Madeira que gera carvão para a indústria metalúrgica, que gera impostos, que gera devastação e lucro para muitos |
Por Charlison Corrêa
A cada ano, cerca de 30 milhões de metros cúbicos de madeira são
extraídos da Amazônia. Em 2009, foram identificadas 2.227 empresas que
realizavam a exploração, e uma receita bruta de 4,94 bilhões de reais,
sendo o Estado do Pará responsável por 43% do montante.
Em regra, a
atividade se estrutura a partir da grilagem de terra, da expulsão de
trabalhadores rurais, e da derrama de sangue de lideranças do movimento
campesino.
Na grande maioria das vezes, a exploração de madeira é feita sem
autorização e sem o plano de manejo florestal. Na Amazônia, estima-se
que cerca de 80% da extração anual de madeira seja de origem ilegal. E
quando legalizada, conta com a frouxidão da fiscalização do Estado.
Massacre de Eldorado do Carajás no Pará |
Para ilustrar esse quadro, ocorreu um caso emblemático em novembro de
2009 em Santarém, onde ribeirinhos e indígenas atearam fogo em duas
balsas carregadas de madeira no rio Arapiuns.
Em nota, os manifestantes
exigiam a demarcação de suas terras, e a imediata expulsão das
madeireiras.
As balsas haviam sido retidas pelos manifestantes há um mês. (Foto: Portal Notapajos.com)
Mais de 3 mil metros cúbicos de madeira foram queimados. (Foto: Portal Notapajos.com)
Índios da etnia Borari e Arapium destacavam a omissão do governo, e
acusavam a Secretaria de Meio Ambiente do Pará de permitir o manejo
irregular do território, do qual reivindicam como posse dos povos
tradicionais.
Lideranças indígenas e ribeirinhas na praia de São Pedro durante a reunião com MPF
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Em entrevista concedida ao portal EcoAmazôn, alguns meses antes da
queima das balsas, a então diretora do Ideflor, Raimunda Monteiro,
afirmou que o Estado estava procurando meios de negociação e conciliação
entre as partes, haja vista que os interesses dos madeireiros e dos
movimentos sociais não eram contraditórias, pois os empresários
reconheciam os direitos das comunidades como primordiais.
No entanto, ao contrário do que afirmou Raimunda Monteiro, na prática,
não há como conciliar interesses tão divergentes. O discurso da então
diretora do instituto, em síntese, fazia coro com o projeto histórico de
ocupação da Amazônia, inaugurado, sobretudo, durante o regime militar.
A apropriação do território na Amazônia acontece, principalmente, por
atividades econômicas altamente capitalizadas e voltadas para a
exportação. Esta é a base em que se assentam os conflitos. Não há como
conciliar interesses tão divergentes pela fórmula básica: incentivos
econômicos para uns, e depois de feito o estrago, políticas reparatórias
para outros. A conciliação de interesses nessas circunstâncias consiste
numa derrota para os movimentos sociais.
Garimpo de ouro não mecanizado na floresta amazônica |
Podemos dizer que os problemas da Amazônia, os fundamentais, já estavam
definidos e postos em equação pelo menos 40 anos atrás. A exploração
mineral, a pecuária, a extração de madeira, e mais recentemente o avanço
da fronteira agrícola representam a continuidade do mesmo projeto.
É importante ressaltar, que a velocidade de destruição da floresta - e
os protagonistas por tal destruição - têm variado, mas é cada vez mais
importante o papel das madeireiras nesta degradação.
No que tange as políticas públicas e ambientais para solucionar o quadro
das ilegalidades, o que se observa é uma enorme ineficiência na
fiscalização e na punição dos crimes ambientais na Amazônia.
As frentes pioneiras, por conseqüência, abocanham cada vez mais os
territórios dos povos tradicionais. É necessário uma ofensiva dos
movimentos sociais, para enfrentar as forças do capital. Como dizia
certa frase dos índios Mundurukus. Nossa Terra, nossa luta!
Conciliar, significa baixar a cabeça!
[i] O autor é diretor da UES, estudante de Gestão Ambiental na UFOPA e militante do Juntos! Por outro Futuro!
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