Sexta-Feira, 18/10/2013
Ana Carolina encontrou
dificuldades por causa da greve dos professores, mas não desiste da vaga
em Artes Visuais e estuda em casa. A nove dias da prova do Enem,
a rotina de estudos das gêmeas Monike e Mônica Soares, 19 anos, tem
sido intensa. As irmãs estudam dois turnos – manhã e tarde - em um cursinho preparatório em Belém e ainda dedicam parte da noite para revisar o conteúdo ensinado na escola.
“As duas semanas que antecedem a prova é o
período mais intenso de todos. Não podemos perder o ritmo. Quanto mais
tempo nos dedicarmos aos estudos, mais chance teremos de passar”, avalia
Monike.
A jovem, que já concluiu o ensino
médio, vai prestar vestibular pela segunda vez. E não quer repetir o
episódio do ano anterior. "Fazendo uma comparação com o ano passado, eu
me sinto hoje muito mais preparada para encarara a prova. Na primeira
vez, eu não fiz curso preparatório e ainda tinha que dividir as minhas
horas de estudo com as avaliações da escola. Agora é diferente. O meu
ritmo de estudo é muito maior por conta das aulas de reforço no
cursinho”, afirma a estudante, que assim como a irmã concorre a uma vaga
do curso de Enfermagem na Universidade Federal do Pará.
Candidata a uma vaga no curso
de Artes Visuais na UFPA, a estudante Ana Carolina dos Anjos, 19 anos,
segue em um ritmo diferente das gêmeas. Aluna de escola pública e longe
da sala de aula há quase um mês por causa da greve dos professores, a
jovem reconhece as dificuldades na preparação para o Exame Nacional do
Ensino Médio, mas mesmo assim não desiste do sonho de entrar na
universidade. “Eu sei que existem pessoas com uma estrutura de
preparação para o Enem muito maior que a minha, mas isso não diminui a
minha vontade em querer encarar a prova. Pelo contrário. Mesmo afastada
da escola e sem poder estudar em um cursinho por questões financeiras, a
minha vontade de fazer um curso superior é imensa. E é essa vontade que
me move”, garante a estudante, que ainda cursa o segundo ano do Ensino
Médio.
Moradora do bairro do Mangueirão, em Belém,
a jovem aproveita as horas vagas em casa para colocar em dia os estudos
para a prova. “Como eu estou há três semanas sem aula, a única forma
que eu encontrei para não perder o ritmo de preparação do Enem foi
estudar em casa. Além dos livros, eu utilizo a internet e assisto a
videoaulas e telejornais para ter um melhor embasamento dos conteúdos
que serão usados na prova”, ressalta a estudante.
Mesmo enfrentando dificuldades com a falta
de aulas, Carolina diz que a greve dos professores é o reflexo da falta
de estrutura das escolas. “A realidade do sistema público de educação no
país é muito ruim. Tanto para quem ensina como para quem aprende. Por
isso eu defendo a greve. Não basta apenas estudar, temos que ter uma
escola com o mínimo de estrutura e dignidade”.
A Secretaria de Estado de Educação foi contactada pelo DIÁRIO, mas não deu retorno.
Aulão e solidariedade na revisão final
Mais de 500 estudantes que irão fazer a
prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos próximos dias 26 e 27
participaram de uma revisão ministrada por professores experientes da
rede pública e privada. O “aulão” que aconteceu na Universidade Federal
do Pará (UFPA) foi para ajudar alunos das comunidades carentes e escolas
públicas, que não foram preparados devidamente para a realização do
Enem. Além disso, mais de meia tonelada de alimentos arrecadada durante a
revisão vai ajudar uma creche e a ONG de mulheres escalpeladas.
Essa foi a quarta edição do projeto iniciado
este ano por dois graduandos do 4º semestre de Direito pela UFPA e que
também já são professores em várias escolas em Belém. O Grupo Sindicato,
denominado pelos professores Rodrigo Ribeiro, de química, e Gessandro
Vitorin, de história, apresentou a proposta da “Revisão Solidária” para a
direção da universidade, que abraçou a causa pelo Centro Acadêmico de
Direito e em parceria com o cursinho prévestibular “Só Testes”. A
universidade ofereceu o espaço e o material utilizado foi patrocinado
pelo curso.
Professor de química há oito anos na rede
estadual, Rodrigo Ribeiro, reconhece a deficiência do ensino público na
capacitação dos alunos que pretendem se submeter à prova para ingressar
no ensino superior. “Nosso objetivo é ajudar os alunos de comunidades
carentes, por que sabemos das dificuldades que eles enfrentam para obter
bons resultados em provas como essa”, explica.
De acordo com Rodrigo, durante a revisão
final, no dia 16 passado, os alunos responderam a uma bateria de
exercícios de matemática, língua portuguesa, química, história e física,
disciplinas que correspondem a 75% do Enem. Dicas e os principais
assuntos que os estudantes irão encontrar na prova também foram
ensinados.
“Todos os professores convidados a ministrar
as aulas abraçaram a causa e não estão ganhando nada, desde a primeira
etapa. Na verdade, é uma corrente, onde o espírito da solidariedade
prevalece”, acrescenta Rodrigo.
Joana Vieira, professora de língua
portuguesa, foi uma das convidadas a ajudar na revisão. Para ela, é
muito gratificante contribuir para o conhecimento desses estudantes.
“Sabemos das dificuldades dos alunos de classes mais baixas, oriundos da
escola pública. Na redação, por exemplo, esse problema parece ser maior
por que eles não são incentivados a ler e, quem falha na leitura falha
na linguagem e consequentemente também falha na redação. E nessa prova, a
redação vale mil pontos, equivalente ao peso de uma área de
conhecimento que agrega mais de uma disciplina”, detalha.
Paula Castro, 20, agradece o apoio dos
professores. “Eles são experientes e dão dicas que vão nos ajudar na
hora da prova. Isso é o mais importante”, diz. Na terceira etapa da
revisão, em setembro, mais de 350 brinquedos foram doados para crianças
carentes da região de Peixe-Boi.
(DOL)
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