de comunicação são, aqui, instrumentos dedicados a defender interesses privados.
É importante, por favor, que o mundo todo entenda o que se passa na América Latina.
Quando tomei posse na presidência, havia aqui sete canais de televisão nacionais. Nenhum público; todos privados. Cinco pertenciam a banqueiros. Imagine a situação: eu queria tomar uma medida contra os bancos, para evitar, por exemplo, a crise e os abusos que, hoje, todos estão vendo acontecer na Europa, sobretudo na Espanha. E houve uma campanha violentíssima, pela televisão, para defender os interesses dos banqueiros empresários donos das empresas, dos proprietários dessas cadeias de televisão, todos banqueiros.
Que ninguém se engane mais. Temos de esquecer essas mentiras e estereótipos de governos ‘do mal’, que vivem a perseguir valentes e angelicais jornalistas e empresas e veículos de comunicação. Com muita frequência, Julian, acontece exatamente o contrário.
Essa gente travestida de jornalista vive de fazer política, só se interessa em desestabilizar nossos governos democráticos, para impedir qualquer mudança na nossa região. Porque, com mudança democrática, eles perdem o poder que sempre tiveram e ostentaram.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa, estou de acordo com o que o senhor diz do mercado dos veículos e meios. Já aconteceu exatamente assim, também conosco, mais de uma vez: grandes organizações jornalísticas, com as quais trabalhamos – Guardian, El País, o New York Times e Der Spiegel – censuraram o nosso material ao publicar, por motivos políticos, ou para proteger oligarcas como Tymoshenko da Ucrânia (que escondia sua fortuna em Londres); ou grandes empresas petroleiras italianas corruptas, que operavam no Cazaquistão. Temos provas disso tudo, porque sabemos o que há no documento original e o que publicaram, e o que foi omitido. Mas entendo que o melhor modo para enfrentar os monopólios e os duopólios e os cartéis num mercado é separá-los; ou criando melhores condições para que novas empresas entrem no mercado.
O senhor não tem interesse em criar um sistema que permita o fácil acesso ao mercado editorial, de modo a que empresas jornalísticas editoriais pequenas e indivíduos sejam protegidos (não regulados) e as grandes empresas editorais e grupos ‘midiáticos’ sejam separadas e reguladas?
RAFAEL CORREA: Julian, estamos tentando fazer exatamente isso. Há mais de dois anos discute-se uma nova lei de comunicação, para dividir o espectro radioelétrico, quer dizer, o espectro para TV e rádio, para que só 1/3 seja privado com finalidades comerciais; 1/3 para propriedade comunitária, sem finalidades comerciais; e 1/3 de propriedade do Estado – não só o governo nacional; também os governos locais, municipais, departamentais.
Mas a lei não avança. Há dois anos, apesar de haver ordem constitucional aprovada nas urnas em 2008, ratificada pelo povo equatoriano por consulta popular ano passado. Pois, apesar de tudo isso, a nova lei foi e continua a ser sistematicamente bloqueada pelas grandes empresas, nos grandes veículos. Para eles, é “lei da mordaça”. Para eles e pelos deputados e senadores assalariados que as empresas mantêm, a soldo, na Assembleia Nacional, e que lá estão para defender aqueles interesses.
O que estamos fazendo é claro: democratizar a informação, a comunicação social, a propriedade dos veículos e meios de comunicação. Por isso mesmo, obviamente, enfrentamos a acérrima oposição que nos fazem os proprietários dos veículos e meios de comunicação e dos seus corifeus alugados, que atuam em todo o espectro político no Equador.
JULIAN ASSANGE: Recentemente, nesse programa, entrevistei o presidente da Tunísia, e perguntei a ele, se o surpreendera o pouco poder que os presidentes têm, para mudar as coisas. O senhor também observou isso?
RAFAEL CORREA: Olhe... Muitos trabalham para satanizar os líderes políticos, porque uma das grandes crises pelas quais a América Latina passou nos anos 90, até o começo desse século, durante a longa e triste noite neoliberal, foi a crise de lideranças políticas.
Afinal, o que significa “ter liderança”, “ser líder”? Significa capacidade para influir sobre os demais. É claro que pode haver boas lideranças políticas, pessoas que usam a capacidade que têm para liderar, para servir a causa dos outros. E claro que também há maus líderes – dos quais, lamentavelmente, houve muitos na América Latina –, que utilizam a capacidade que têm, mas apenas para servir-se dos demais.
Entendo que os líderes são importantes sempre, mais ainda em processos de mudança.
É possível imaginar a independência dos EUA, sem os comandantes que houve lá? Sem aqueles líderes? É possível imaginar a reconstrução da Europa depois da IIa. Guerra Mundial, sem os grandes líderes que houve lá? Contudo... Quando se trata de fazer oposição às mudanças na América Latina, onde há líderes fortes, mas líderes democráticos e democratizantes, inventam logo que a liderança é caudilhista, populista, sempre má liderança, nunca boa liderança.
JULIAN ASSANGE: Presidente Correa…
RAFAEL CORREA: Essa liderança é ainda mais importante... (Julian, permita-me concluir a ideia, por favor)... quando não se está administrando um sistema.
Na América Latina, no Equador, hoje, não estamos administrando um sistema: estamos mudando um sistema. Porque o sistema que nos acompanhou ao longo de séculos foi fracasso total. Fez de nós a região de maior desigualdade no mundo, onde só a miséria é muita, a pobreza, e numa região que tem tudo para ser a região mais próspera do mundo. As coisas aqui não são como nos EUA.
Que diferença há entre Republicanos e Democratas, nos EUA? Há mais diferença entre o que eu penso pela manhã e o que eu penso à noite, do que entre um Republicano e um Democrata norte-americano [Assange ri]. Isso acontece porque, lá, estão administrando um sistema.
Nós, aqui, estamos mudando um sistema. Aqui as lideranças são necessárias e importantes. Aqui, é indispensável o poder ser legítimo e democrático, para que a mudança seja legítima e democrática, para que se mudem as estruturas e a instituições e a institucionalidade nos nossos países, agora em função das grandes maiorias.
JULIAN ASSANGE: Minha impressão é que o presidente Obama não é capaz de controlar as enormes forças que se movem à volta dele. Será sempre assim, com todos os tipos de líderes? Como o senhor conseguiu introduzir tantas mudanças no Equador? Será sinal dos tempos que vivemos? Será resultado de sua liderança pessoal? Da força de seu partido? Que força, afinal – é o que quero saber – é essa, que permite que o senhor faça algo, no Equador, que Obama não consegue fazer, nos EUA?
RAFAEL CORREA: Permita-me começar pelo fim. O compromisso, as concessões, o consenso é desejável, mais não é um fim em si. Para mim, mais fácil seria conseguir algum consenso; chegaria mancando, cedendo, e satisfaria muita gente. Mas não mudaria coisa alguma. Satisfaria, principalmente, os poderes de fato nesse país. E tudo continuaria como antes. Há momentos em que o consenso é impossível. Às vezes, é necessário o confronto. Com a corrupção, por exemplo, não há consenso possível. A corrupção tem de ser enfrentada. O abuso do poder? Tem de ser enfrentando. Não há consenso possível, com a mentira; a mentira tem de ser desmascarada. Absolutamente não se pode fazer concessões a esses vícios sociais, tão graves para nossos países.
É erro imaginar que o que está sendo feito no Equador esteja sendo feito por mim. É erro. Os povos mudam, os países mudam. Não precisam de liderança para mudar. Talvez precisem de algum tipo de líder para coordenar. Mas se o país muda, é por vontade de todo o povo. Nosso governo foi levado ao poder pela indignação de todo o povo equatoriano.
Talvez aí esteja o que ainda falta, um pouquinho, ao povo norte-americano, para que o presidente Obama obtenha capacidade para promover mudanças reais no país. Que a indignação que já está nas ruas, esse “Occupy Wall Street”, esse protesto de cidadãos comuns, normais, contra o sistema, que ganhe impulso, que se torne mais orgânico, mais permanente. E que, nesse caso, dê forças ao presidente Obama para que possa fazer as mudanças pelas quais o sistema terá de passar, nos EUA.
JULIAN ASSANGE: Quero saber até que ponto o senhor acredita que o Equador irá, no longo prazo, até onde irá a América Latina. Acho que, até certo ponto, há boas coisas, como se sabe, a integração continental na América Latina, a melhoria nas condições de vida, e o fato de que os EUA e outros países têm, a cada dia, menos influência na América Latina. Mas... Onde o senhor acredita que estará, dentro de dez, vinte anos?
RAFAEL CORREA: Você disse bem: a influência dos EUA na América Latina está diminuindo – isso é bom. Por isso, precisamente, dizemos que a América Latina está passando, do “consenso de Washington”, para o consenso sem Washington.
JULIAN ASSANGE: [ri] Talvez venha a ser o Consenso de São Paulo.
RAFAEL CORREA: Um consenso sem Washington. Exatamente. E é bom, porque essas políticas que nos mandavam do norte não eram feitas em função das necessidades da nossa América, mas em função dos interesses daqueles países, e, sobretudo, dos capitais daqueles países. Se você analisa a política econômica – e, modéstia à parte, disso entendo um pouco –, até talvez tenham sido boas, em algum momento. Mas, tenham sido boas ou más, em certos momentos, todas tiveram o mesmo denominador comum: interessavam, primeiro de tudo, ao grande capital, e, sobretudo, ao capital financeiro. E isso, finalmente, está mudando.
Tenho muitas esperanças. Sou muito realista. Sei que avançamos muito, mas muito ainda temos de andar. Sei que o que já andamos não é irreversível, que podemos perder tudo, se os mesmos de sempre voltarem a dominar nossos países. Mas estamos muito otimistas.
Acreditamos que a América Latina está mudando e, se continuarmos por essa rota de mudança, a mudança será definitiva. Nossa América não está passando por uma época de mudança, mas por uma mudança de época. Se mantivermos nossas políticas de defesa da soberania, com políticas econômicas nas quais a sociedade controla o mercado, não que o mercado domina a sociedade e converte a própria sociedade, as pessoas, a vida, em mercadoria. Se mantivermos essas políticas de justiça e igualdade social, superando imensas injustiças, de séculos, sobretudo no que tenham a ver com os grupos nativos, os afrodescendientes, etc., a América Latina terá um grande futuro. É a região do futuro. Temos tudo para sermos a região mais próspera do mundo. Se temos conseguido pouco, foi pelas políticas más, pelos maus dirigentes, maus governos. E isso está mudando nessa nossa América.
JULIAN ASSANGE: Obrigado, presidente Correa...
RAFAEL CORREA: Foi um prazer conhecê-lo, Julian, pelo menos por esse meio. E ¡Ánimo! ¡Ánimo! Seja bem-vindo ao clube dos perseguidos.
JULIAN ASSANGE: Obrigado. [risos] E cuide-se. Não deixe que o matem.
RAFAEL CORREA: Ah, sim. [risos] Evitar isso é trabalho de todos os dias. Gracias.
_________________
Nota dos tradutores
[1] BECERRA, Martín e LACUNZA, Sebastián. Wiki Media Leaks: La relación entre medios y gobiernos de América Latina bajo el prisma de WikiLeaks. Buenos Aires: ed. B. 2012 [abr.]. Sobre o livro ver Brasilianas.org, 3/5/2012, em: Comentário fora de pauta.
Transcrição traduzida pelo pessoal da Vila Vudu
No Redecastorphoto

LEMBRE O ROSTO DOS DEPUTADOS QUE APOIAM O TRABALHO ESCRAVO



Fotos dos Deputados que Votaram contra a PEC do Trabalho Escravo
Numa nota próxima, darei mais detalhes sobre estes parlamentares e também sobre os que se abstiveram.
Você pode fazer conhecer estes rostos, clicando na foto com o botão direito, e depois capturando a imagem com a tecla Prt Scr
Sabemos que você que lê este blogue nunca votaria por traficantes de escravos, mas muitas pessoas não os conhecem, pois são políticos escuros que estão no parlamento para defender seus interesses econômicos e conseguem seus votos com os métodos tradicionais.
Faça, então, conhecer estas identidades àqueles que possam não estar cientes de que são estes caras.
Pensamos que viver num país escravista é a maior aberração e humilhação que pode sofrer uma sociedade
 

Fonte:Sarau para todos


  

quarta-feira, 23 de maio de 2012

PEC DO TRABALHO ESCRAVO - CONFIRA AQUI COMO VOTARAM OS DEPUTADOS PARAENSES

O seu blog MILITANCIAVIVA mostra á todos os seus milhares de leitores diários como votou a bancada paraense.

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Entre os que votaram não encontra-se o deputado Giovanni Queiroz PDT-PA, que dizem ser um dos maiores fazendeiros e latifundiário da Amazônia que votou  NÃO de acordo com seus interesses pessoais e sua consciência moral e cívica;

José Priante, que é candidato do PMDB á prefeitura de Belém, decidiu não comparecer ao plenário durante a votação;

 

 

 

Asdrúbal Bentes foi outro que achou uma escada                       subiu no muro e se absteve;  

 

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o separatísta do DEM Líra Maia, tabém disse NÂO e NÂO!;



Elcione Barbalho votou sim; 


o cantor deputado Vladimir Costa PMDB-PA, estava escafedido do local para onde foi mandado pelo povo mais humilde do Pará para trabalhar e defende-lo;

  Lúcio Vale do PR-PA,votou sim;

 


Zequinha Marinho PSC-PA, foi outro que subiu no muro, votou por não votar;


Zenaldo Coutinho PSDB-PA, disse sim;

Beto Faro PT-PA votou sim;


Clúdio Puty votou sim;

Miriquinho Batista PT-Pa votou sim;

 

 

Zé geraldo PT-PA, disse sim.





Fonte: http://www.trabalhoescravo.org.br





















terça-feira, 22 de maio de 2012

LIVRO INVESTIGA CASO DSK E REATIVA HIPÓTESE DE PERSEGUIÇÃO POLITICA



Capa do livro Three Days In May, de Edward J. Epstein. Foto: Reprodução
Capa do livro Three Days In May, de Edward J. Epstein


Ligia Hougland - Direto de Washington -
Há cerca de um ano, a imprensa mundial foi dominada por notícias sobre o caso de acusação de assalto sexual feita pela camareira Nafissatou Diallo, do hotel Sofitel, em Nova York, contra um dos homens mais poderosos do planeta. Dominique Strauss-Kahn, o prestigiado diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) estava prestes a anunciar sua candidatura à presidência da França. Mas o caso DSK, como ficou conhecido, foi, aos poucos, revelando ser mais complexo do que parecia.
Cheio de ingredientes de grande apelo, como sexo, poder e política, o caso despertou o interesse do célebre jornalista investigativo americano, Edward Jay Epstein, autor de livros polêmicos sobre o assassinato de John F. Kennedy, entre outras obras, e constante farejador de notícias não reportadas pela imprensa. O trabalho investigativo de Epstein resultou no livro Three Days in May (Três dias em maio, em tradução livre).
Edward Jay Epstein
Em entrevista exclusiva ao Terra, Epstein fala nos aspectos curiosos do caso DSK, inclusive o desaparecimento do Blackberry para uso oficial do ex-diretor gerente do FMI, o possível envolvimento do hotel Sofitel e dos serviços de inteligência da França, além da má condução da justiça pela cidade de Nova York.
Terra - Por que o caso de acusação de assalto sexual e prisão de Dominique Strauss-Kahn, em Nova York, no ano passado, despertou seu interesse?
Epstein - O caso não despertou meu interesse quando ouvi as primeiras notícias, pois eu nem sabia bem quem Strauss-Kahn era. O jeito que a imprensa - o New York Times, por exemplo - deu a notícia parecia que era simplesmente um caso de um executivo poderoso ter molestado uma mulher.
Terra - Então, por que o senhor resolveu investigar o caso, depois de saber mais?
Epstein - O que despertou minha suspeita é muito simples. Nosso mundo mudou, e smartphones, como o Blackberry, informam a posição global do usuário a cada segundo. Tenho um amigo que é proprietário da Blackberry Research in Motion (RIM) e, quando fiquei sabendo que o telefone de Strauss-Kahn havia desaparecido, achei que talvez eu conseguisse localizá-lo, o que renderia uma história interessante. Quando contatei meu amigo, descobri que o telefone de Strauss-Kahn nunca tinha saído da suíte do hotel. Além disso, o telefone havia sido desativado 25 minutos depois de Strauss-Kahn sair da suíte. Isso quer dizer que outra pessoa havia entrado no quarto e desativou o telefone dele. A partir disso, analisei toda a situação e conclui que esse era um caso que envolvia não apenas um crime, mas dois. Havia o roubo de um telefone e um suposto assalto sexual. Depois de um tempo, o suposto assalto sexual desapareceu, pois os promotores decidiram abandonar o caso.
Terra - Na sua opinião, o ex-diretor gerente do FMI foi tratado de forma injusta em Nova York como consequência das acusações feitas pela camareira, Nafissatou Diallo?
Epstein - Falei com os promotores e eles me disseram que a suposta vítima Nafissatou Diallo tinha mentido para o grande júri. As pessoas podem mentir e ainda assim ser vítimas, é claro. Strauss-Kahn foi pronunciado réu com base no testemunho de uma única testemunha, e essa testemunha era a única prova que o grande júri tinha de um possível assalto, nada mais provava que isso tinha ocorrido. Conforme mais veio à tona, se descobriu que a testemunha não era uma pessoa que tinha um compromisso com a verdade e, possivelmente, havia cometido perjúrio (falso testemunho). Sem dúvida, houve uma má execução da Justiça. Ninguém deve ser posto na cadeia e pronunciado réu com base em falso testemunho. Não havia motivo para presunção da culpa de Strauss-Kahn, pois a credibilidade da única testemunha, de acordo com os promotores, não resistiria a nenhum tipo de escrutínio.
Terra - E foi a partir daí que seu trabalho de jornalismo investigativo começou?
Epstein - Eu me interessei em investigar como esse caso se desenvolveu de modo a prejudicar DSK. Todos têm direito a ser considerados inocentes, até o contrário ser provado. Nesse caso, esse homem era diretor gerente do FMI, ex-ministro do governo francês e um cidadão respeitado. Não existia motivo algum para ele não ter sido solto mediante pagamento de fiança. Strauss-Kahn foi preso por motivos políticos ou para impressionar a opinião pública. A carreira de Strauss-Kahn foi destruída e ele perdeu o direito de concorrer a presidência da França.
Terra - O senhor acredita que Strauss-Kahn foi vítima de uma armadilha?
Epstein - Isso é complicado, depende muito do contexto de "armadilha". Acredito que ele estava sendo seguido e estava sob vigilância. O serviço de inteligência francesa estava seguindo ele com o objetivo de reunir informações que poderiam ser usadas durante a campanha presidencial, disso eu tenho certeza. Seja o que for que tenha acontecido no Sofitel, logo que a camareira fez sua reclamação, aconteceram coisas com o objetivo de assegurar que a reclamação fosse encaminhada à polícia de uma maneira que levaria à prisão de DSK no aeroporto. Tudo isso foi controlado. O promotor recebeu informações de representantes do governo francês que levou à recusa de liberdade mediante fiança a Strauss-Kahn. O caso contra ele foi orquestrado por pessoas que tinham informações obtidas por vigilância a fim de destruir sua carreira.
Terra - O que faz com que o senhor tenha tanta certeza disso?
Epstein - Falei com diversos gerentes de hotéis da mesma classe e tamanho do Sofitel, em Nova York, sobre o que fariam em circunstâncias semelhantes a do caso DSK. Todos me disseram que a primeira coisa que fariam seria levar a camareira para uma sala privada, eles não a deixariam sentada no corredor por uma hora. Depois disso, chamariam alguém de Recursos Humanos, que explicaria à camareira o que aconteceria se ela prosseguisse com a reclamação e as consequências legais e outras para ela. Os gerentes com quem falei ficaram chocados que o departamento de Recursos Humanos e nem mesmo o gerente do Sofitel falaram com a camareira.
O que aconteceu é que a camareira, de acordo com o que podemos ver nos vídeos do hotel, relata a história diversas vezes, o que pode ser interpretado como se alguém estivesse ensaiando ou revisando o que ela contava. E a camareira conta o ocorrido em frente aos dois homens que parecem estar lidando com o caso (Derek May, segurança e representante de sindicado, e Brian Yearwood, chefe de engenharia). O estranho é que, depois de chamarem a polícia, os dois homens dançam em celebração. Mas os gerentes de hotel me disseram que seria um desastre para o Sofitel, em termos de relações públicas e imagem, se a polícia fosse chamada.
Portanto, a última coisa que o pessoal de segurança faria é celebrar que a polícia foi chamada. É importante lembrar que, naquele momento, eles ainda nem sabiam se a camareira estava dizendo a verdade ou não, e Strauss-Kahn é um dos hóspedes mais importantes do hotel. Esses dois homens tinham que ter algum motivo para celebrar dançando. Talvez durante o processo civil se fique sabendo o motivo para isso, apesar de eles dizerem que não lembram o motivo da celebração. Acho que é uma indicação de que esses dois funcionários, ou pelo menos um deles, acharam que receberiam algum tipo de bônus pela camareira ter optado por chamar a polícia.
Terra - O senhor suspeita que a camareira foi orientada pelo pessoal de segurança do hotel Sofitel sobre o que dizer à polícia?
Epstein - É muito interessante observar que a mentira que Diallo contou ao grande júri é que ela não tinha entrado no quarto 2820 (em frente à suíte 2806, onde se hospedava Strauss-Kahn). Mas, na realidade, ela entrou naquele quarto várias vezes naquele dia, três vezes antes do incidente e novamente depois disso. Por que ela mentiu especificamente sobre isso para o grande júri, promotores e polícia? Se observamos o vídeo de quando ela está se preparando, ensaiando ou repetindo uma história, nossa curiosidade desperta sobre o que ela estaria sendo solicitada a falar sobre o caso. Isso não sabemos, pois o vídeo não tem áudio. Mas sabemos que o pessoal de segurança do hotel tinha os registros de entrada nos quartos e não os forneceu aos promotores até seis semanas mais tarde. Isso é apenas uma coincidência ou o pessoal do hotel pediu que Diallo não mencionasse o quarto 2820?
Terra - O senhor acha que há uma ligação entre a camareira e o desaparecimento do Blackberry usado por Strauss-Kahn para assuntos relacionados ao FMI?
Epstein - Ela pode estar ligada a isso. Ela pode ter pego o Blackberry, o escondido em algum lugar na suíte ou poderia haver outra pessoa na suíte ao mesmo tempo em que ela estava lá.
Terra - Recentemente, o senhor entrevistou Strauss-Kahn em Paris. Qual foi sua impressão dele?
Epstein - Ele está bem. Estava bem vestido, não parecia deprimido.
Terra - Strauss-Kahn tem planos de retornar ao serviço público?
Epstein - Acho que ele, sem dúvida, está ansioso por volta a trabalhar, seja no setor público quanto no privado.
Terra - Alguns jornalistas, como Christopher Dickey, do website de notícias The Daily Beast, dizem que o seu livro provoca o público com informações que levam a teorias de conspiração, mas que, na verdade, não provam nada. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Epstein - As pessoas podem dizer o que quiserem. Eu forneço as informações que descubro e não sou um profissional do mundo jurídico que precisa desenvolver um caso. Levanto perguntas sobre o que ocorreu nos bastidores do hotel e mostro que Strauss-Kahn estava sob vigilância e que os promotores indicaram que a justiça foi mal aplicada. Algumas pessoas, como Dickey, afirmam conclusões que não se encontram no meu livro. Essas pessoas dizem que eu chego a conclusões sem ter provas quando a conclusão é, na verdade, delas. Mas acho que o caso DSK teve um contexto político.
Especial para Terra

SILAS DE OLIVEIRA O GRANDE POETA DO CARNAVAL

Do jongo ao samba-enredo

Hoje, 20/5, faz 40 anos  que o carnaval perdeu seu maior poeta, Silas de Oliveira (1916-1972), autor de versos magistrais ainda hoje cantados pelo povo. Um deles é o clássico Aquarela Brasileira, samba-enredo do Império Serrano no carnaval de 1964.

"E o asfalto, como passarela, será a tela do Brasil em forma de aquarela..."



Algumas de suas obras:

  1. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholA Lei do Morro
  2. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholAmor Aventureiro
  3. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholApoteose Ao Samba
  4. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholAquarela Brasileira
  5. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholHeróis da Liberdade
  6. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholImpério Tocou Reunir
  7. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholMeu Drama (senhora Tentação)
  8. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholNa Água do Rio
  9. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholOs Cinco Bailes da Corte
  10. Tradução Português Tradução Inglês Tradução EspanholPernambuco Leão Do Norte


Silas de Oliveira

Silas Oliveira de Assumpção
4/10/1916 Rio de Janeiro, RJ
20/5/1972 Rio de Janeiro, RJ

Biografia



Compositor.
Nasceu no subúrbio de Madureira.
Filho do professor e pastor protestante José Mário de Assumpção e de Jordalina de Oliveira de Assumpção, moradores da Rua Guaxima, em Vaz Lobo.
Foi professor e trabalhou na escola fundada por seu pai, "Colégio Assumpção", na Avenida Marechal Rangel, número 553, hoje Avenida Edgard Romero. O nome da escola foi dado em homenagem a um político muito popular na época, benfeitor daquela área.
Faleceu enquanto apresentava dois de seus mais famosos sambas-enredo no Clube ASA, em Botafogo, bairro do Rio de Janeiro, em roda de samba promovida pelo também compositor Mauro Duarte. Foi velado na Associação de Escolas de Samba. Na ocasião do enterro, o presidente da Portela, Natal da Portela (Natalino José do Nascimento), sugeriu que fosse cantado seu samba "Heróis da Liberdade", que passou a ser executado em funerais de sambistas.
Seu nome foi dado a principal rua da favela do Morro da Serrinha: "Rua Compositor Silas de Oliveira", no morro que divide os subúrbios de Vaz Lobo e Madureira. 

Dados Artísticos

Escondido de seu pai, frequentava as rodas de samba e de jongo ao lado de Rufino, Mestre Fuleiro, Olímpio Navalhada, Aniceto do Império e Mano Elóy, este último pai-de-santo e jongueiro respeitado.
Em 1934 compôs, com Mano Décio da Viola, o primeiro samba intitulado "Meu grande amor". Por essa época, Mano Décio Viola o levou para a escola de samba Prazer da Serrinha, que posteriormente, em 1947, se tornaria o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Império Serrano. Começou tocando tamborim e passou a ser diretor de bateria. Seu primeiro samba para escola foi "Sagrado amor" (c/ Manula).
Na década de 1940 corrigia os erros nas letras dos sambas que os compositores da escola mandavam para as pastoras aprender a cantar.
Com Mano Décio da Viola compôs o samba-enredo "Conferência de São Francisco", em 1945.
Em 23 de março de 1947, juntamente com Mano Décio da Viola, Fuleiro, Rufino, Sebastião de Oliveira, entre outros, fundou o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Império Serrano. Aprendeu com o diretor de harmonia na época, Antônio dos Santos - O Mestre Fuleiro -, a tocar tamborão (versão grande do tamborim).
Em 1950 o Império Serrano desfilou com o samba-enredo "Batalha Naval do Riachuelo" (c/ Mano Décio da Viola e Penteado). No ano seguinte, em 1951, o samba "Sessenta e um Anos de República" (c/ Mano Décio da Viola), inspirado em Getúlio Vargas, classificou a escola em primeiro lugar no desfile.
No ano de 1953 com a composição "O Último Baile da Corte Imperial - Ilha Fiscal", em parceria com Waldir Medeiros, a escola classificou-se em segundo lugar. No ano posterior, em 1954, o Império Serrano desfilou com o samba enredo "O Guarani", de sua autoria em parceria com Mestre Fuleiro e João Fabrício.
Em 1955 a escola desfilou com a composição, de sua autoria, "Exaltação a Duque de Caxias", parceria com Mano Décio da Viola e João Fabrício. Neste mesmo ano, teve a primeira música, "Rádio patrulha" (c/ J. Dias e Marcelino Ramos), gravada por Heleninha Costa, em 78 rpm, pela Copacabana. A composição fez sucesso no carnaval de rua neste mesmo ano e ainda no carnaval do ano posterior.
Em 1956 seu samba-enredo "O Caçador de Esmeraldas" (c/ Mano Décio da Viola) classificou a escola em primeiro lugar.
No ano de 1957 "D. João VI", samba enredo de sua autoria em parceria com Mano Décio da Viola e Penteado, classificou a Império Serrano em segundo lugar no desfile daquele ano.
Em 1960 o samba "Medalhas e Brasões" (c/ Mano Décio da Viola) dividiu o primeiro lugar com outros quatro sambas.
No ano de 1964 compôs para o Império Serrano o samba enredo "Aquarela Brasileira", obtendo para a escola o quarto lugar no desfile, sendo este o seu maior sucesso e um dos sambas mais executados de todos os tempos. No ano seguinte, tirou novamente o quarto lugar com "Os cinco bailes da corte" (c/ Dona Ivone Lara e Bacalhau). No mesmo ano, fez parte do grupo "Samba Autêntico".
Em 1966 com o samba "Exaltação à Bahia" em parceria com Joaci Santana, alcançou o terceiro lugar no desfile oficial. No ano seguinte, ainda de parceria com Joaci Santana, obteve o segundo lugar com o samba "São Paulo, chapadão da glória". Neste mesmo ano de 1967 Elizete Cardoso no disco "Viva o samba!", lançado pela gravadora Copacabana, interpretou de sua autoria "Meu drama" (c/ Joaquim Laurindo).
Em 1968 o samba "Pernambuco, Leão do Norte" conseguiu o segundo lugar. Este samba, aliás, foi gravado nos Estúdios do MIS (Museu da Imagem e do Som), pelo próprio Silas de Oliveira no LP "As escolas cantam seus sambas de 1968  para a posteridade", sendo este o primeiro disco que reuniu todos os sambas das escolas em um mesmo ano, produzido pelo então diretor do Museu da Imagem e do Som, Ricardo Cravo Albin, para a própria instituição. Neste mesmo ano compôs com Walter Rosa o samba "Legados de Getúlio Vargas", para a peça "Dr. Getúlio, sua vida, sua glória", de Ferreira Gullar e Dias Gomes, encenada no Teatro Leopoldina em Porto Alegre, sob a direção de José Renato.
O ano de 1969 foi o último em que a escola desfilou com um samba seu, "Heróis da liberdade" (c/ Mano Décio da Viola e Manoel Ferreira)
, gravado posteriormente por Elza Soares com sucesso.
Em 1990, no LP "Felicidade", Neguinho da Beija-Flor incluiu de sua autoria "Aquarela brasileira" e "Os cinco bailes da história do Rio" (c/ Ivone Lara e Bacalhau).
Em 1996 em CD lançado pelo selo Atração Fonográfica o cantor Renato Braz interpretou de sua autoria "Meu drama", música em parceria com Joaquim Laurindo.
No ano de 2002 Martinho da Vila incluiu "Heróis da liberdade" em seu novo disco "Voz e coração", lançado pela gravadora Sony Music. Neste mesmo ano Dudu Nobre no disco "Chegue mais" interpretou também "Meu drama".
Lançado no ano de 2011 pelo Selo Discobertas, do pesquisador Marcelo Fróes em convênio com o Selo ICCA (Instituto Cultural Cravo Albin), o box "100 Anos de Música popular Brasileira" é integrado por quatro CDs duplos, contendo oito LPs remasterizados. Inicialmente os discos foram lançados no ano de 1975, em coleção produzida pelo crítico musical e radialista Ricardo Cravo Albin a partir de seus programas radiofônicos "MPB 100 AO VIVO", com gravações ao vivo realizadas no auditório da Rádio MEC entre os anos de 1974 e 1975. Beth Carvalho participou do CD volume 7 regravando o samba "Heróis da liberdade" (Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira).
De 1950 até a sua morte, compôs 14 sambas-enredo para o Império Serrano, fazendo com que a escola obtivesse várias colocações com seus sambas.
Entre seus intérpretes estão Roberto Ribeiro, Jorginho do Império, Elizeth Cardoso, Dudu Nobre e Elza Soares, além de seu parceiro mais constante, Mano Décio da Viola

Meu Drama (Senhora Tentação)
(Silas de Oliveira)

Sinto abalada minha calma
E embriagada minh'alma
Efeito da tua sedução
Oh! Minha romântica senhora tentação
Não deixes que eu venha sucumbir
Neste vendaval de paixão

Jamais pensei em minha vida
Sentir tamanha emoção
Será que o amor por ironia
Deu-me esta fantasia
Vestida de obsessão?


A ti confesso que me apaixonei
Será uma maldição?
Não sei...


Aquarela Brasileira

Vejam esta maravilha de cenário
é o episódio relicário
que o artista num sonho genial
escolheu para este carnaval
e o asfalto como passarela
será a tela.
do Brasil em forma de aquarela.
Passeando pelas cercanias do Amazonas
encontrei vastos seringais
no Pará, a ilha de Marajó
e a velha cabana do Timbó
caminhando ainda um pouco mais
deparei com lindos coqueirais
estava no Ceará, terra de Irapuã
de Iracema e Tupã.
Fiquei radiante de alegria
quando cheguei à Bahia
Bahia de Castro Alves, do acarajé
das noites de magia do candomblé.
Depois de atravessar as matas do Ipu
assisti em Pernambuco
a festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
na arte na beleza e na arquitetura
feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
do Leste por todo o Centro-Oeste
tudo é belo e tem lindo matiz
o Rio dos sambas e batucadas
dos malandros e mulatas
com seus requebros febris.
Brasil, essas nossas verdes matas
cachoeiras e cascatas
de colorido sutil
e este lindo céu azul de anil
emolduram em aquarela o meu Brasil.
Lá rá rá rá rá
Lá rá rá rá rá

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Fonte: pesquisa militanciaviva com Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira