Mauro é um amigo querido. Nossas famílias costumam se encontrar e,
particularmente eu, adoro ouvir o que ele pensa. Ele é um crítico atento
à política praticada no Rio de Janeiro.
Nesta segunda-feira,
acabou indo à passeata de protesto dos professores do Rio, marcada para
acontecer a partir das 17h na Candelária. Foi a pedido de sua filha,
Cecília, de 11 anos, que há tempo desejava manifestar seu apoio aos
professores da cidade.


E lá foram os dois, pai e filha, se
solidarizar com os manifestantes. Permaneceram no meio dos professores
até que fogos começaram a explodir. Mas, antes, viram milhares de
pessoas na Avenida Rio Branco, em paz, reivindicando seus direitos.
Mauro também fotografou Cecília e uma amiga protestando ao lado dos mestres.
Já em casa, foram conferir na televisão o que tinha acontecido depois que saíram do Centro.
O
que viram no noticiário, conta Mauro, era focado em baderneiros que
quebravam a cidade e enfrentavam a PM. Nada foi dito do movimento
importante dos professores, ou sobre o que eles pedem para garantir uma
educação pública de qualidade. Tudo se resumia a um quebra-quebra.
Professores, crianças, público em geral, sequer foram citados nas
reportagens. Assim, para quem não esteve na passeata, o que houve,
segundo o noticiário, foi mais um episódio lamentável.



A
passeata, ao contrário, foi um sucesso. Apenas no final, descambou para
violência, e pelos mesmos que, através de uma cortina literalmente de
fumaça, escondem a essência dos movimentos que acontecem desde o mês de
junho. Suspeito eu que esses vândalos possam fazer parte de uma tropa
especial ligada ao governo, maior interessado em desqualificar os
protestos e reduzir o número de participantes dos próximos que estão por
vir.
Mauro desabafou, por mensagens a amigos, sua
revolta ao acompanhar o noticiário quando chegou em casa. Com sua
autorização, reproduzo literalmente seu protesto. Passo a palavra para o
meu amigo:
“Acabo de chegar da manifestação em favor da
Educação. Lá fui por insistência de minha filha de 11 anos, empolgada
com a possibilidade de se juntar aos seus professores e participar do
que imaginava ser um momento importante da história.
E foi
realmente um belo ato da cidadania. Crianças carregando cartazes, muita
ironia, muito humor e muita convicção da importância do evento. Essa foi
a verdadeira atmosfera da Avenida Rio Branco, totalmente tomada, da
Presidente Vargas à Cinelândia, na maior parte do tempo.
Chegamos
às 17 horas e fomos embora às 19:30 quando percebi que um grupo de
jovens que soltava rojões poderia comprometer a nossa segurança. Mas a
missão de todos que tomaram a Rio Branco, de protestar contra o prefeito
Eduardo Paes e o governador Cabral, em favor da Educação Pública, me
pareceu cumprida.
Chegamos em casa a tempo de assistir ao
telejornal e, como imaginei, aquele pequeno grupo de jovens que soltava
os rojões se apropriou do fim da manifestação. Mas o que mais chocou foi
não foram as cenas dos recorrentes quebra-quebras; foi o tom e a
cobertura da televisão.
Novamente, omitiram o principal, do
significado de tanta gente na rua, para mostrar desordem, lixeiras
incendiadas e vitrines depredadas, dando a entender que aquele fim de
tarde e início da noite foram um erro. Afirmaram que o Sindicato dos
Professores estimou 50 mil pessoas na rua e que a PM nem chegava a
tanto. Custo a crer que o Sindicato dos Professores tenha fornecido esse
número. Havia muito, muito mais.
Enfim… Não sou de partido
bolivariano nem adepto do patrulhamento da imprensa. Sou um cidadão
comum. Mas a cobertura da televisão sobre a manifestação ocorrida horas
atrás me deu náuseas. Imediatamente lembrei-me de uma frase repetida por
um querido amigo jornalista, uma frase do político americano Adlai
Stevenson: “a imprensa separa o joio do trigo e publica o joio”. Sérgio
Cabral e Eduardo Paes agradecem imensamente. Quem não esteve lá só viu o
joio.”




PpPor Edgard Catoira no site da Carta Capital
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