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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

EM NOME DOS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA



Confira aqui a entrevista à Revista Isto é com os escritores norte-americanos, que denunciam as entranhas da espionagem no Brasil.

Em nome dos EUA
Jornalistas contam em livro as tramas de Nelson Rockefeller, do missionário Townsend e da CIA para conquistar a Amazônia e a América Latina
Kátia Mello
Carlos Magno
Colby e Charlotte Estratégias americanas contra Getúlio Vargas e Jango

O silêncio dos missionários americanos diante dos genocídios cometidos contra os índios brasileiros na Amazônia. 

O envolvimento da Agência Central de Inteligência (CIA) em operações estratégicas para derrubar os presidentes brasileiros Getúlio Vargas e João Goulart. Os verdadeiros propósitos do magnata Nelson Rockefeller na tentativa de conquistar a Amazônia para explorar petróleo e recursos minerais, estabelecendo vínculos com os ditadores brasileiros e apoiando os regimes autoritários na América Latina durante quatro décadas seguidas. Esses são alguns dos pontos explorados pelos jornalistas americanos Gerard Colby e Charlotte Dennett no livro Seja feita a vossa vontade (Record, 1.064 págs., R$ 70). Colby e Charlotte, que se apaixonaram em Porto Velho em 1979 durante a investigação, voltaram casados ao Brasil depois de duas décadas para recolher documentos para elaboração de um novo livro sobre a dizimação das populações indígenas da bacia amazônica. No encontro que tiveram com organizações brasileiras de Direitos Humanos na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro já tiveram a promessa de obter documentos sobre as chacinas dos índios cinta-largas na Amazônia.
ISTOÉ – Por que vocês resolveram escrever um livro sobre a trajetória de Nelson Rockefeller e do missionário protestante William Cameron (Cam) Townsend, que durante quatro décadas lutaram para conquistar a Amazônia?
Gerard Colby – Em 1975, eu estava trabalhando na ONU e conheci um jornalista argentino que tinha tido contatos com uma tribo peruana. Ele me falou que havia acusações de atrocidades contra os índios durante o processo de evangelização feito pela organização missionária ultraconservadora Summer Institute of Linguistics (SIL), conhecida no Brasil como Tradutores da Bíblia Wycliffe e liderada por William Cameron Townsend. Essa organização fora contratada por Nelson Rockefeller para pacificar tribos sul-americanas em terras ricas em petróleo e minerais raros, mesmo que, para salvar as almas dos nativos, fosse necessário destruir suas culturas.
ISTOÉ – Mas qual o paralelo entre o empresário Nelson Rockfeller e o missionário protestante Cam Townsend?
Colby – Ambos diziam que sua missão era combater o comunismo que se espalhava pela América Latina e evangelizar as populações indigenas. Mas os dois homens, na verdade, queriam conquistar a Amazônia. Um através do protestantismo e o outro pelo desenvolvimento dessa área, liderado pelas corporações americanas e sob as asas de Washington. Os dois acabaram tornando-se extensões do governo dos EUA, pontes econômicas entre Washington e a Amazônia.
ISTOÉ – Há um paralelo no livro entre a conquista do Oeste americano com a exploração da Amazônia pelos Rockefellers. Como é isso?
Colby – Na Amazônia, eles estavam interessados na extração de minérios e no desenvolvimento do agrobusiness. No Oeste americano, queriam buscar petróleo e extrair minérios. Em ambos os casos, os missionários foram muito úteis provendo informações sobre a resistência dos indígenas aos Rockefellers. Os industriais não planejaram os genocídios, mas a idéia deles sobre o progresso era a de que este deveria chegar de qualquer maneira e teria de ser feito através de corporações americanas. Portanto, só restava aos índios integrarem-se a esse sistema.
ISTOÉ – Em que momento os princípios religiosos ficaram de lado, dando vez ao genocídio?
Charlotte Dennett – Houve um momento de virada na vida dos dois, de Nelson Rockefeller e de Townsend, quando eles ficaram mais envolvidos com a expansão americana no Exterior e começaram a tomar atitudes mais pragmáticas no tratamento dos indígenas. E quando o império Rockefeller se expandiu, ficou inevitável o conflito com os índios. Um de seus principais objetivos era a extração de recursos da Amazônia. E Rockefeller queria alcançar o sucesso como o coordenador de Assuntos Americanos do governo do presidente Franklin Roosevelt. Isso significava extrair a borracha e minerais da Amazônia com o máximo de apoio dos governos locais. Ou seja, quando ele se aproximou das populações indígenas, já não estava mais interessado em promover seus valores, seus direitos. E com Townsend aconteceu a mesma coisa nessa busca fanática de atingir as tribos com os ensinamentos bíblicos até o ano 2000.
Imagem Página
ISTOÉ – O banqueiro brasileiro Walter Moreira Salles era um elo entre Rockefeller e o Brasil?
Colby – Moreira Salles era o grande canal de Rockefeller. Encontraram-se pela primeira vez quando Moreira Salles era embaixador do Brasil nos Estados Unidos, em 1953. Foi quando Rockefeller descobriu que o brasileiro gostava de fazer negócios e tinha muito dinheiro para isso.
ISTOÉ – Qual a ligação de Nelson Rockefeller com a CIA?
Colby – Como presidente do Grupo Especial do Conselho Nacional de Segurança, ele conhecia todos os segredos da CIA e suas atividades, incluindo tentativas de assassinatos, experimentos de controle da mente, envolvimentos em golpes.
Charlotte – A maior parte dos americanos desconhece esses aspectos de Rockefeller. Eles lembram dele como o governador de Nova York que morreu nos braços da sua amante. Não têm a menor idéia desse outro lado que faz uma ligação entre governo e seus interesses empresariais na América Latina. A opinião pública americana também não sabe ao certo de seus envolvimentos políticos, como o fato de ele ter sido conselheiro do presidente Harry Truman e conhecer os mecanismos da guerra psicológica.
ISTOÉ – Qual era a extensão desse envolvimento de Rockefeller com a guerra psicológica?
Charlotte – Se você quer ter recursos naturais e expandir seus negócios, precisa do serviço de inteligência. Precisa saber com quem está lidando e quais são os obstáculos que irá enfrentar. E fica claro no livro que Rockefeller obteve um considerável avanço em seus negócios depois de conseguir essas informações como coordenador das políticas interamericanas. Sua grande missão durante a Segunda Guerra Mundial era identificar onde estava concentrada a força dos inimigos, no caso os italianos, os japoneses e os alemães, para depois liquidar com esses poderes e substituí-los pelo poder econômico e militar americano.
ISTOÉ – Quais eram suas táticas?
Colby – Em cada país, incluindo o Brasil, Rockefeller instaurou um conselho local administrativo formado por empresários dos países latinos e empresários americanos que nesses países residiam. Eram essas pessoas que passavam a ele informações sobre como atuar no país e como implementar seus programas. Mas o mais importante era como ganhar suporte dos governos para seus projetos. Esses contatos que ele fazia se estenderam para a área militar, como com o general Eurico Gaspar Dutra, que foi operacional no golpe de 1945 contra o presidente Getúlio Vargas. Quando assumia cargos públicos, Rockefeller estabelecia contatos que depois ele usava como empresário.


 continua...

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