por Pablo Villaça, em sua página no Facebook
Depois de ser investigado continuamente por quase 40 anos - uma investigação sempre estampadanas capas de jornais e revistas interessados, como de hábito, em defender os interesses das corporações que os bancam -, este Blofeld do sindicalismo conseguiu, graças ao seu brilhantismo maquiavélico, evitar que qualquer prova acerca de suas décadas e décadas de malfeitos fosse descoberta. Nem o próprio Hercule Poirot conseguiria detê-lo, tamanho seu cuidado na concepção de seus milhares de esquemas.
Mas tudo chega ao fim. E Lula, enriquecido além do possível depois de tanto roubar, finalmente
tropeçou ao desistir de comprar um apartamento (que tolamente havia declarado previamente à
Receita), ao visitar o sítio de amigos (estupidamente às claras, sem esconder de ninguém) e,
principalmente, ao permitir que sua esposa comprasse um barquinho de pesca de menos de 5 mil
reais (e pateticamente com nota fiscal no próprio nome).
Por sorte, os Woodward-Bernsteins que compõem a equipe da Foxlha conseguiram descobrir esta
compra (sorrateiramente feita com emissão de nota fiscal no nome verdadeiro de dona Marisa) e -
ainda mais chocante - comprovaram que o caminhoneiro que entregou o barquinho tinha nada menos
do que 25 anos de profissão (como destacaram na chocante matéria que renderá a eles o Pulitzer por
terem derrubado o ex-presidente).
É um alívio saber que nossa imprensa sabe priorizar o que merece destaque: a revista Veja, que um
É um alívio saber que nossa imprensa sabe priorizar o que merece destaque: a revista Veja, que um
dia será eternizada em sua própria versão de Spotlight (título provisório: Boimatlight), fez uma
matéria fabulosa cuja manchete resume, por si so, o imenso apuro jornalístico do veículo:
"Publicitária presa disse ter ouvido ‘zum-zum-zum’ sobre tríplex de Lula no Guarujá".
Ah, o "zum-zum-zum", esta prova que consta de todos os Códigos Penais como a mais
Ah, o "zum-zum-zum", esta prova que consta de todos os Códigos Penais como a mais
inquestionável das evidências.
O ZumZumZumGate, como será conhecido pelas gerações futuras, acertadamente ganhou as páginas
do jornalismo brasileiro no lugar de helicópteros com 500 kg de cocaína, de certos aviões dos
Estados de SP e MG que foram usados para voos particulares de amigos e da esposa de certos
governadores, de testemunhos repetidos sobre o mineiro "chato das propinas" e, claro, de contratos
sem licitação feitos pela gestão de Alckmin para comprar 200 milhões anuais de merenda escolar.
Nossos barões da mídia sabem que tucanos são pré-anistiados e, portanto, não fazem o leitor perder
tempo lendo notícias que não levarão a nada. São gentis assim.
Por outro lado, quando o roteirista dos clássicos modernos O Candidato Perfeito e Até que a Sorte os
Separe 3 declara que o governo federal "cerceia críticas", ninguém aponta a aparente contradição:
seus filmes tiveram captação de recursos aprovada pela Ancine. E ainda bem que não fazem isso,
pois poderiam acabar levando o leitor a acreditar que o governo NÃO está implantando uma ditadura
comunista no país. Sim, ela está sendo implantada há 14 anos, mas isto é apenas prova da
incompetência de seus líderes.
Como apreciador do bom jornalismo, fico encantado ao perceber como a imprensa brasileira foi de
“Lula era o cabeça do esquema na Petrobras” a “mulher de Lula comprou barquinho de
pesca”. E fico esperando, ansioso, pelas manchetes que virão a seguir:
"Lula teria matado ao menos 200 minhocas ao longo dos anos; barquinho de pesca foi utilizado
para atirar cadáveres na água."
"PF intima peixe para depor: “Lula matou e comeu minha família”; esposa teria ajudado a
cozinhar os corpos."
"Esposa de Lula comprou vara de pescar; vendedor com 32 anos de profissão relembra: “Ela
ainda pediu desconto”."
E aguardo, ansioso, pelo discurso que será feito pelo repórter da Foxlha ao receber seu segundo
Pulitzer por sua matéria investigativa que provará que Lula mentiu ao afirmar ter pescado peixe de
18 kg.
É claro que poderia haver outra explicação para tudo isso, mas hesito em abraçá-la, já que implicaria
em aceitar algo revoltante:
Que o jornalismo brasileiro virou fanfiction tucana.
Que o jornalismo brasileiro virou fanfiction tucana.
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